Mundo

Em desfile, China exibe novas armas de superpotência global; veja fotos

"Nada pode abalar os pilares da China ou impedir o povo de marchar em frente", disse o presidente Xi Jinping na celebração de 70 anos da Revolução Comunista

China: governo chinês celebrou o aniversário de 70 anos da sua revolução e de domínio do Partido Comunista (Kevin Frayer/Getty Images)

China: governo chinês celebrou o aniversário de 70 anos da sua revolução e de domínio do Partido Comunista (Kevin Frayer/Getty Images)

Mariana Martucci

Mariana Martucci

Publicado em 1 de outubro de 2019 às 13h08.

Última atualização em 2 de outubro de 2019 às 18h20.

No aniversário dos 70 anos da Revolução Comunista da China, o governo chinês exibiu nesta terça-feira (1º) suas novas armas – entre mísseis, drones e bombardeiros –, com as quais deseja compensar seu atraso tecnológico frente aos Estados Unidos e aspirar a um papel de superpotência global.

O desfile militar deste 1º de outubro ilustrou a modernização do Exército desejada pelo presidente Xi Jinping, a qual espera ver alcançar um nível de "classe mundial" até 2049. Nessa data, completa-se o centenário da República Popular.

"As novas armas nucleares apresentadas refletem consideráveis progressos", disse à AFP Adam Ni, especialista no exército chinês na Universidade Macquarie, de Sydney.

"São cada vez mais móveis, resistentes, confiáveis, precisas e de alta tecnologia", afirma Ni, acrescentando que "a dissuasão nuclear da China ganha credibilidade em relação aos Estados Unidos".

Os dois países estão em lados opostos no mar da China meridional, onde lutam para impor sua influência. Além disso, desde 2018, ambos travam uma guerra comercial de consequências imprevisíveis.

Nesse contexto, Pequim apresentou o melhor de seus mísseis balísticos intercontinentais: o imenso DF-41 ("Vento do Leste-41").

Míssil chinês DF-17 é apresentado em desfile militar em 1º de outubro de 2019, em Pequim, no 70º aniversário do regime comunista

Míssil chinês DF-17 é apresentado em desfile militar em 1º de outubro de 2019, em Pequim, no 70º aniversário do regime comunista (AFP/Reprodução)

De grande alcance (14.000 quilômetros), pode chegar ao território americano e pode ser carregado com várias ogivas nucleares (de três a dez, segundo os especialistas).

A grande vantagem do DF-41 é que, apesar de seus 20 metros de cumprimento, é móvel e pode ser escondido em qualquer lugar do país. Os mísseis balísticos nucleares da geração anterior tinham de ser lançados de pontos fixos.

"Olá, gigante"

Nesta terça, a China apresentou uma nova versão de seu estratégico bombardeiro H6-N, que seria capaz de transportar armas atômicas a distâncias maiores do que seus predecessores.

Outro armamento que ganhou destaque na parada militar foi o míssil balístico mar-terra JL-2 ("onda gigante-2"), carregado em um submarino e que pode alcançar o Alasca e o oeste dos Estados Unidos.

"A China continuará mantendo um pequeno, mas eficaz arsenal nuclear. O objetivo é garantir uma dissuasão nuclear e uma resposta crível em caso de ataque de um terceiro país", diz à AFP Cui Yiliang, analista e editor da revista chinesa "Xiandai Jianchuan", especialista em armamentos.

A outra "estrela" do desfile foi o míssil DF-17, que pode, uma vez alcançada a altitude necessária, soltar um "planador hipersônico", uma arma capaz de voar a 7.000 km/h.

Em um informe divulgado em meados de setembro, o serviço de pesquisa do Congresso americano manifestou sua preocupação com o fato de os Estados Unidos sofrerem atraso em relação à China no que se refere a esses planadores hipersônicos.

Armas de dissuasão

Com todas essas novas armas, o Exército chinês "reduz a distância aos Estados Unidos e limita as vantagens militares de Washington na Ásia", avalia Adam Ni. "A China pode, com isso, dissuadir os Estados Unidos de intervirem em Taiwan ou no mar da China meridional".

O Exército chinês também apresentou dois drones. Um deles é o WZ-8 ("Reconhecimento-8"), de velocidade supersônica (cerca de 4.000 km/h), que pode permitir coletar informações sobre porta-aviões antes de um disparo de míssil balístico contra um aparelho militar.

E tem ainda o GJ-11 ("Ataque-11"), um grande drone invisível em forma de asa delta, que poderia transportar mísseis, ou seguir a pista de navios estrangeiros.

"A indústria chinesa de defesa fez progressos inquestionáveis. Mais ainda falta um caminho para percorrer para igualar a potência tecnológica militar dos Estados Unidos", diz James Char, especialista no exército chinês na Universidade de Tecnologia de Nanyang, em Singapura.

"Mas também tem que se destacar que, para além da apresentação de armas (em um desfile militar), não se sabe realmente o que essas armas são capazes de fazer no terreno militar", completa.

Celebração

O governo da China celebrou o aniversário de 70 anos da sua revolução e de domínio do Partido Comunista com um imenso desfile militar em Pequim nesta terça-feira, dia 1º. Em um discurso mais breve do que o esperado, o presidente Xi Jinping defendeu um desenvolvimento pacífico, mas disse que as forças armadas do país devem defender a soberania chinesa.

"Nada pode abalar os pilares da China ou impedir o povo de marchar em frente", disse Xi no Portal da Paz Celestial, monumento construído em homenagem à fundação da República Popular da China em 1949. "Há 70 anos, em um dia como hoje, o camarada Mao Tsé-Tung declarou solenemente ao mundo neste mesmo lugar a fundação da República Popular da China e o povo chinês se levantou."

Xi ressaltou que o país deve promover estabilidade em Hong Kong e Macau, duas regiões administrativas especiais da China, e um diálogo pacífico com Taiwan. Ele acrescentou que o país "deve continuar o progresso na reunificação completa da pátria".

A celebração, um dos eventos mais importantes no ano para o país ocorre após quase quatro meses de protestos contra o governo chinês em Hong Kong. No domingo, 29, a polícia do território semiautônomo prendeu dezenas de manifestantes que denunciam a perda de liberdades e uma crescente interferência de Pequim em assuntos regionais.

O evento na Praça da Paz celestial foi organizado para projetar uma imagem de confiança por parte do governo chinês, que também enfrenta uma guerra comercial com os Estados Unidos, com impacto significativo na economia.

O líder da China segue popular no país após uma campanha agressiva contra a corrupção e por projetar a segunda maior economia do mundo também como uma liderança na política internacional.

Xi Jinping estava acompanhado de seus predecessores Hu Jintao e Jiang Zemin. Ele defendeu uma estratégia de abertura comercial e disse que as forças armadas chinesas devem não só zelar pela segurança e soberania do país, mas também proteger interesses de desenvolvimento e a paz mundial.

Ao finalizar o discurso, o líder chinês desceu do púlpito e fez um passeio em carro aberto nas ruas de Pequim. A capital foi fechada para o evento, e um robusto esquema de segurança foi montado. Moradores de prédios com vista para o local do desfile, na região da Praça da Paz Celestial, foram aconselhados pela polícia a manterem distância das janelas. 

Acompanhe tudo sobre:ArmasChinaComunismoGuerrasMilitaresXi Jinping

Mais de Mundo

ONU repreende 'objetos inofensivos' sendo usados como explosivos após ataque no Líbano

EUA diz que guerra entre Israel e Hezbollah ainda pode ser evitada

Kamala Harris diz que tem arma de fogo e que quem invadir sua casa será baleado

Após explosões no Líbano, Conselho de Segurança discute a escalada entre Israel e Hezbollah