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Enquanto Otan se retira, aumentam vítimas no Afeganistão

Número de vítimas civis aumentou nos últimos meses, tendência que indica um cenário violento quando tropas da Otan saírem do país em 2014


	Soldado da Otan: na primeira metade deste ano morreram 1.319 civis, o que representa um aumento de 14% em relação aos primeiros seis meses de 2012, segundo relatório
 (Massoud Hossaini/AFP)

Soldado da Otan: na primeira metade deste ano morreram 1.319 civis, o que representa um aumento de 14% em relação aos primeiros seis meses de 2012, segundo relatório (Massoud Hossaini/AFP)

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Da Redação

Publicado em 31 de julho de 2013 às 09h33.

Cabul - O número de vítimas civis aumentou nos últimos meses no Afeganistão, principalmente entre mulheres e crianças, tendência que indica um cenário violento quando as tropas da Otan se retirarem do país em 2014, segundo um relatório apresentado nesta quarta-feira pela Missão das Nações Unidas no Afeganistão (Unama).

Enquanto as forças internacionais (Isaf) recuam, a guerra afegã se encontra em um dos momentos mais sangrentos desde seu começo, em 2001, com um aumento do número de mortos entre civis e as forças de segurança afegãs.

Na primeira metade deste ano morreram 1.319 civis, o que representa um aumento de 14% em relação aos primeiros seis meses de 2012, segundo o relatório semestral elaborado pela Unama. O número de feridos foi de 2.533, 28% a mais em relação ao mesmo período do ano passado.

O maior aumento ocorreu entre as mulheres, com 106 vítimas fatais e 241 feridas, o que significa um crescimento de 61%. No mesmo período, 231 crianças morreram e 529 ficaram feridas, 30% a mais que no ano anterior, acrescentou a Unama.

O organismo internacional explicou o aumento de vítimas entre mulheres devido ao crescimento dos enfrentamentos entre as forças de segurança afegãs e os insurgentes islamitas, que já representam a segunda causa de morte de civis, com 9% do total.

Os enfrentamentos diretos aumentaram como consequência da transição da segurança das mãos internacionais para as forças afegãs, cuja última fase começou em junho.


"Com a aceleração da transição de segurança e o fechamento de bases internacionais aumentaram os ataques dos elementos antigovernamentais", disse em Cabul a diretora de Direitos Humanos da ONU para o Afeganistão, Georgette Gagnon. Os analistas afegãos estão de acordo com o diagnóstico da ONU.

"A retirada internacional causou o aumento de civis e policiais mortos, enquanto diminuem as baixas das tropas da Isaf", disse à Agência Efe o analista político Ahmad Sayeedi.

Nos seis primeiros meses de 2013 morreram 95 soldados da missão da Otan no Afeganistão, o número mais baixo desde 2006, quando 75 militares perderam a vida no mesmo período, de acordo com o portal independente "iCasualties".

Ao mesmo tempo, 2.748 policiais afegãos morreram nos últimos quatro meses, uma média de 22 por dia, segundo o Ministério do Interior.

"O aumento de vítimas civis e policiais se deve à fraqueza e pouco profissionalismo das forças de segurança afegãs, que não têm o treinamento adequado", avaliou Sayeedi.

"Acho que continuarão aumentando as vítimas civis, já que as forças de segurança operam em zonas residenciais e os talibãs dependem muito dos artefatos explosivos", sentenciou o analista.

A detonação de artefatos explosivos foi a principal causa de morte de civis (35%), enquanto os ataques coordenados e os atentados suicidas representaram 17% das vítimas.


A Unama atribui a maioria das vítimas civis (74%) a ações da insurgência talibã e outros grupos opositores, 9% aos corpos de segurança governamentais e 12% aos enfrentamentos entre as forças pró e antigoverno. O restante (4%) se deveu a explosivos abandonados.

O relatório ressaltou um aumento dos ataques contra civis que trabalham para o governo, tribunais e líderes religiosos.

Em comunicado, os talibãs afirmaram que qualquer um que trabalhe para o Executivo do presidente Hamid Karzai é um alvo legítimo.

"Nunca consideramos civis aqueles que estão envolvidos diretamente na ocupação de nosso país e trabalham para organismos do inimigo", disse o porta-voz insurgente Zabihula Mujahid.

Apesar da maior parte das vítimas ser em função da insurgência, as mortes em operações da missão da Otan não são incomuns e causam atrito com o governo afegão.

Os ataques aéreos das forças da Otan são controvertidos e o governo afegão os proibiu em áreas próximas às zonas habitadas.

A limitação dos ataques aéreos poderia explicar a queda em 30% dos mortos civis (49) em bombardeios. O número de feridos neste tipo de ataque foi de 41.

Os bombardeios de drones (avião não-tripulado) dos Estados Unidos deixaram 15 mortos e sete feridos, segundo a ONU.

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