Militares israelenses patrulham arredores de unidade da ONU em Gaza (Jack Guez/AFP)
Repórter
Publicado em 9 de outubro de 2025 às 13h38.
O conflito atual entre Israel e Hamas, na Faixa de Gaza, está perto de um acordo de paz, mediado pelo presidente Donald Trump. A guerra atual entre israelenses e palestinos dura dois anos, mas as raízes da crise vêm de décadas.
O confronto entre judeus e palestinos envolve diferenças religiosas, ocupações questionadas, ataques por ambos os lados, influência de terceiros e pontos sensíveis sobre a autodeterminação dos povos na região. Veja a seguir um resumo da história da principal crise do Oriente Médio
Até a Primeira Guerra Mundial, a região que engloba a Palestina, Gaza e o território onde Israel se instalaria estava sob controle do Império Otomano.
Ao abastecer os revolucionários árabes com armamentos e enviar seus próprios soldados para a região, os britânicos foram capazes de derrubar os otomanos em 1918 e tomaram o controle da área.
Os britânicos haviam feito um acordo secreto com a França para dividir o Oriente Médio após a derrota do Império Otomano. Assim, os franceses ficaram com o controle da região onde hoje estão Síria e Líbano, e os ingleses, com a Palestina, a Jordânia e o Iraque.
Havia a promessa de que os árabes poderiam estabelecer um Estado na região da Palestina, mas os britânicos decidiram, em 1923, dividir a região em duas partes, sendo que os judeus poderiam se estabelecer em 25% do território.
Os judeus ocuparam a região séculos atrás, e possuem ali lugares sagrados para sua religião, especialmente em Jerusalém.
Com isso, muitos colonos judeus chegaram à região nos anos 1920. Parte deles defendia ideologias como o direito histórico dos judeus a Israel e a remoção total dos árabes. Esses colonos se tornaram líderes da comunidade judaica na região.
Em oposição, os líderes árabes declararam os imigrantes inimigos. Assim, protestos e revoltas violentas de 1920 a 1929 resultaram em mortes e tensões elevadas entre os dois povos.
Durante o início dos anos 1930, após a morte de um influente líder pelas mãos dos britânicos, uma revolta em larga escala se desencadeou. Os britânicos, com apoio da polícia e das forças armadas dos judeus, foram capazes de reprimir brutalmente a Revolta Árabe de 1936, o que resultou em pelo menos 10% da população adulta árabe ferida, morta ou exilada. Com isso, a habilidade de resistência da Palestina foi fortemente afetada.
Durante a Segunda Guerra, milhões de judeus foram mortos pela Alemanha nazista. Ao mesmo tempo, milhares deles fugiram para a região então da Palestina. Após o conflito, o Reino Unido abriu mão do controle da região e o repassou à recém-criada Organização das Nações Unidas.
A entidade propôs, em 29 de novembro de 1947, uma solução de divisão de terras entre israelenses e palestinos, que controlariam o território do qual o Reino Unido abriu mão. A proposta pretendia que Jerusalém ficasse como uma cidade neutra e a criação de dois estados.
A proposta, no entanto, foi rejeitada pelos palestinos. Com apoio de outros países árabes, eles invadiram o território designado para Israel, e começou uma guerra, em 1948. Israel, no entanto, venceu o conflito e passou a ocupar mais territórios do que a divisão inicial. Os palestinos acabaram divididos em dois blocos: a Cisjordânia e a faixa de Gaza.
A tensão prosseguiu nos anos seguintes. Em 1967, na Guerra dos Seis Dias, Israel invadiu e passou a ocupar a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, além da região do Sinai, que pertencia ao Egito, e as colinas de Golã, ao norte de Israel, que eram da Síria
Em 1973, a Síria e o Egito iniciaram uma ofensiva contra Israel para retomar os territórios perdidos. O conflito foi chamado de Guerra do Yon Kippur. Israel venceu o conflito e manteve o controle das áreas. A guerra teve um efeito global: países árabes elevaram o preço do petróleo para retaliar o Ocidente pelo apoio a Israel, o que deu origem a uma crise econômica em vários países.
Em 1978, Egito e Israel assinaram um acordo de paz, e o Egito reconheceu a existência de Israel.
As décadas seguintes foram marcadas por intifadas, o termo árabe para revoltas e protestos. Palestinos revoltados contra as ações de Israel passaram a executar ações para tentar expulsá-los. Israel mantinha o controle de áreas palestinas, de onde só sairia em 2000.
A primeira intifada durou de 1987 a 1993 e foi iniciada pelas baixas condições de vida, ataques a palestinos e à habitação israelita em território árabe.
Ao mesmo tempo, as negociações de paz entre os dois lados avançaram. Em 1993, foram fechados os acordos de Oslo, pelos quais Israel se comprometeu a se retirar das regiões disputadas pela Palestina e permitiu o retorno de líderes palestinos exilados. Houve avanços, e a Autoridade Palestina se estabeleceu e passou a assumir funções de governo, mas sem ser um Estado reconhecido internacionalmente.
Esse processo, no entanto, foi questionado pelos dois lados. O primeiro-ministro Yitzhak Rabin foi assassinado por um extremista de direita, contrário às negociações, em 1995.
Em 2000, começou uma segunda intifada pelos palestinos, que travou as conversas de paz. Ela durou até 2005, quando o primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, retirou suas tropas e colonos de Gaza.
Após tensões políticas dentro da Palestina com o partido político Fatah, a organização terrorista Hamas conseguiu maioria nas votações parlamentares de 2006 e, com o tempo, tomou conta de Gaza.
O Hamas fez diversos ataques contra Israel desde então. O maior deles ocorreu em 7 de outubro de 2023, quando o Hamas, grupo que controla Gaza, invadiu Israel, matou 1.219 pessoas e sequestrou 251. Em seguida, Israel invadiu Gaza para buscar os reféns e acabar com o poder de ataque do Hamas.
Mais de 66.000 pessoas foram mortas em Gaza desde o início da guerra, segundo números do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas. Os dados são questionados por Israel e seus aliados, mas considerados confiáveis pela ONU.