Agência de notícias
Publicado em 29 de janeiro de 2025 às 09h37.
Última atualização em 29 de janeiro de 2025 às 09h44.
Enquanto a América Latina começa a sentir os efeitos da ofensiva de Donald Trump contra imigrantes sem documentação nos EUA, o governo de Javier Milei, na Argentina, atacou o tema ao longo desta semana, anunciando a pretensão de construir uma cerca na fronteira com a Bolívia. A construção, de acordo com autoridades do governo federal argentino, faria parte de um plano mais amplo de controle de imigração — que, segundo o Ministério da Segurança do país, também irá alcançar o trânsito com o Brasil.
O "cercamento perimetral" com a Bolívia — como foi chamada a estrutura de contenção em documentos oficiais — é planejado para ser erguido no município argentino de Aguas Blancas, na província de Salta, que fica no extremo norte do país, às margens do rio Bermejo. Uma convocação de licitação para a construção do muro foi publicada no Boletim Oficial (publicação equivalente ao Diário Oficial no Brasil) da província de Salta. De acordo com o jornal argentino La Nación, a estrutura teria apenas 200 metros de comprimento — uma medida ínfima perto dos mais de 700 km de fronteira compartilhada entre os países.
A diretora de Vigilância e Controle de Fronteiras do Ministério da Segurança argentino, Virginia Cornejo, afirmou que a medida faz parte de um plano lançado pela ministra de Segurança (e ex-candidata à Casa Rosada), Patricia Bullrich, chamado Plano Güemes. O objetivo, explicou a diretora seria "combater os crimes federais na fronteira norte de Salta", incluindo o fortalecimento dos controles de travessia de fronteira para "prevenir atividades ilegais e melhorar a segurança dos moradores".
Autoridades do município argentino em que a construção pretensamente será executada afirmaram que a obra será financiada pelo governo federal e que será realizada em um trecho que vai do terminal rodoviário municipal até os escritórios da Direção Nacional de Migrações, na divisa com a cidade de Bermejo, na Bolívia. Ao menos inicialmente, haveria uma cerca "alta e forte", semelhante às vistas em campos de futebol, margeando o rio por onde pessoas dos dois países entram e saem todos os dias.
Em uma entrevista à Rádio Mitre, na terça-feira, Bullrich afirmou que o governo está comprometido a evitar que pessoas vindas de países vizinhos escapem da imigração. Embora tenha admitido que não há um plano estabelecido até o momento, a ministra afirmou que é um objetivo do governo aumentar o nível de controle em outros trechos da fronteira, incluindo com o Brasil.
"Além da Bolívia, planejamos expandir para outros pontos de fronteira. Vamos para a fronteira de Missiones com o Brasil, onde é possível atravessar andando por muitos pontos, e onde já tivemos sicários e problemas", afirmou.
Mais adiante na entrevista, Bullrich mencionou especificamente a cidade de Bernardo de Irigoyen como um ponto crítico, que justifica a adoção de medidas.
"É um ponto totalmente integrado, onde metade é da Argentina e a outra metade é do Brasil. Tanto lá como em Salvador Mazza [Salta] precisamos de um plano abrangente", acrescentou.
O governo da Bolívia condenou a proposição ainda no domingo, quando o tema começou a repercutir na Argentina. O Ministério das Relações Exteriores do país demonstrou preocupação e disse que qualquer medida unilateral "pode afetar a boa vizinhança e a coexistência pacífica".
"O Ministério das Relações Exteriores do Estado Plurinacional da Bolívia expressa sua preocupação com o anúncio do Governo da Argentina de instalar uma cerca de 200 metros na fronteira entre os dois países", diz o comunicado, que foi tornado público na rede social X. “As questões de fronteira devem ser abordadas por meio de mecanismos de diálogo bilateral estabelecidos entre os Estados para encontrar soluções coordenadas para questões comuns".
O Ministério das Relações Exteriores da Bolívia também anunciou que solicitaria informações sobre o assunto por meio de canais diplomáticos para tomar as medidas cabíveis.