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Embargo ao Irã ganha força na Ásia e Europa

O Irã nega ter a intenção de desenvolver armas atômicas, mas aumentam as especulações de que Estados Unidos e Israel poderiam recorrer a ações militares

Teerã diz que deve iniciar nesta semana o enriquecimento de urânio em uma usina subterrânea nos arredores da cidade sagrada de Qom (Atta Kenare/AFP)

Teerã diz que deve iniciar nesta semana o enriquecimento de urânio em uma usina subterrânea nos arredores da cidade sagrada de Qom (Atta Kenare/AFP)

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Da Redação

Publicado em 12 de janeiro de 2012 às 22h42.

Teerã - Os aliados dos Estados Unidos na Ásia e na Europa manifestaram nesta quinta-feira apoio a sanções contra o petróleo iraniano, mas ainda há temores sobre o impacto econômico da medida para o mundo, e Teerã disse que o eventual embargo não irá demover o país de manter um programa nuclear.

Um dia depois da morte de um físico nuclear iraniano vítima de um atentado, o presidente do Parlamento iraniano, Ali Larijani, disse que o programa atômico do país é forte demais para ser perturbado por assassinatos como esse, o quarto vitimando um cientista nuclear.

Um jornal próximo à elite clerical do Irã defendeu que autoridades israelenses sejam assassinadas em retaliação, e Olli Heinonen, ex-inspetor de armas da Organização das Nações Unidas (ONU), disse que uma nova usina iraniana, praticamente à prova de bombardeios, pode fornecer ao país dentro de um ano suficiente urânio enriquecido para a produção de uma bomba.

O Irã nega ter a intenção de desenvolver armas atômicas, mas alusões a prazos como esse estimulam as especulações de que Estados Unidos e Israel poderiam recorrer a ações militares contra o programa nuclear iraniano.

Um dia depois da morte do cientista nuclear Mostafa Ahmadi Roshan, de 32 anos, muitos iranianos manifestavam indignação pela violência e também pelas sanções econômicas impostas pelo Ocidente.

O Irã acusou governos estrangeiros, particularmente o de Israel, de orquestrarem o assassinato do físico. Israel, que tem um histórico de cometer ações como essa, não comentou as acusações, mas deve ficar em alerta contra possíveis represálias.

Teerã diz que deve iniciar nesta semana o enriquecimento de urânio em uma usina subterrânea nos arredores da cidade sagrada de Qom. Uma delegação da Agência Internacional de Energia Nuclear (AIEA, um órgão da ONU) deve visitar o Irã por volta de 28 de janeiro.


O presidente norte-americano, Barack Obama, sancionou no último dia de 2011 uma lei que impõe sanções a empresas que adquirirem petróleo iraniano, na esperança de que isso paralise o importante setor petrolífero do Irã e obrigue o país a abrir mão do programa nuclear.

Diante disso, os principais importadores começaram a assumir posições, dividindo-se entre manter as boas relações com Washington ou saciar sua sede pelo petróleo iraniano.

A ameaça de perturbação na oferta de petróleo do golfo Pérsico, por causa de um embargo ou de um conflito armado, faz com que a cotação do petróleo continue elevada. O barril do tipo Brent foi negociado a quase 114 dólares, alta de 1,5 por cento.

Na quinta-feira, o Japão, cuja economia já se ressente das restrições à energia nuclear por causa do acidente de 2011 na usina de Fukushima, prometeu medidas concretas para cortar a compra de petróleo do Irã, em resposta a um apelo do secretário norte-americano do Tesouro, Timothy Geithner, que fez visita a Tóquio.

Mas o apoio japonês teve ressalvas, e o ministro das Finanças, Jun Azumi, disse que o corte não será completo, pois isso "causaria imenso dano". O Japão importa do Irã cerca de 10 por cento do petróleo que consome.

O chefe de gabinete do governo, Osamu Fujimura, posteriormente tentou atenuar ainda mais as promessas de Azumi, dizendo que a redução das importações é apenas uma das várias opções sendo consideradas.

O primeiro-ministro japonês, Yoshihiko Noda, expressou a Geithner sua preocupação com o possível impacto das sanções dos Estados Unidos para a economia do Japão e do mundo todo.

Geither agradeceu a cooperação japonesa, um sinal encorajador para a política externa dos EUA depois que, numa escala anterior da viagem dele, a China rejeitou seus argumentos em prol das sanções.

Um empecilho à adesão dos governos asiáticos às sanções é a falta de alternativas ao Irã, segundo maior exportador da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), atrás da Arábia Saudita. Não está claro se Riad aceitaria aumentar sua produção e sua exportação para suprir a lacuna do petróleo iraniano.


O Japão já solicitou comprar mais petróleo da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos. O primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, começa no próximo fim de semana uma visita à Arábia Saudita, aos Emirados e ao Catar. O primeiro-ministro da Coreia do Sul, outro importante cliente do petróleo iraniano, parte na sexta-feira para os Emirados e Omã.

O ministro coreano Hong Suk-woo disse à Reuters que "é cedo demais para dizer" se Seul irá reduzir suas importações de petróleo iraniano. "Nossa posição básica é cooperar com os Estados Unidos", disse Hong.

A China, maior cliente do petróleo iraniano, não deu na quarta-feira pistas de que acatará as propostas norte-americanas destinadas a sufocar a economia da República Islâmica. Mas as autoridades dos EUA manifestaram otimismo, dizendo que vão prestar mais atenção às ações de Pequim do que às suas declarações públicas.

A China já reduziu suas aquisições de petróleo do Irã em janeiro e fevereiro devido a desacordos sobre preços.

A Índia também enfrenta pressão para reduzir o consumo de petróleo iraniano, mas autoridades e empresários demonstram relutância em fazer isso. Um ministro não identificado disse nesta quinta-feira que o país continuará mantendo relações comerciais com o Irã.

Preocupações europeias

Já a União Europeia se mostra mais simpática à posição dos EUA. Os ministros de Relações Exteriores do bloco já concordaram em princípio com a adoção de um embargo, e detalhes devem ser definidos numa reunião no dia 23.

Mas, mesmo na Europa -onde os governos em geral partilham das preocupações israelenses e norte-americanas com as ambições nucleares persas-, vários países buscam maneiras de limitar os prejuízos decorrentes do embargo.

"Esperamos uma adoção lenta e gradual do que acabará sendo um embargo completo", disse Mike Wittner, do banco Société Générale. "A Europa tem as mesmas preocupações que os EUA sobre sua economia frágil e uma disparada do preço do petróleo, talvez até mais."


Itália, Espanha e Grécia, países que estão no centro da crise da dívida na zona do euro, são também os principais clientes europeus do petróleo iraniano. Ultimamente, suas empresas têm prorrogado os atuais contratos de fornecimento, na esperança de pelo menos adiarem por alguns meses o impacto do embargo, disseram fontes do mercado à Reuters.

Diplomatas europeus relataram que está se firmando um consenso sobre um "período de graça" a ser concedido antes da entrada em vigor do embargo -que seria de seis meses para a compra de petróleo bruto, e três meses para produtos petroquímicos. Além do mais, dívidas contraídas pelo Irã junto a empresas europeias poderão continuar sendo pagas com petróleo, algo que será especialmente útil para a Itália.

Fontes diplomáticas e do mercado dizem que o período de graça daria mais tempo para que a Europa encontrasse fontes alternativas de petróleo, mas nada indica que isso será fácil.

Diplomatas já conversaram com a liderança saudita, que demonstrou disposição em suprir a oferta iraniana, mas há receios de que a produção do país estaria perto do limite da sua capacidade.

Além disso, Riad não tem razões para oferecer petróleo subsidiado a clientes como a Grécia, como faz o Irã. Temendo um calote, muitos operadores do mercado já pararam de vender seu produto a Atenas.

As autoridades gregas dizem que o Irã é a origem de até 40 por cento do petróleo usado no país, e que Atenas deseja manter esse comércio sob as mesmas condições de financiamento.

A UE também está planejando novas sanções ao setor financeiro do Irã, mas os governos estão divididos quanto a incluir ou não o Banco Central iraniano nessas medidas. Diplomatas dizem que França e Grã-Bretanha são favoráveis, e que a Alemanha se opõe, embora um diplomata alemão tenha negado que isso aconteça.

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