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Em meio à violência e terrorismo, turcos voltam às urnas

O Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, islamita e conservador) vai tentar recuperar a maioria absoluta que mantinha desde 2002 quando chegou ao poder


	Manifestante curdo durante confronto com a polícia: O reinício da guerra em julho com a guerrilha curda PKK já deixou centenas de mortos entre soldados e polícias, combatentes curdos abatidos e civis
 (Reuters / Sertac Kayar)

Manifestante curdo durante confronto com a polícia: O reinício da guerra em julho com a guerrilha curda PKK já deixou centenas de mortos entre soldados e polícias, combatentes curdos abatidos e civis (Reuters / Sertac Kayar)

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Da Redação

Publicado em 29 de outubro de 2015 às 09h06.

As eleições legislativas antecipadas de domingo (31) na Turquia, as segundas desde junho, podem eleger um parlamento muito semelhante ao que originou o atual impasse político, em um país em profunda crise estrutural.

O Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, islamita e conservador) vai tentar recuperar a maioria absoluta que mantinha desde 2002 quando chegou ao poder sob a liderança do seu fundador e atual chefe de Estado, Recep Tayyip Erdogan.

Para concretizar esse objetivo, que as pesquisas de intenção de voto continuam a contrariar, o partido islamita centrou seu discurso na necessidade de defender a Turquia da “ameaça terrorista”, colocando as forças jihadistas e curdas no mesmo plano.

O AKP, que obteve 40,9% dos votos em junho (258 dos 550 deputados), se esforçam para recuperar pelo menos os 18 lugares que faltam para recuperar a maioria absoluta.

No entanto, algumas sondagens indicam que o partido de Erdogan e do atual primeiro-ministro, Ahmet Davutoglu, poderá recuar de novo na votação e preveem que a coligação de esquerda e pró-curda Partido Democráticos dos Povos (HDP, de Selahattin Demirtas e Figen Yuksekdag) – que entrou no parlamento em junho com surpreendentes 13,1% – conseguirá resistir a cinco meses de desgaste e tensão política e se manter no Parlamento, inviabilizando de novo o principal objetivo dos islamitas-conservadores e o desejo de um reforço do regime presidencial pretendido por Erdogan.

A impossibilidade de garantir acordos de coligação após 7 de julho, fez com que pela primeira vez, desde a fundação da República da Turquia em 1923, fosse acionado o mecanismo constitucional de formação de um governo interino para gerir os assuntos do país até novas eleições que não deverão alterar o atual cenário político, apesar das profundas mudanças políticas e sociais que o país viveu nos últimos quatro meses.

O Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata), a maior força da oposição e liderado pelo veterano Kemal Kiliçdaroglu, poderá aumentar um pouco os atuais 25%, apesar de não alterar a sua posição no cenário geral.

Um avanço semelhante está previsto para o ultranacionalista Partido de Ação Nacionalista (MHP, liderado por Devlet Bahçeli, 16,3% em junho), confirmando-se que os quatro partidos – em particular do HDP – vão conseguir superar a barreira dos 10% que garante representação no Parlamento, que tem 550 lugares.

O reinício da guerra em julho com a guerrilha curda PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) já deixou 140 mortos entre soldados e polícias, centenas de combatentes curdos abatidos e dezenas de civis mortos no fogo cruzado e levou o país a um cenário semelhante ao de 2012, o ano mais sangrento na história da Turquia, desde o início do século.

A violência dos confrontos, que assumiu formas de guerrilha urbana em várias cidades do sudeste turco, com maioria de população curda, lembrou ainda a década de 1990, quando povoações inteiras foram arrasadas.

A este cenário, soma-se a recente ameaça das redes jihadistas associadas ao grupo Estado Islâmico (EI), por trás dos três atentados dos últimos 5 meses que atingiram o HDP, incluindo o atentado contra uma marcha pela paz, em 10 de outubro em Ancara, com um balanço de pelo menos 102 mortos, o mais grave da história da Turquia.

Os três recentes atentados atribuídos às redes do EI na Turquia também tiveram como alvo a esquerda pró-curda e diversos políticos da oposição acusaram diretamente o Estado de ser corresponsável pelos massacres.

Diversos analistas apontam a inexistência de atuação policial firme, após os dois primeiros atentados, em 7 de junho num comício do HDP em Diyarbakir (sudeste) e em 20 de julho em Suruç (sul, junto à fronteira síria), e apenas com reação mais enérgica na sequência do massacre de Ancara.

Diante das acusações, o AKP, apoiado pelo Presidente Erdogan, optou por um discurso duro no qual compara o PKK aos ‘jihadistas’ “porque todos os terrorismos são iguais”, sugerindo inclusive uma “colaboração” entre as organizações.

O AKP se apresentou, para a nova eleição, como o único que pode enfrentar a “ameaça terrorista”, que também descreve como “separatista”, mesmo que o PKK tenha renunciado às antigas aspirações independentistas para reivindicar agora mais direitos aos 12 milhões de curdos que vivem na Turquia.

Neste ambiente, 56,6 milhões de eleitores voltam às urnas em uma nova conjuntura política.

“Todos os partidos admitem através das suas promessas eleitorais que a nação está numa profunda crise estrutural. Debatem aspectos que numa democracia normal nem deveriam ser abordados”, disse à agência EFE o cientista político, Rasit Kaya.

Ele também destacou que a baixa expectativa do eleitorado “pode, em certa medida, ser atribuída ao terror, mas sobretudo à falta de esperanças de que estas eleições mudem alguma coisa, porque as pessoas receiam que depois destas venham outras eleições”.

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