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Energia nuclear deve manter ciclo de expansão, diz especialista

Para o presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear, Edson Kuramoto, crescimento do setor é uma caminho sem volta - e preparado para lidar com o pior

Até 2050, a energia nuclear pode responder por 24% de toda a eletricidade do planeta. (Getty Images)

Até 2050, a energia nuclear pode responder por 24% de toda a eletricidade do planeta. (Getty Images)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 16 de março de 2011 às 10h49.

São Paulo - Todo avião que cai apresenta uma possibilidade de se estudar as falhas e melhorar a técnica da indústria da aviação. Da mesma forma, o acidente na usina de Fukushima no Japão deve levar o setor nuclear à novas soluções de segurança por todo o mundo.

A afirmação é do presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), Edson Kuramoto, para quem a emergência atômica que se instaurou naquele país está longe de se tornar uma ameaça ao ciclo de expansão experimentado por esse tipo de geração energética nos últimos anos.

Diante dos acontecimentos recentes, o movimento conhecido como renascimento nuclear parece de fato estar com os dias contados. Principalmente, porque muitos países, alarmados com o episódio japonês, vêm demonstrando preocupações quanto à segurança de suas instalações nucleares.

Alguns países como Alemanha, Índia e Suíça já chegaram a suspender temporariamente novos projetos. Mas isso, segundo Kuramoto, não representa o sepultamento do setor nuclear. Pelo contrário. "O caminho da energia nuclear é sem volta, o mundo não vai abdicar do potencial que ela oferece e essa é uma oportunidade das indústrias se aperfeiçoarem", afirma.

Ele enfatiza que as usinas japonesas foram submetidas a dois eventos de magnitudes extremos, um seguido do outro, numa situação que pode ser considerada excepcional. "Mas a indústria núclear está sempre preparada para o pior", diz.

Segundo o especialista, no acidente em Fukushima, o preparo para lidar com cenários críticos reflete-se no trabalho empenhado dos técnicos em sanar ou mitigar ao máximo, desde o primeiro momento, as explosões na usina. Um preparo que também se reflete na maneira rápida e eficaz com que o governo japonês implementou os planos de emergência e de evacuação de civis.


O acidente nuclear no Japão, defende Kuramoto, vai servir à estudos de novas soluções de segurança e à possíveis melhorias nos procedimentos técnicos. Para ele, a reação aparentemente de recuo adotada por muitos países é, em verdade, uma atitude inteligente. "A tragédia no Japão exige, sim, uma atitude de revisão dos países, que podem transmutar a experiência negativa do acidente em melhorias para seus programas nucleares".

Opção pela energia nuclear não vai mudar

De acordo com o especialista, a opção pela energia nuclear por alguns países não vai mudar. Ele compara o episódio nuclear, classificado como nível 6, em uma escala que vai até 7, ao acidente petrolífero ocorrido no Golfo do México, em abril, do ano passado. "Foi uma tragédia sem precedentes, mas nenhum país deixou de prospectar petróleo no oceano", ressalta.

Atualmente, as 430 usinas nucleares em operação no muno responde por 16% da geração total de energia elétrica. O futuro, entretanto, aponta uma fatia maior de participação. Segundo o relatório World Energy Outlook 2010, da Agência Internacional de Energia (Aie), a geração nuclear pode, daqui a 30 anos, chegar a responder por até 24% da eletricidade do planeta.

Essa perspectiva de crescimento, segundo o presidente da Aben, não deve se alterar. Especialmente em tempos que as mudanças climáticas mobilizam governos a reduzir as emissões. "Essa é uma oportunidade para a energia nuclear, que não emite gases efeito estufa, aumentar seu espaço na matriz energética mundial".

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