O presidente Nicolás Maduro mostra um 'novo mapa' da Venezuela durante reunião da Assembleia Nacional, em Caracas (ZURIMAR CAMPOS/ Presidência da Venezuela/ AFP)
Agência de notícias
Publicado em 26 de maio de 2025 às 12h06.
Dez meses após a questionada reeleição de Nicolás Maduro na Venezuela, o chavismo venceu em 23 de 24 governos estaduais e garantiu maioria absoluta no Parlamento. As eleições parlamentares e para governador realizadas no domingo foram marcadas pela baixa adesão da população — e, como aconteceu outras vezes na História recente do país, não contaram com a participação da grande maioria dos partidos da oposição. O pleito também ganhou destaque por resultar pela primeira vez na eleição de autoridades venezuelanas para Essequibo, área rica em petróleo e recursos minerais e disputada com a Guiana há mais de um século.
As eleições foram realizadas fora da área em litígio, em uma pequena circunscrição eleitoral de pouco mais de 21,4 mil habitantes de quatro cidades venezuelanas próximas à fronteira, no estado de Bolívar. O ex-comandante da Marinha Neil Villamizar, do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), recebeu 4,7 mil votos — quase a totalidade do eleitorado participante de 32% — e tornou-se o primeiro governador do recém-criado 24º estado do país. Oito deputados e parlamentares regionais também foram eleitos.
— Ele (Villamizar) terá total apoio ao seu trabalho, porque o povo de Essequibo o escolheu, para que o povo de Essequibo tenha todos os direitos como o povo da Venezuela — celebrou Maduro em comício com seus apoiadores após o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anunciar os resultados. — Hoje demonstramos o poder do chavismo. Esta vitória é a vitória da paz e da estabilidade de toda a Venezuela.
Ao menos inicialmente, porém, o mandato das autoridades eleitas será simbólico, já que a Guiana administra a rica região do Essequibo, com cerca de 160 mil km². O presidente guianense, Irfaan Ali, denunciou a eleição como uma “ameaça”, enquanto a Corte Internacional de Justiça (CIJ), que julga um caso relacionado à disputa, pediu à Venezuela que se abstivesse de realizar esses comícios. Maduro, no entanto, afirmou no domingo que “mais cedo do que nunca” a Guiana terá que “aceitar a soberania da Venezuela”:
— Irfaan Ali, presidente da Guiana, funcionário da ExxonMobil, mais cedo ou mais tarde vai ter que se sentar comigo para conversar e aceitar a soberania venezuelana — disse ele após votar em Caracas e antes dos resultados serem conhecidos. — É o nascimento da nova soberania venezuelana. A República Cooperativa da Guiana tem sido uma ocupante ilegal como herança do império britânico.
A Guiana, que descreveu a eleição como parte da “propaganda do chavismo”, já havia solicitado à CIJ que ratifique as fronteiras estabelecidas em um laudo arbitral de 1899. A Venezuela, por outro lado, apela ao Acordo de Genebra de 1966, antes da independência da Guiana do Reino Unido, que anulava essa decisão e estabelecia as bases para uma solução negociada. A disputa aumentou em 2015, depois que a americana ExxonMobil descobriu campos de petróleo na região.
— Estamos focados nessa tarefa: alcançar, por meios pacíficos, através dos meios estabelecidos nas Convenções de Genebra, a recuperação da plena soberania em Essequibo, em paz, com harmonia, praticando a diplomacia — disse Villamizar no domingo, destacando que o pleito foi mais um passo para alcançar a “soberania total” deste território.
Com lideranças opositoras presas e outras no exílio, e após a disputa pela Presidência de 2024 ter terminado com denúncias de fraude que se mantém até hoje, a oposição mais forte ao chavismo boicotou a eleição convocada pela ditadura de Maduro. A líder opositora María Corina Machado pediu a seus partidários que não votassem, e o baixo comparecimento nas seções eleitorais predominou nas principais cidades do país. O CNE, acusado de servir a Maduro, fixou a participação em 42,6% dos 21 milhões de eleitores aptos a votar.
As eleições aconteceram poucos dias após a prisão do dirigente Juan Pablo Guanipa, próximo a María Corina, e de outros opositores acusados de integrarem uma “rede terrorista” para sabotar o pleito. O governo mobilizou mais de 400 mil efetivos para a segurança da votação, restringiu as passagens fronteiriças e suspendeu a conexão aérea com a Colômbia. A imagem de seções eleitorais desertas contrasta com a concorrida disputa presidencial do ano passado, que terminou em protestos contra Maduro, com 28 mortos e mais de 2,4 mil detenções.
“Desnudamos esta grande farsa e os centros de votação ficaram isolados, vazios” disse María Corina, que está na clandestinidade, no X. Ela voltou a pedir que militares atuem contra Maduro, sustentando que “eles têm a obrigação de fazer isso”. A declaração foi seguida por outra, do opositor Edmundo González, que concorreu contra Maduro nas eleições e hoje está exilado na Espanha. Também no X, ele descreveu o pleito como “uma farsa [que] não conseguiu enganar nem o país nem o mundo”.
Uma pequena parte da oposição, porém, não aderiu à convocação de María Corina e participou do pleito de domingo. A lista foi liderada pelo duas vezes candidato presidencial Henrique Capriles, que conseguiu uma vaga no Parlamento.
— O que é melhor, ter voz e lutar dentro do Parlamento, ou, como fizemos em outras ocasiões, abandonar o processo eleitoral e deixar o Parlamento em sua totalidade para o governo? — questionou.
Também foram eleitos como deputados algumas figuras importantes do chavismo: a primeira-dama, Cilia Flores, o filho de Maduro, Nicolás Maduro Guerra, o atual presidente do Parlamento, Jorge Rodríguez, e quase 40 dirigentes chavistas. Com 253 dos 277 assentos na Assembleia Nacional, o chavismo já tinha maioria absoluta, precisamente depois que a oposição boicotou as últimas eleições legislativas em 2020. A nova legislação terá mandato de janeiro de 2026 até 2031.
Os partidários de Maduro, que já controlavam 19 governos, recuperaram o estado petrolífero de Zulia, que era governado por Manuel Rosales, rival de Hugo Chávez na eleição de 2006. A oposição só conseguiu conservar Cojedes (centro), com Alberto Galíndez.