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Em entrevista nos EUA, Lula pede que Biden compartilhe vacinas

O ex-presidente Lula falou à jornalista Christiane Amanpour, da rede de televisão americana CNN. Lula também chamou Biden de "respiro de democracia no mundo"

Lula, Biden e outros líderes em reunião antes do G20 em 2009: o ex-presidente brasileiro pediu a Biden que convoque encontro de presidentes (Martin Bernetti/AFP/Getty Images)

Lula, Biden e outros líderes em reunião antes do G20 em 2009: o ex-presidente brasileiro pediu a Biden que convoque encontro de presidentes (Martin Bernetti/AFP/Getty Images)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 17 de março de 2021 às 18h08.

Última atualização em 17 de março de 2021 às 20h59.

Em entrevista à rede de televisão americana CNN, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ao presidente americano, Joe Biden, que doe a países mais pobres as vacinas excedentes dos Estados Unidos.

"Eu estou sabendo que os EUA têm vacinas extras e que não vão usar toda essa vacina. E essa vacina, quem sabe, poderia ser doada ao Brasil, ou a outros países, ainda mais pobres, que não poderiam pagar", disse Lula.

A fala foi feita à jornalista Christiane Amanpour, famosa pela cobertura internacional nos EUA. Falando de São Paulo por videoconferência, Lula também disse que Biden deveria convocar uma reunião do G20, grupo das 20 principais economias do mundo do qual o Brasil faz parte, para falar sobre a vacinação.

O ex-presidente brasileiro disse que não poderia "pedir isso ao Trump", se referindo ao ex-presidente americano que deixou o cargo em janeiro, mas que Biden é "um respiro de democracia no mundo".

"Uma sugestão que eu gostaria de fazer ao presidente Biden por meio do seu programa é que é muito importante chamar uma reunião do G20 urgentemente", disse Lula a Amanpour, segundo a fala traduzida para inglês replicada pela CNN.

"É importante convocar os principais líderes do mundo e colocar na mesa uma questão: vacina, vacina e vacina", disse. "Eu estou pedindo ao presidente Biden para fazer isso, porque eu não acredito no meu governo. Eu não poderia pedir isso ao Trump, mas Biden é um respiro de democracia no mundo."

Biden foi vice do ex-presidente americano Barack Obama entre 2009 e 2016, período que coincidiu rapidamente com a presidência de Lula, entre 2003 e 2010 — e sobretudo com a da ex-presidente Dilma Rousseff, entre 2011 e 2016, com quem Biden se encontrou em suas duas visitas ao Brasil, em 2013 e 2014.

Essa é a primeira entrevista exclusiva de Lula desde seu pronunciamento na semana passada, feito após a decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, de anular as condenações contra o ex-presidente feitas em Curitiba.

Nesta semana, Amanpour já havia recebido o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Em reportagem em seu site com a entrevista de Lula, a CNN cita a situação da pandemia no Brasil e o relatório da Fundação Oswaldo Cruz nesta terça-feira sobre a situação das UTIs. Todos os estados estão com sistema de saúde no limite e a Fiocruz afirmou que este é o "maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil".

O Brasil chegou ontem à triste marca de 2.798 mortes por covid-19, segundo o consórcio de imprensa, o maior número desde o começo da pandemia e o 18º recorde seguido. O país tem respondido por 20% das mortes mundiais e na contramão do resto do mundo. A situação do Brasil, em especial com a variante P1 do coronavírus, tem chamado a atenção globalmente e sido tema de diversas reportagens internacionais.

A discussão sobre as vacinas "extras" americanas ganhou força nas últimas semanas. Ontem, Biden afirmou a jornalistas americanos que a doação das vacinas é uma possiblidade estudada (inclusive para o Brasil). "Vocês saberão mais em breve", disse o democrata a repórteres na Casa Branca.

No entanto, Biden tem dito também que é preciso "flexibilidade" no programa de vacinação e por isso os EUA compraram as principais vacinas do mundo. Com mais de 20% da população tendo tomado ao menos a primeira dose, o plano do governo americano é ter todos os adultos elegíveis para a vacinação já em 1º de maio.

Na semana passada, a Casa Branca havia afirmado que os EUA receberam pedidos de outros países, mas negaram todos até então.

Uma das principais apostas para o compartilhamento possíveis excedentes americanos é a vacina de AstraZeneca/Oxford, que ainda não está sendo usada no país.

Os EUA possuem um estoque de doses da AstraZeneca, que estão armazenadas em Ohio, onde uma fábrica da companhia já está produzindo a vacina. Em nota recente, a empresa disse que pediu ao governo americano que considerasse a liberação das vacinas a outros países.

A FDA, agência reguladora americana, já autorizou por ora as vacinas das americanas Pfizer, Moderna e Johnson & Johnson's (as duas primeiras com a tecnologia do RNA mensageiro). Na prática, a demora em aprovar a AstraZeneca decorre também do fato de os EUA estarem conseguindo uma taxa de vacinação suficiente com os outros imunizantes, de mais de 2,5 milhões de doses aplicadas ao dia.

Os EUA compraram 300 milhões de doses antecipadas da vacina da AstraZeneca. Mas só com Pfizer e Moderna, o governo já tem acordo para 600 milhões de doses nos próximos meses, o suficiente para vacinar todos os adultos com duas doses. Da Johnson & Johnson's são outras 100 milhões de doses já confirmadas para os próximos meses e mais 100 milhões adicionais que o governo deseja comprar.

Com o avanço da vacinação, o número de mortes e casos de covid-19 tem caído drasticamente nos EUA e em outros países. Desde o pico, em meados de janeiro, os EUA registraram queda de cerca de 60% na média móvel de mortes em sete dias.

São até agora mais de 111 milhões de doses aplicadas nos EUA, cumprindo a meta de Biden, que desejava chegar a 100 milhões de doses antes de seus 100 dias de mandato (em meados de abril). Foram pouco mais de 33 doses aplicadas a cada 100 habitantes. Cerca de 21% da população recebeu ao menos a primeira dose e 12% já recebeu a segunda.

Com mais de 330 milhões de habitantes, os EUA são o país mais populoso a chegar a tamanha cobertura da população, perdendo somente para países menores, como Israel (onde 57% da população foi vacinada com ao menos a primeira dose), Chile (26% com a primeira dose) e Reino Unido (37%).

No Brasil, a porcentagem de vacinados está em cerca de 4%, com mais de 10 milhões de doses aplicadas. O Brasil usa até agora a vacina de AstraZeneca/Oxford e a Coronavac.

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