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Entenda a estratégia da oposição para tentar provar vitória na Venezuela

Atas de votação viraram questão central na disputa, porque governo Maduro ainda não as revelou

Edmundo González, candidato à Presidência da Venezuela, e Maria Corina Machado, líder da oposição (Federico Parra/AFP)

Edmundo González, candidato à Presidência da Venezuela, e Maria Corina Machado, líder da oposição (Federico Parra/AFP)

Publicado em 30 de julho de 2024 às 16h00.

Última atualização em 30 de julho de 2024 às 16h05.

Há meses, a oposição da Venezuela vinha se preparando para uma situação que já viveu diversas vezes nos últimos 20 anos: perder uma eleição sob suspeita de fraude.

Desta vez, nas eleições de 2024, após ter dois candidatos impedidos de disputar a Presidência, a oposição buscou se concentrar em uma estratégia: reforçar o número de observadores em cada seção eleitoral, para ter acesso aos resultados e fazer uma apuração paralela, se necessário.

Assim, os partidos contrários ao presidente Nicolás Maduro buscaram ter pessoas em cada uma das mesas de votação, para acompanhar o processo ao longo do dia e poder denunciar irregularidades. 

Ao final do dia de votação, como é feito também no Brasil, cada seção faz um fechamento de mesa e emite um boletim, que indica os resultados dali. A lei eleitoral venezuelana determina que essa contagem pode ser acompanhada pelo público. Com isso, o plano da oposição era coletar o maior volume possível do número de atas e, assim, poder fazer uma contagem paralela.

"Vínhamos buscando treinar, ao longo dos últimos meses, as pessoas para que fossem fiscais de mesa, para que estivessem ali e não saíssem até que tivessem o resultado final. E que pudessem, inclusive, fazer uma foto da ata para evitar a alteração dos resultados", diz Corina Yoris, candidata que foi barrada da disputa, em conversa com a EXAME, antes da votação.

Yoris conta, no entanto, que houve entraves. "O Conselho Nacional Eleitoral determinava que os mesários fizessem cursos de capacitação online, mas houve pessoas que não conseguiram entrar. O cadastro foi bloqueado e a senha nunca pode ser recuperada", afirma. 

Após a votação, houve muitos relatos entre oposicionistas de que policiais ou aliados de Maduro tentaram impedir a presença de membros da oposição nos fechamentos de mesas.

Na noite de segunda-feira, 29, Maria Corina Machado, uma das líderes da oposição, disse que a oposição ainda não conseguiu obter acesso a todas as atas, mas que com base nos documentos obtidos, Edmundo González teve 73% dos votos, e que o material estaria sendo disponibilizado a representantes internacionais. 

O governo Maduro restringiu a entrada de observadores internacionais. Apenas grupos pequenos da ONU e do Carter Center foram autorizados. "Com isso, a campanha de Edmundo González só podia contar com seus próprios observadores para verificar os resultados", disse Jason Marczak, vice-presidente do centro de América Latina do Atlantic Council.

Maduro não revelou atas de votação

Por outro lado, o governo Maduro não revelou os dados detalhados de votação, nem por estado ou seção eleitoral. Apenas deu um número geral, de que o presidente teria sido reeleito com 51% dos votos.

O CNE disse que sofreu um ataque hacker, do qual acusa a oposição de ter participado, e diz que os dados detalhados ainda serão revelados, sem precisar uma data.

A falta de transparência gerou queixas de vários governos, incluindo os dos Estados Unidos e do Brasil, que cobram a revelação dos dados. Em nota na segunda, 29, o Itamaraty disse em nota que "aguarda, nesse contexto, a publicação pelo Conselho Nacional Eleitoral de dados desagregados por mesa de votação, passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito". 

Após o CNE certificar a reeleição de Maduro, houve uma onda de protestos contra o resultado no país, com centenas de pessoas presas e repressão policial dura. O governo Maduro diz que os protestos são organizados por grupos de extrema-direita, para tentar dar um golpe e subverter a vontade popular. 

Quais os próximos passos na Venezuela?

Os próximos movimentos agora são incertos: caso o governo Maduro revele as atas e elas mostrem dados que confirmem sua vitória, haverá uma guerra de versões, com os dois lados defendendo informações divergentes. A oposição poderá tentar contestar ata a ata, mas isso levaria tempo e esforço. 

Ao mesmo tempo, o aumento de protestos a partir de segunda-feira coloca pressão extra sobre o regime. A eventual comprovação de fraudes nas atas pode estimular ainda mais manifestantes a irem as ruas, colocando Maduro em uma situação mais difícil.

Uma mudança de fato no poder só deve ocorrer, no entanto, se os militares, líderes de partidos aliados e setores da elite econômica da Venezuela deixarem de apoiar Maduro. A comprovação de uma eventual fraude poderia acelerar este processo, mas as denúncias e ações de perseguição à oposição ocorrem há anos, sem que Maduro perca esse apoio. 

A pressão externa, inclusive dos EUA, Brasil e dezenas de países, já se mostrou insuficiente. Em 2018, mesmo com suspeitas de fraude e falta de reconhecimento internacional, além da imposição de sanções, Maduro seguiu no poder.

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