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Encontro de Trump e Kim: publicidade ou avanço para a paz?

Durante um minuto histórico, Donald Trump pisou em solo norte-coreano, algo inédito para um presidente americano em exercício

Trump: o símbolo é importante para dois países que ameaçavam se aniquilar (Mike Theiler/Reuters)

Trump: o símbolo é importante para dois países que ameaçavam se aniquilar (Mike Theiler/Reuters)

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AFP

Publicado em 30 de junho de 2019 às 12h34.

O terceiro encontro entre Donald Trump e Kim Jong Un neste domingo na Zona Desmilitarizada entre as duas Coreias foi muito simbólico, mas analistas estão divididos sobre seu verdadeiro alcance: uma mera ação de publicidade ou um passo concreto em direção à paz.

A reunião, ocorrida no dia seguinte a um surpreendente convite do presidente americano ao norte-coreano, voltou a atrair atenção geral para a dupla. As expectativas andavam baixas desde sua segunda cúpula em Hanói, em fevereiro passado, diante de discordâncias sobre a desnuclearização de Pyongyang.

Os Estados Unidos exigem que a Coreia do Norte renuncie de forma definitiva a seu programa nuclear, enquanto o regime totalitário reclama como condição prévia o levantamento das sanções internacionais.

Durante um minuto histórico, Donald Trump pisou em solo norte-coreano, algo inédito para um presidente americano em exercício. O símbolo é importante para dois países que ameaçavam, mutuamente, se aniquilar apenas um ano e meio atrás.

Os poucos passos, apesar da ausência de progresso em relação à desnuclearização da Coreia do Norte, demonstram "a força de atração" de Pyongyang, avaliou Soo Kim, ex-analista da CIA.

"Kim não precisou mover um dedo para que Trump atravessasse a DMZ", a zona desmilitarizada entre ambas Coreias, afirmou. Ele só precisou agitar "um sedutor elixir com base em astúcia e retórica ameaçadora", declarou a especialista à AFP.

"Estamos assistindo a uma espécie de diplomacia do desfibrilador", avaliou Mintaro Oba, um ex-funcionário do Departamento de Estado americano. "O processo se mantém vivo por meio dos choques, mas sem tratar do problema de fundo".

Desde o fracasso da cúpula de Hanói, Pyongyang acusava Washington de ter agido de "má-fé" e tinha dado até o fim do ano para os americanos mudarem de postura.

As duas partes não estavam mais negociando oficialmente, e a Coreia do Norte gerou tensões no mês passado, quando lançou mísseis de curto alcance pela primeira vez desde novembro de 2017.

"Teatro"

O encontro deste domingo permite entrever um relançamento das discussões sobre a questão nuclear a nível de grupos de trabalho dentro de duas a três semanas, como anunciou Trump.

O bilionário nova-iorquino também declarou ter convidado Kim a viajar para os Estados Unidos.

Os resultados parecem mais consistentes do que era esperado diante do convite feito pelo Twitter no sábado, por um Trump que dizia apenas querer ver o norte-coreano para "apertar sua mão e dizer 'oi'".

O encontro tem o "potencial de relançar as negociações travadas", admitiu David Kim, do grupo de pesquisa Stimson Center.

Agora, contudo, as discussões a nível operacional serão cruciais. "O que nos falta é substância, não teatro", opinou David.

"Nova oportunidade"

Esse foi um "presente enorme de Kim para Trump", de acordo com Go Myong-hyun, analista do Instituto Asan de Estudos Políticos de Seul, ao lembrar que Washington não respondeu ao pedido de Pyongyang para retomar as negociações: um levantamento das sanções internacionais.

"A Coreia do Norte deu uma nova oportunidade para Trump ao manter viva a diplomacia graças ao vínculo pessoal" entre os dirigentes, avalia Go.

Mas também foi um presente para a Kim: a Coreia do Norte buscava, há muito tempo, receber a visita de um presidente americano.

Contudo, para um Trump em busca da reeleição em 2020 e um Kim que precisa desesperadamente de uma vitória, após o resultado humilhante de Hanói, esta terceira reunião foi curta demais.

"A Coreia do Norte e os Estados Unidos não têm tempo", explicou Koo Kab-woo, professor da Universidade de Estudos Norte-Coreanos de Seul.

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