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Em sistema prisional obsoleto, vagões russos são purgatório

Se as prisões russas são consideradas um inferno, os vagões penitenciários podem ser comparados ao purgatório


	Trem com ambientalistas do Greenpeace: "imagine 12 pessoas presas em câmaras de 3,5 metros quadrados sem janelas", disse subdiretor russo de prisões
 (Sergei Khitrov/Reuters)

Trem com ambientalistas do Greenpeace: "imagine 12 pessoas presas em câmaras de 3,5 metros quadrados sem janelas", disse subdiretor russo de prisões (Sergei Khitrov/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 26 de novembro de 2013 às 09h22.

Moscou - Se as prisões russas são consideradas um inferno, os vagões penitenciários - como aquele em que a Pussy Riot Nadezhda Tolokonnikova ficou durante 26 dias, enquanto era transferida para a Sibéria - podem ser comparados ao purgatório.

"Imagine 12 pessoas presas durante dias em câmaras de 3,5 metros quadrados sem janelas", exemplificou Valeri Sergueyev, subdiretor do Centro pela Reforma de Prisões (CRP).

Se o sistema penitenciário russo se humanizou com o passar do tempo, este não é o caso do processo de "etapirovanie" (mudança por períodos), no qual milhares de presos são transportados anualmente em vagões especiais até seu novo destino.

A viagem de transferência pode durar semanas ou até meses, já que as distâncias na Rússia chegam a milhares de quilômetros, motivo pelo qual os presos realizam paradas e pernoites em prisões preventivas especiais espalhadas por toda a "geografia penitenciária nacional".

"Eles podem permanecer durante semanas em celas de isolamento em prisões de passagem, onde as acomodações são ainda menores que em uma prisão normal, especialmente no que se refere aos cuidados médicos e à alimentação", ressaltou.

No entanto, essas prisões parecem hotéis em comparação com os vagões. Quando estão sendo transferidos nessas câmaras, os presos só podem ir duas vezes por dia ao banheiro, recebem água quente para o chá com conta-gotas e a ventilação é quase inexistente.

Devido à falta de espaço, já que podem levar até 50 quilos de pertences, os presos viajam sentados e precisam se curvar para dormir.

"É um sistema incivilizado herdado da rede de gulags (campos de trabalho) da União Soviética. A Suprema Corte ordenou limitar de 16 para 12 o número máximo de presos em um vagão, mas continuam sendo muitos", apontou.

Durante este processo, os internos permanecem incomunicáveis, já que a lei não obriga as autoridades a notificar as famílias sobre o paradeiro dos presos até que cheguem ao seu novo destino.

Sergueyev considera um vestígio medieval o fato de um preso desaparecer no "limbo penitenciário" durante semanas ou meses, já que isso dá margem para todos os tipos de arbitrariedades e abusos.


Quanto ao meio de transporte, ele garante que, em geral, os serviços penitenciários só recorrem às rodovias se a viagem tiver uma duração de menos de quatro horas, já que a rede de estradas na Rússia não é confiável.

Além disso, o transporte por ferroviário é muito mais barato do que utilizar as estradas, ou aviões, um meio de locomoção muito caro no país.

No caso de Tolokonnikova, a jovem integrante do Pussy Riot percorreu cerca de quatro mil quilômetros de trem da prisão na região da Mordovia, onde estava desde outubro de 2012, até a Krasnoyarsk, no coração da Sibéria.

O sigilo da operação e a falta de notícias sobre o estado de saúde de Tolokonnikova levaram as organizações de direitos humanos como a Anistia Internacional a pedir, no último dia 6, que o governo russo informasse seu paradeiro.

"Nadezhda viajou durante 26 dias, e esteve em prisões de passagem. Omsk, Tiumen e agora Krasnoyarsk. Ela está bem, se recuperando após algumas dificuldades devido à greve de fome", garantiu seu marido, Piotr Verzilov, às agências locais.

Segundo informações divulgadas esta semana, Tolokonnikova estaria internada no Hospital para Tuberculosos de Krasnoyarsk (KTB-1), a maior clínica que faz parte dos serviços penitenciários de toda Sibéria.

Verzilov considera que a longa duração da viagem e as condições da transferência de sua esposa foram uma punição por suas denúncias de abusos na prisão da Mordovia, que provocaram a abertura de uma investigação por parte do Comitê de Instrução.

No entanto, Mikhail Fedotov, presidente do Conselho de Direitos Humanos adjunto ao Kremlin, garantiu que esta prática é absolutamente legal e inclusive reconheceu que, apesar de saber desde o princípio o destino da jovem, não podia torná-lo público.

O defensor público, Vladimir Lukin, garantiu que Tolokonnikova foi transferida a Krasnoyarsk por estar recenseada na região, mas Sergueyev acredita que, assim como ocorreu com o empresário Mikhail Khodorkovski, o objetivo é afastá-la da vista pública.

Embora a população penitenciária tenha caído nos últimos anos para menos de 700 mil pessoas, e dezenas de prisões obsoletas tenham sido fechadas, Sergueyev considera que nem o governo nem a sociedade acreditam na retificação e na reinserção social dos presos.

"A maioria considera que uma vez preso, acabou. Nas prisões as pessoas não melhoram. O sistema quase militar instaurado nas penitenciárias russas prima pela disciplina e extermina o indivíduo", explicou.

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