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Em meio a apagão, Venezuela tem protestos governista e de oposição

"Transformemos a indignação em mobilização", tuitou o líder parlamentar Juan Guaidó, reconhecido presidente interino da Venezuela por mais de 50 países

Venezuela: Os grandes apagões também afetaram o fornecimento de água, transporte e serviços de telefonia e internet (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

Venezuela: Os grandes apagões também afetaram o fornecimento de água, transporte e serviços de telefonia e internet (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

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AFP

Publicado em 30 de março de 2019 às 14h52.

O governo de Nicolás Maduro e a oposição liderada por Juan Guaidó vão medir forças nas ruas neste sábado, em meio aos apagões que deixam a Venezuela intermitentemente no escuro desde o começo de março.

"Transformemos a indignação em mobilização", tuitou neste sábado o líder parlamentar Juan Guaidó, reconhecido presidente interino da Venezuela por mais de 50 países, liderados pelos Estados Unidos.

A queda de energia mais recente ocorreu por volta das 19h10 no horário local (20h10 de Brasília), afetando Caracas e pelo menos 20 dos 23 estados do país, vários dos quais permaneceram sem luz neste sábado.

"Já temos 15 horas sem eletricidade, estamos cheios de picadas de mosquitos, as filas para gasolina são imensas e os poucos supermercados abertos estão cheios", disse Mariana Pirela, moradora de Maracaibo, à AFP.

Os grandes apagões também afetaram o fornecimento de água, transporte e serviços de telefonia e internet. O mais recente, interrompeu as atividades entre segunda e quinta-feira.

"Eu me sinto em colapso total", comentou Pirela quando dirigia em busca de gasolina em Maracaibo, capital do estado petroleiro Zulia, cenário de saques a cerca de 500 empresas após o apagão em 7 de março.

Maduro também pediu "uma grande mobilização" para "dizer não ao terrorismo imperial". Ele também pediu aos "coletivos" - grupos de Chávez que a oposição afirma estarem armados - "tolerância zero com as guarimbas", como chama os protestos violentos.

O governo Maduro atribui a crise a "ataques" da oposição, apoiada pelos Estados Unidos, contra a usina hidrelétrica de Guri (estado de Bolívar, sul), que gera 80% da energia consumida pelo país.

As falhas elétricas são comuns na Venezuela há uma década e os especialistas acreditam que elas são o resultado de uma falta de investimento em infraestrutura e corrupção, mas até agora Caracas tem estado relativamente intocada pelos apagões generalizados.

Ajuda humanitária

Em meio à crise, a Cruz Vermelha anunciou que distribuirá ajuda humanitária na Venezuela daqui a 15 dias, uma questão central na disputa pelo poder entre Maduro e Guaidó.

A decisão marca uma guinada na política de Maduro, que, apesar de estar aberto à cooperação internacional sem "interferência", nega que o país petroleiro sofra uma "crise humanitária", como denuncia Guaidó.

Francesco Rocca, presidente da Federação Internacional da Cruz Vermelha, mencionou em Caracas que o apoio contempla antibióticos, kits cirúrgicos e acompanhamento na renovação de tecnologia destinada aos hospitais em colapso, incluindo fontes de energia para enfrentar os apagões.

Rocca enfatizou que a organização agirá de acordo com seus princípios de "imparcialidade, neutralidade e independência", "sem aceitar a interferência de ninguém".

A Venezuela enfrenta uma forte escassez de medicamentos, já que o governo, seu principal importador, não tem liquidez devido ao colapso da produção de petróleo - que é responsável por 96% das receitas do Estado - e à sua expulsão dos mercados financeiros após as sanções americanas.

Segundo a ONU, quase um quarto dos 30 milhões de venezuelanos precisa de assistência "urgente".

"Precisamos salvar vidas"

Rocca considerou que nem Maduro nem Guaidó podem "se vangloriar de ganhar" diante do fato de que a ajuda humanitária está em suas mãos. "Precisamos salvar vidas", disse ele.

Em 23 de fevereiro, os carregamentos de alimentos e suprimentos médicos administrados por Guaidó e enviados por Washington para a Colômbia e o Brasil foram bloqueados pelo governo socialista em meio a tumultos que deixaram cerca de sete mortos e dezenas de feridos.

Maduro argumentou que esses carregamentos eram o preâmbulo de uma intervenção militar.

Guaidó reivindicou a entraga da Cruz Vermelha como uma conquista, afirmando que "é o resultado da pressão" feita por ele desde que se autoproclamou presidente em 23 de janeiro.

Medicamentos da China

Enquanto isso, um avião chinês com 65 toneladas de medicamentos e suprimentos médicos chegou à Venezuela na sexta-feira.

"A Venezuela continua a derrotar o bloqueio imperial e avança vitoriosa!", escreveu Maduro no Twitter.

A China é um dos maiores aliados de Maduro, junto com a Rússia, que há uma semana enviou uma missão militar a Caracas, denunciada como "provocação" pela Casa Branca.

Maduro liga a escassez com as sanções dos Estados Unidos para sufocá-lo economicamente e forçá-lo a entregar o poder a Guaidó.

No entanto, as ONGs que defendem os direitos dos pacientes denunciam a escassez progressiva de remédios há anos.

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