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Elon Musk promete encolher o governo dos EUA e cortar US$ 2 trilhões, mas terá dificuldades

Orçamento federal inclui gastos sensíveis, como programas sociais e despesas militares

Postagem sobre o Departamento de Eficiência Governamental, publicada por Elon Musk (X/Reprodução)

Postagem sobre o Departamento de Eficiência Governamental, publicada por Elon Musk (X/Reprodução)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 13 de novembro de 2024 às 13h48.

Na noite de terça-feira, 12, o presidente eleito Donald Trump anunciou que o bilionário Elon Musk será o chefe do Departamento de Eficiência Governamental, a ser criado. O novo setor deverá ser responsável por reduzir gastos públicos e "encolher" o governo federal, mas a forma como ele irá atuar ainda não está clara.

Em postagens no X e em entrevistas, Musk disse que o novo departamento terá como meta principal cortar as despesas do  governo dos Estados Unidos, em até US$ 2 trilhões. O governo federal dos EUA gastou US$ 6,75 trilhões no ano fiscal de 2024, mas obteve só US$ 4,92 trilhões em receitas, o que ampliou o déficit fiscal do país.

"Se um funcionário público está gastando seu dinheiro de forma efetiva, ele deve ser recompensado. Se está desperdiçando seu dinheiro, deve ser demitido", postou Musk. "Incentivos importam".

O bilionário postou alguns exemplos do que considera desperdícios, como pesquisas cientificas para estudar o efeito de ioga em cabras, que teria custado US$ 1,5 milhão, e US$ 1,7 bilhão para manter edifícios vazios.

No entanto, cortar cerca de um terço do gasto total do governo federal não será possível sem mexer em áreas sensíveis, como o gasto militar e com os programas sociais dentro do guarda-chuva do Social Security, segundo reportagem do jornal The Washington Post.

Só os gastos com o Social Security representaram US$ 1 trilhão do gasto público federal dos EUA no ano fiscal de 2024, já encerrado. Os gastos com saúde, incluindo o programa Medicare, somam US$ 1,7 trilhão. Esses gastos são determinados por leis federais, que tornam cerca de dois terços do Orçamento em execução obrigatória e precisariam ser revistas pelo Congresso.

O corte de gastos sociais ainda pode gerar críticas de deputados republicanos, pois poderão fazer eles perderem votos em suas localidades. Os representantes têm mandatos de dois anos, e a próxima disputa será já em 2026.

Musk cuidará do novo departamento ao lado de Vivek Ramaswamy, empresário que disputou as primárias republicanas e tentou ser presidente dos EUA, mas desistiu e deu apoio a Trump no começo do ano. Ramaswamy já defendeu a eliminação de alguns órgãos federais, incluindo o FBI e o Departamento de Educação.

Cortes em agências

Musk disse ainda que pretende reduzir o escopo de agências federais de regulação, o que deve significar menor controle sobre a qualidade da comida, de medicamentos e de segurança aérea. Em entrevista ao podcast de Joe Rogan, ele defendeu que as agências federais se concentrem nas funções autorizadas pelo Congresso, sem fazerem outras coisas.

A velocidade dos cortes também é uma questão. Se os ajustes forem feitos todos de uma vez, há risco de rupturas em serviços essenciais. Trump disse que o trabalho do novo departamento será encerrado até 4 de julho de 2026, dia em que os EUA completam 250 anos de independência.

Musk será remunerado?

O empresário disse que não pretende receber pagamento pelo trabalho e ressaltou que o novo departamento ficará fora da estrutura oficial do governo.

No entanto, as agências federais regulam temas como comunicações e transportes. As decisões delas afetam empresas de Musk, como a Tesla (de carros elétricos), a Starlink (de internet por satélite) e a SpaceX (de viagens espaciais). Assim, o empresário poderia ter vantagens se puder influenciar decisões ou o escopo das agências, em um caso de conflito de interesses.

Musk, 53 anos, é considerado o homem mais rico do mundo, com fortuna de mais de US$ 314 bilhões.

Ele endossou Trump publicamente após o republicano ser alvo de um atentado a tiros em junho, na Pensilvânia. Além de doações milionárias, o empresário foi a alguns comícios ao lado de Trump e pediu votos para o americano durante a campanha.

Neto de um americano, Musk nasceu na África do Sul, o que o impede de disputar a Presidência dos EUA no futuro. "Eu realmente não quero ser presidente. Quero fabricar foguetes e carros. Eu acredito que queremos uma civilização espacial, e é onde meu foco vai se manter", disse, em um evento em outubro. 

Quem é Vivek Ramaswamy?

Ramaswamy, 39 anos, que atuará no novo departamento junto com Musk, é um empresário que disputou as primárias republicanas para presidente contra Trump nestas eleições, mas desistiu no início do ano.

Filho de pais indianos, Ramaswary nasceu nos EUA e se formou em Harvard e Yale, duas das mais prestigiadas do país. Como empreendedor, criou algumas empresas e enriqueceu com a ideia de captar recursos de investidores do mercado financeiro para criar remédios e outros produtos a partir de inovações na biotecnologia.

Uma de suas empresas, a Axovant, levantou 315 milhões de dólares em seu IPO, em 2015, o maior valor obtido por uma biotech até então. A empresa buscava desenvolver um remédio para o Alzheimer, que não funcionou. A falha deu prejuízo a investidores, mas Ramaswary conseguiu proteger seu patrimônio.

Nos últimos anos, o empreendedor ficou conhecido por criticar os esforços das empresas para se tornarem mais inclusivas e responsáveis socialmente, as ações resumidas na sigla ESG. Em livros como "Woke.Inc", de 2021, ele defende que as companhias devem se concentrar em dar lucro e compara os movimentos de inclusão, como o de mulheres, LGBTs e imigrantes, a puro vitimismo.

Ramaswary publicou uma lista que chama de "dez verdades", na qual defende que existem apenas dois gêneros, que Deus é real, que a humanidade precisa de combustíveis fósseis e que racismo reverso é racismo, entre outros temas, que o aproximam das ideias de Trump.

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