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Em luto após massacre, El Paso rejeita visita de Trump

Em meio às acusações de que o Trump é parte do problema, o presidente visitará as duas cidades que sofreram atentados no últimos final de semana

EUA: 22 pessoas morreram após o tiroteio em El Paso, no Texas (Callaghan O'Hare/Reuters)

EUA: 22 pessoas morreram após o tiroteio em El Paso, no Texas (Callaghan O'Hare/Reuters)

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AFP

Publicado em 6 de agosto de 2019 às 17h06.

Mergulhados no luto pela tragédia do último fim de semana, muitos habitantes de El Paso se opõem à visita do presidente americano, Donald Trump, em meio às dúvidas quanto à sua determinação para lutar contra o extremismo.

Do lado de fora da loja da rede Walmart onde aconteceu o tiroteio em massa, várias cruzes lembram as 22 vítimas. Pouco a pouco, a homenagem improvisada de flores, balões, velas e bandeiras de Estados Unidos e México vai ganhando cada vez mais espaço.

Trump visitará El Paso, no Texas, e Dayton, em Ohio, depois dos sangrentos episódios que 31 mortos no fim de semana. O presidente sinaliza uma tentativa de unir o país contra o racismo e a ideologia dos supremacistas brancos, em meio às acusações de que ele é parte do problema.

Desde que Trump lançou sua campanha à Presidência em 2015, em muitos de seus discursos, chamou os imigrantes mexicanos de "estupradores" que levam "drogas" e "crime"para os Estados Unidos. Em 2018, denunciou as caravanas procedentes da América Central como uma "invasão".

Segundo a imprensa americana, antes do tiroteio, o assassino de El Paso denunciou, em um manifesto on-line, uma "invasão hispânica" no Texas.

Autoridades do México disseram que oito dos mortos e seis dos feridos são mexicanos.

"Eu culpo o presidente. Desde o momento em que sua retórica e o ódio que tem com as pessoas de cor de pele diferente chegaram à Presidência. Não tem direito", disse à AFP Silvia Ríos, moradora de El Paso que compareceu à vigília.

Na segunda-feira, o chanceler mexicano, Marcelo Ebrard, classificou a matança como "um ato de terrorismo contra os mexicanos".

"Acredito que o presidente Trump seja o grande problema", afirmou Rosario Meyer, em conversa com a AFP.

"Não precisamos de mais divisão"

Oriundo de El Paso, o pré-candidato democrata Beto O'Rourke concordou que o presidente ajudou a criar o ódio que tornou essas tragédias possíveis.

"Não precisamos de mais divisão. Precisamos curar. Ele não tem espaço aqui", frisou O'Rourke.

Para a congressista pelo Texas Verónica Escobar, Trump e sua equipe deveriam "considerar o fato de que suas palavras e suas ações tiveram um papel nisso".

"Da minha perspectiva, ele não é bem-vindo aqui", declarou Escobar em entrevista à rede MSNBC.

"Não deveria vir aqui. Estamos de luto", completou.

Ao anunciar a visita de Trump, o prefeito de El Paso, Dee Margo, disse que tinha de receber o presidente, porque era sua obrigação.

A assessora da Casa Branca Kellyanne Conway acusou os democratas de politizarem a tragédia. "O presidente está tentando unir o país, curar esta nação, mas também oferecer propostas concretas sobre como avançar como nação", rebateu.

O presidente da delegação do Partido Republicano no condado de El Paso, Adolpho Telles, defendeu a visita de Trump, mas disse ele precisa ser mais cuidadoso com sua linguagem.

"Sua retórica não é sempre a que deveria ser", reconheceu Telles, em entrevista à emissora CNN.

De Manila, o criador do portal 8chan, um fórum na Internet que não tem moderadores e que teria sido usado pelo autor antes do tiroteio, disse esperar que a plataforma seja fechada.

"Acho que será a pá de cal do 8chan", afirmou Frederick Brennan, que vendeu a plataforma no ano passado.

"Deveria tê-lo fechado quando tive a oportunidade de fazer isso", lamentou.

Ontem, em pronunciamento pela televisão, Trump disse condenar o racismo e a ideologia dos supremacistas brancos, mas insistiu em que as doenças mentais são a principal causa das mortes por armas de fogos nos Estados Unidos.

Seus comentários não aplacaram as críticas em El Paso.

Nesta terça, Trump parecia irritado com as críticas veladas de seu antecessor Barack Obama, segundo o qual a retórica divisiva dos líderes americanos é parte do problema.

Os investigadores continuavam nesta terça, tentando descobrir a motivação do autor do outro tiroteio, em Dayton, que deixou nove mortos. Segundo uma conta no Twitter, o jovem tinha posturas políticas de extrema esquerda.

A prefeita de Dayton, Nan Whaley, disse estar decepcionada com o discurso de Trump na segunda-feira. "Não sei se sabe no que acredita", lamentou.

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