Mundo

Entenda a crise que resultou no rompimento de países com o Catar

A medida reflete um descontentamento antigo pelo apoio do Catar a grupos islamitas que são considerados terroristas por outras nações

Catar: o impacto que essa cisão terá sobre o Catar depende das próximas medidas que serão tomadas (Streeter Lecka/Getty Images)

Catar: o impacto que essa cisão terá sobre o Catar depende das próximas medidas que serão tomadas (Streeter Lecka/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 5 de junho de 2017 às 14h37.

Última atualização em 5 de junho de 2017 às 15h35.

Dubai — A decisão de quatro nações árabes, Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos e Egito, de cortar relações com o Catar marca a culminação de anos de tensões entre a aliança histórica dos estados ricos em energia do Golfo Pérsico que compartilham fronteiras, heranças e uma forte aliança com os Estados Unidos.

A medida reflete um descontentamento antigo pelo apoio do Catar a grupos islamitas que são considerados terroristas por outras nações árabes, assim como o aumento da rivalidade entre a Arábia Saudita e o Irã.

O impacto que essa cisão terá sobre o Catar, onde está localizada a principal base militar dos EUA usada para lançar ataques aéreos sobre o Estado Islâmico, depende das próximas medidas que serão tomadas.

Segundo analistas, a recente visita do presidente americano, Donald Trump, à Arábia Saudita deu força para a posição dos países árabes de maioria sunita contra o Irã.

O Catar é um país pequeno, mas importante, pois nele encontra-se a base aérea al-Udeid, dos EUA, que serve como principal ponto de lançamentos de mísseis da coalizão liderada pelos americanos contra o Estado Islâmico no Iraque e na Síria.

Além disso, o Catar é o principal produtor de gás natural liquefeito e compartilha um vasto território subaquático com o Irã.

O Catar também tem papel importante na articulação com grupos com que outros governos evitam dialogar, como militantes xiitas do Iraque e grupos ligados à Al-Qaeda. O governo do Catar também mediou negociações entre o Taleban e o governo do Afeganistão.

Além disso, deu apoio à Irmandade Muçulmana no Egito, assim como a grupos islamitas na região, como o Hamas, que controla a Faixa de Gaza. O Catar ainda é o proprietário da agência de notícias Al-Jazira.

No momento, o Catar vive sob tensão com a Arábia Saudita. Há duas semanas, o governo do país divulgou que a agência de notícias estatal e sua conta oficial do Twitter teriam sido hackeadas para publicação de uma história falsa alegando que o Emir do Catar, Sheik Tamim bin Hamad Al Thani, teria afirmado que o Irã "é uma força islâmica regional que não pode ser ignorada".

A mídia dos países árabes vizinhos deu a notícia como verdadeira, ignorando as afirmações do Catar de que seria uma mentira. Além disso, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, o Bahrein e o Egito bloquearam o acesso em seus países à Al-Jazira.

Ao mesmo tempo, a mídia estatal da Arábia Saudita lançou uma campanha agressiva acusando o Catar de apoiar grupos terroristas como a Al-Qaeda e o Estado Islâmico, desestabilizando a região.

Ainda, os Emirados Árabes Unidos há tempos estão em disputa com o Catar devido ao apoio do governo do país a grupos islamitas no Golfo Pérsico e na Líbia. A Arábia Saudita e o Egito, além disso, veem a Irmandade Muçulmana como uma ameaça.

Como consequência dessas medidas, a economia do Catar pode sofrer a longo prazo, já que as ações devem afetar milhões de trabalhadores, imigrantes e expatriados que vivem entre esses países.

Expulsão

A Arábia Saudita concedeu 14 dias para que os residentes do Catar saiam do país e ordenou que os sauditas não residam, visitem ou passeiem pelo Catar. Além disso, os Emirados Árabes Unidos, Egito, Bahrein e a Arábia Saudita já suspenderem as relações diplomáticas com o Catar, que está retirando suas tropas da guerra no Iêmen, liderada pelos sauditas.

O Catar nega que apoia grupos terroristas na Síria ou em outras regiões, apesar dos repetidos esforços para apoiar grupos rebeldes sunitas que lutam para acabar com o governo sírio de Bashar Al-Assad.

Até o momento, o Catar não se mostrou disposto a dialogar com os países vizinhos. O Emir do país pode retaliar as medidas ao pedir para sair do Conselho de Cooperação do Golfo, composto por seis nações, além de refazer alianças estratégicas para tentar isolar a Arábia Saudita.

Há três anos, diversos países da região retiraram seus embaixadores do Catar por nove meses, devido ao apoio do país à Irmandade Muçulmana. Os detalhes de um acordo entre as nações que terminou com as tensões nunca foram tornados públicos, mas incluíam promessas de que o Catar não daria mais apoio ao grupo.

Fonte: Associated Press.

Acompanhe tudo sobre:Arábia SauditaCatarDiplomaciaEgitoEmirados ÁrabesOriente MédioTerrorismo

Mais de Mundo

Votação antecipada para eleições presidenciais nos EUA começa em três estados do país

ONU repreende 'objetos inofensivos' sendo usados como explosivos após ataque no Líbano

EUA diz que guerra entre Israel e Hezbollah ainda pode ser evitada

Kamala Harris diz que tem arma de fogo e que quem invadir sua casa será baleado