(Buda Mendes/Getty Images)
João Pedro Caleiro
Publicado em 6 de julho de 2020 às 17h58.
Última atualização em 7 de julho de 2020 às 20h19.
O Cristo Redentor no Rio de Janeiro caiu de paraquedas no debate eleitoral americano.
Páginas da campanha de reeleição do presidente Donald Trump e de seu vice-presidente Mike Pence veicularam nos últimos dias no Facebook e no Instagram um anúncio com a imagem da estátua e a frase “Nós iremos proteger isso!"
O material diz que Trump quer saber "quem ficou ao lado dele contra a esquerda radical", pedindo apoio a uma ordem executiva, equivalente a um decreto, assinado por Trump na sexta-feira, 3, prometendo "construir e reconstruir monumentos para heróis americanos."
Os anúncios foram pagos por uma conta conjunta da campanha e do Comitê Nacional do Partido Republicano. Foram veiculadas 67 versões do anúncio, com cerca de 1 milhão de impressões, segundo dados públicos do Facebook.
A estratégia da campanha é se contrapor ao movimento recente, nos Estados Unidos e em outros lugares do mundo, que questiona a manutenção no espaço público de estátuas e símbolos que celebram pessoas com históricos hoje considerados inaceitáveis.
Inicialmente focado em líderes confederados que lutaram pela permanência da escravidão, o processo inclui desde a derrubada súbita por multidões, como no caso de uma estátua de Cristóvão Colombo em Baltimore no final de semana, até processos legais e colegiados, como a retirada do nome do ex-presidente Woodrow Wilson do nome de uma escola da Universidade Princeton.
Não há, no entanto, qualquer indício de que a estátua do Cristo esteja sob risco de vandalismo ou remoção, ou qual papel o governo americano teria neste caso. Independentemente de seu valor simbólico, é improvável que o Rio de Janeiro venha a remover uma de suas principais atrações turísticas.
O foco da campanha de Trump na "guerra cultural" e "cultura do cancelamento", reforçado no seu discurso do feriado de Dia de Independência no sábado, 04, vem diante de um cenário eleitoral difícil. O presidente aparece nas pesquisas com uma desvantagem acima de dois dígitos para seu rival democrata, Joe Biden, conhecido como uma figura moderada.
Analistas apontam que a fraqueza de Trump está ligada à piora econômica, área onde ele sempre destacou seu sucesso, e ao fracasso na gestão da pandemia. Os Estados Unidos têm o maior número de mortes pela covid-19 do mundo (132.000) e seguem registrando novos recordes diários de casos.
O presidente também tem dobrado a aposta em uma retórica radical e de teor racista em resposta aos protestos contra brutalidade policial que varreram o país e contam com amplo apoio da população.