Vista aérea da åçpoluição causada pela maré negra em Newport Beach, em 3 de outubro de 2021. (AFP/AFP)
AFP
Publicado em 4 de outubro de 2021 às 18h37.
Última atualização em 5 de outubro de 2021 às 10h51.
Um enorme vazamento de petróleo em alto-mar ameaçava nesta segunda-feira, 4, a fauna e as praias da Califórnia, um incidente que foi classificado pelas autoridades locais como uma "catástrofe ambiental".
Aves e peixes mortos, alguns com resquícios de óleo em seus corpos, apareceram nas praias de Huntington Beach. Estas foram fechadas pelas autoridades, que pediram a todos os moradores que se mantivessem longe das águas contaminadas, o que representa um duro golpe para a localidade, que também é conhecida como "Cidade do Surfe".
As praias poderão permanecer fechadas "durante semanas, até meses", advertiu a prefeita Kim Carr, ao acrescentar que temia um "potencial desastre ecológico" para a região.
Muitos moradores entrevistados por meios de comunicação locais reclamaram do forte cheiro de betume que se espalhava pelo ar.
No total, 24 quilômetros da costa ao sul de Los Angeles foram fechados, de Huntington Beach a Laguna Beach, e as autoridades também suspenderam a pesca na região.
O derramamento de 480.000 litros de óleo cru de pós-produção começou a vazar na manhã de sábado, 2, de um oleoduto conectado a uma plataforma petrolífera offshore, de acordo com as autoridades.
O diretor-geral da Amplify Energy Corporation, empresa sediada no Texas que explora o oleoduto por intermédio de sua subsidiária californiana Beta Offshore, garantiu que havia alertado à Guarda Costeira no sábado pela manhã, quando suas equipes detectaram um possível vazamento.
A empresa enviou um veículo comandado remotamente para examinar "mais de 2.400 metros de dutos [...] Vimos um ponto que acreditamos que é muito provavelmente a fonte" do vazamento, disse Martyn Willsher nesta segunda, em uma coletiva de imprensa em Huntington Beach.
"Os mergulhadores vão verificar o local esta tarde", acrescentou o diretor-geral, ao assinalar que nenhuma das inspeções anuais do oleoduto detectou qualquer sinal de desgaste nos tubos.
Como medida de precaução, a Amplify Energy fechou todas as instalações de produção e oleodutos da empresa na região.
A Guarda Costeira dos Estados Unidos, que coordena a resposta ao incidente, mobilizou diversas embarcações de limpeza. Até a tarde de domingo, 3, cerca de 12.000 litros de petróleo tinham sido retirados da água e cerca de 1.600 metros de barreiras foram instalados para conter o avanço da mancha de óleo.
O vazamento levou o senador da Califórnia Alex Padilla a insistir em seu pedido para encerrar as perfurações petrolíferas em alto-mar.
"Vimos repetidamente como os derramamentos de óleo em alto-mar são prejudiciais para nossos ecossistemas costeiros, assim como para a nossa economia", tuitou.
"Temos o poder de prevenir futuros derramamentos", acrescentou o senador.
Em uma coletiva de imprensa no domingo à tarde, as autoridades alertaram os moradores para não tocar ou tentar salvar qualquer vida selvagem, mas chamar as autoridades locais para alertá-los sobre os animais afetados pelo petróleo.
"Isso é simplesmente devastador para nossa vida marinha, nosso habitat, nossa economia, toda a nossa comunidade", disse a supervisora do condado de Orange, Katrina Foley, à emissora MSNBC no domingo.
"Nosso habitat natural, que passamos décadas construindo e criando, é danificado em um dia", lamentou.
Foley disse que foi informada de que as equipes de resposta haviam tampado o oleoduto e trabalhavam para consertá-lo, mas que ainda havia vazamento de óleo no domingo.
O vazamento começou perto da plataforma Elly, construída em 1980, e uma das 23 plataformas de perfuração de petróleo e gás erguidas em águas federais da Califórnia, relatou o jornal Los Angeles Times.
O desastre reacendeu o debate sobre a presença de plataformas petrolíferas e oleodutos muito próximos do litoral sul da Califórnia.
"O vazamento de petróleo [...] é tão trágico como evitável", disse Alan Lowenthal, o deputado democrata que representa a região no Congresso em Washington.
"Isso será devastador não só para a nossa fauna e ecossistemas marinhos mas também para nossas comunidades costeiras que subsistem da pesca, do turismo e do lazer" na região, acrescentou o político que representa o 47º distrito da Califórnia.
"Enquanto continuarem existindo essas plataformas e oleodutos, nossas comunidades costeiras continuarão ameaçadas por possíveis catástrofes como a que estamos vendo agora", frisou Lowenthal.
Os vazamentos de petróleo deixaram marcas na Califórnia durante décadas. As imagens de golfinhos mortos e cobertos de óleo e de praias enegrecidas no litoral de Santa Bárbara em 1969 provocaram uma reprovação generalizada.
Desde então, a Califórnia não concedeu mais permissões para perfurações de prospecção de petróleo.
No entanto, a jurisdição estadual se estende por apenas três milhas mar adentro, e as plataformas de petróleo e gás autorizadas pelo governo federal se espalham pela paisagem marítima da região, muitas delas facilmente visíveis a partir do litoral.
Os ambientalistas já alertaram em diversas ocasiões para a idade de algumas dessas instalações, que, segundo eles, estão oxidadas e mal conservadas.