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Entenda a guerra que matou 10 mil pessoas em apenas dois anos

Relatório da ONU revelou o saldo do conflito entre Ucrânia e separatistas pró-Rússia. Saiba como está a situação hoje no leste ucraniano

Guerra no leste da Ucrânia (Getty/Getty Images)

Guerra no leste da Ucrânia (Getty/Getty Images)

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Clara Cerioni

Publicado em 18 de dezembro de 2016 às 07h00.

Última atualização em 19 de dezembro de 2016 às 12h55.

São Paulo - O conflito armado no leste da Ucrânia, que em março completará três anos, matou quase 10 mil pessoas, das quais 2 mil eram civis. Os números alarmantes foram divulgados no começo deste mês em um relatório da ONU sobre o tema que avaliou a situação entre 2014 e 2016.

Apesar das diversas negociações de cessar-fogo entre a União Europeia (UE) e a Rússia, o embate parece estar longe de chegar ao fim.

Nem mesmo os movimentos da UE das últimas semanas em se aproximar da Ucrânia, liberando a entrada dos seus cidadãos sem a necessidade de visto e ratificando o acordo de associação do país, devem impactar nos rumos dessa guerra que, segundo os especialistas, está congelada.

Atualmente, os grupos armados mantêm o controle das autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk, que ficam no leste da Ucrânia e fazem fronteira com a Rússia. No entanto, não avançam e nem retrocedem em suas conquistas.

Para entender o conflito que provocou essa, que foi classificada por especialistas, como a pior crise nas relações entre Rússia e o Ocidente desde a Guerra Fria, EXAME.com reuniu pontos-chaves do embate. Acompanhe:

Origem da guerra

No final de 2013, uma onda de protestos tomou conta de Kiev, capital da Ucrânia, após o então presidente Viktor Yanukovich rejeitar um acordo de cooperação com a UE, que poderia resultar na inclusão da Ucrânia como um dos membros do bloco.

Poucos meses depois, Yanukovich foi deposto por forças de seu próprio governo, que não reconheciam a sua legitimidade enquanto líder do país. As motivações que deram origem ao conflito, no entanto, têm raízes históricas que datam a sua independência da URSS em 1991.

Angelo Segrillo, autor do livro Os Russos, da editora Contexto, e professor de história da Universidade de São Paulo (USP), explica que para entender o que acontece na Ucrânia é necessário pensar no conceito de multinacionalidade.

“A nacionalidade de um ucraniano é determinada pelo que chamamos de direito de sangue, ou seja, não tem relação com o país em que se nasce, mas sim com a origem familiar. Isso significa que, pela proximidade geográfica, existem na Ucrânia muitos russos de sangue”, esclarece. E aqui é um dos pontos essenciais na compreensão das raízes desse conflito: a identidade dos povos.

Yanukovich, então presidente da Ucrânia, tem raízes russas. Ele foi deposto durante as manifestações e sucedido por Petro Poroshenko, de etnia ucraniana. Poroshenko, por sua vez, não foi reconhecido como líder legítimo por uma parcela de ucranianos de origem russa, habitantes do leste do país. 

"Quando a revolução derrubou um presidente eleito, os ucranianos de origem russa se sentiram ofendidos e reivindicaram a separação de território. A ideia era anexá-los à Rússia", diz Segrillo.

O que cada lado quer

Para colocar fim ao conflito, a Ucrânia, apoiada pelos Estados Unidos e União Europeia, quer recuperar a autonomia do governo nas áreas dominadas pelos separatistas, mesmo com concessões de maior autonomia para Donestsk e Luhansk. Além disso, pede a retirada das tropas russas de seu território.

Já os rebeldes pró-Rússia, apoiados pelo governo de Vladmir Putin, reivindicam o reconhecimento das repúblicas populares enquanto países, o não desarmamento das forças separatistas e a saída dos soldados ucranianos da região.

Tentativas de acordo

Em setembro de 2014, meses depois que os confrontos começaram, as forças do governo da Ucrânia e os separatistas decidiram interromper a violência e libertar os prisioneiros.

O cessar-fogo, entretanto, nunca vigorou por inteiro: os rebeldes tentaram tomar o aeroporto de Donetsk – considerado um ponto estratégico e simbólico no conflito – e em janeiro de 2015, conseguiram dominá-lo.

Logo depois, em fevereiro do mesmo ano, os presidentes da Rússia, Ucrânia, Alemanha e França se reuniram em Minsk, Belarus, e anunciaram o “Acordo de Minsk”. As negociações pediam uma zona desmilitarizada, para a retirada em segurança dos civis, e uma maior autonomia para os separatistas pró-Rússia.

Entretanto, mostrou o relatório da ONU, essas tratativas falharam e, segundo revelaram as investigações, os dois lados “continuam utilizando armas proibidas e não tomam suficientes precauções para evitar a destruição de serviços básicos como escolas, creches e hospitais”.

Situação atual

Além das 10 mil mortes, o conflito já deixou quase 30 mil feridos ao longo dos anos. A população civil é a maior vítima.

De acordo com a ONU, residentes das áreas de conflito vivem hoje sob ameaça permanente de minas terrestres e os rastros de explosivos deixados no campo contaminaram áreas usadas para a agricultura. Essas pessoas são impedidas de se locomoverem dentro do país, uma vez que não há transporte público que atravesse a linha de separação entre a área controlada pelos rebeldes e aquela nas mãos do exército ucraniano.

A condição dos prisioneiros de guerra também é foco de preocupação da entidade. A ONU alertou para as condições em que vivem os presos em Lugansk e Donetsk. Há indícios de que podem estar sendo submetidos a sessões de torturas e outros tipos de tratamento desumano, como violência sexual ou de gênero.

 

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