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Em sua primeira cúpula, May busca acalmar os ânimos sobre Brexit

May, no entanto, irritou muitos governos ao manifestar sua intenção de impôr controles migratórios aos cidadãos europeus

May: a tensão e a incerteza sobre o futuro da economia britânica têm levado a libra a mínimos históricos (Yves Herman/Reuters)

May: a tensão e a incerteza sobre o futuro da economia britânica têm levado a libra a mínimos históricos (Yves Herman/Reuters)

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AFP

Publicado em 20 de outubro de 2016 às 17h38.

A primeira-ministra britânica, Theresa May, tentará afastar os temores sobre os possíveis efeitos perniciosos da saída da União Europeia em sua primeira cúpula do bloco, quinta e sexta-feira, em Bruxelas.

May aproveitará o jantar de trabalho dos líderes europeus nesta quinta-feira para confirmar que planeja notificar oficialmente a saída até março, começando assim dois anos de negociações que culminarão na ruptura no início de 2019.

"Estou aqui com uma mensagem muito clara. O Reino Unido se está deixando a UE, mas continuará desempenhando um papel completo até sua saída e será um forte e confiável parceiro antes de sairmos", garantiu em sua chegada à cúpula.

May anunciou seu calendário no início do mês no congresso do Partido Conservador, que o restante dos líderes europeus elogiou.

No entanto, May também irritou muitos governos ao manifestar sua intenção de impôr controles migratórios aos cidadãos europeus, mantendo ao mesmo tempo "a máxima liberdade" de operar no mercado único do bloco.

Os líderes de vários países lhe lembraram que ambas as pretensões são incompartíveis, e advertiram Londres de que pagará um alto preço pelo Brexit.

A tensão e a incerteza sobre o futuro da economia britânica têm levado a libra a mínimos históricos.

May deixará claro a seus sócios que a decisão de sair da UE é irreversível, mas tentará convencê-los do interesse de conseguir "um processo suave, construtivo e ordenado" da saída, disse uma fonte de seu entorno.

Sondando os outros países

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que almoçará na sexta-feira May, afirmou que não haverá negociações antes que Londres notifique sua saída, ativando o Artigo 50 do Tratado de Lisboa.

A primeira-ministra britânica foi excluída da última cúpula da UE, em Bratislava, e um alto funcionário europeu afirmou que não haverá debate depois que May se dirigir aos outros líderes nesta quinta-feira, já que isso corresponde aos 27 sem o Reino Unido.

"Hoje não discutiremos sobre nossa futura negociação", confirmou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk.

Mas a primeira-ministra, que assumiu em julho após a demissão de David Cameron, tentará aproveitar o encontro para sondar potenciais aliados.

May já visitou Dinamarca, França, Alemanha, Holanda e Espanha, e manterá reuniões bilaterais em Bruxelas com seus pares Romênia e Estônia.

"O Reino Unido buscará desesperadamente que outros Estados-membros definam que estão dispostos a permitir nas negociações do Brexit", explicou o professor Iain Begg, da London School of Economics.

Em um sinal de complexidade das discussões que tem pela frente, May sinalizou na quarta-feira que poderia tentar estender o prazo das negociações, quando disse a seus deputados que levarão "dois anos ou mais".

No entanto, o presidente francês, François Hollande, alertou nesta quinta-feira que se Theresa May quer um "Brexit duro", que as negociações serão "duras", em referência a uma saída de Reino Unido sem chegar a acordos com seus sócios europeus.

'Ponha a casa em ordem'

O problema enfrentado por May é que nem sequer seu governo está de acordo em sua estratégia do Brexit, com uma parte de seus ministros advogando por uma ruptura sem concessões e outra buscando conservar o quanto for possível para proteger a economia.

Apesar do tom duro de May no congresso conservador, esta semana a imprensa informou que o governo poderia estar considerando pagar à UE para manter o acesso ao mercado europeu de indústrias-chave como o setor financeiro.

Sua estratégia poderá ser também afetada pelo o que a justiça decidir sobre a demanda para que o Parlamento tenha voz e voto na ativação do Artigo 50. A decisão da justiça é esperada para o final do ano.

Outra dor de cabeça para May é a Escócia, onde a maioria dos eleitores votaram por permanecer na UE e cujo governo regional, nacionalista, ameaça convocar um segundo referendo de independência se for obrigado a romper com Bruxelas.

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