Apoiadores do candidato Aubrey Norton, da oposição, agitam bandeiras da Guiana em comício em Georgetown (Joaquin Sarmiento/AFP)
Redação Exame
Publicado em 1 de setembro de 2025 às 06h03.
A Guiana realiza nesta segunda-feira, 1º, sua eleição mais observada na história. O país, independente desde 1966, vive um boom de crescimento por conta do petróleo e enfrenta tentativas da Venezuela de tomar metade de seu território.
O país, vizinho ao Brasil, é o que mais cresce no mundo. Sua economia aumentou seis vezes de tamanho em dez anos: era de US$ 4,2 bilhões em 2015 e atingiu US$ 24 bilhões em 2024. O crescimento supera dois dígitos desde 2020, com números como 63% de alta em 2022, 34% em 2023 e 43% em 2024, segundo o Banco Mundial.
Esse ritmo deve seguir forte, com previsão de crescer a uma média anual de 14% nos próximos cinco anos, nas contas do Fundo Monetário Internacional (FMI).
A imprensa local não divulgou pesquisas. Três dos seis partidos políticos que concorrem estão confiantes na vitória nas urnas amanhã, segunda-feira, incluindo o do presidente Irfaan Ali, que busca um segundo mandato.
Os principais grupos que disputam a eleição são o Partido Progressista do Povo/Cívico (PPP/C), de Ali; a Aliança pela Unidade Nacional (APNU), liderada por Aubrey Norton; e o partido Nós Investimos na Nação (WIN), liderado pelo empresário Azruddin Mohamed, sancionado pelos EUA.
Os candidatos Irfaan Ali (à esq.), Aubrey Norton (centro) e Azruddin Mohamed, que disputam a Presidência da Guiana (Joaquin Sarmiento/AFP)
O atual presidente, no último comício realizado no sábado, pediu aos jovens que "não se deixem enganar" pelos outros partidos. "Eles não têm valor para vocês como cidadãos e não se importam com o futuro de vocês", disse Ali, dirigindo-se a milhares de apoiadores em Lusignan, na costa leste de Demerara.
Ali tem prometido seguir ampliando benefícios sociais, como repetir o pagamento de 100 mil dólares da Guiana (cerca de R$ 2.600) para todos os adultos do país.
Enquanto isso, em Georgetown, uma multidão de apoiadores de um dos partidos mais novos e populares nas eleições, o WIN, reuniu-se na praia do Hotel Guyana Marriott para demonstrar seu apoio ao candidato Azurddin Mohamed. "Nós venceremos estas eleições", declarou Mohamed, que, dirigindo-se aos outros dois principais partidos políticos, alertou: "Vocês sabem que seus dias acabaram."
Também na capital, Norton foi recebido no palco ontem em meio a fogos de artifício e prometeu um governo que "trabalhará" para o povo. "Nunca lhes daremos as costas; podem ter certeza de que faremos todo o possível para melhorar suas vidas", declarou.
Nas eleições gerais e regionais da Guiana, serão eleitos um presidente, membros da Assembleia Nacional e os Conselhos Regionais Democráticos, responsáveis pela gestão das dez regiões administrativas do país.
Não há segundo turno para presidente. No entanto, o resultado pode demorar. Na última eleição, a votação foi apertada e a apuração levou meses, pois os candidatos pediram diversas recontagens.
Há 2.070 seções eleitorais em todo o país, com mais de 11.000 funcionários no dia da eleição. Há cerca de 776.000 eleitores registrados.
Irfaan Ali, o atual presidente
De origem indiana e membro da comunidade muçulmana, o presidente em exercício Irfaan Ali tem sido um firme defensor do território do Essequibo, uma região de 160 mil km² rica em petróleo e minerais que a Venezuela reivindica desde a época colonial.
A vasta região representa dois terços da superfície da Guiana, e Ali, com o apoio dos Estados Unidos, adotou uma postura intransigente na defesa da região.
Ali nasceu em 25 de abril de 1980 em Leonora, um vilarejo na margem ocidental do rio Demerara, a cerca de 15 quilômetros da capital Georgetown.
É filho de um casal de professores e estudou no Reino Unido e na Jamaica. Tem doutorado em urbanismo e planejamento regional e, antes de ser presidente, trabalhou em vários ministérios.
Foi eleito deputado pela primeira vez em 2006. Fontes políticas afirmam que o ex-presidente (1999-2011) e secretário-geral do Partido Progressista do Povo (PPP/C), Bharrat Jagdeo, o escolheu como candidato presidencial em 2020. Naquela eleição, derrotou o então presidente David Granger.
É o primeiro presidente a se beneficiar das riquezas petrolíferas, exploradas desde 2019. Pai de dois filhos, afirma regularmente que os rendimentos do petróleo devem ser administrados pensando nas futuras gerações.
Aubrey Norton, um opositor veemente
Conhecido por suas declarações contundentes e sua veemência, Aubrey Norton acusa abertamente o governo de corrupção e o considera ilegítimo. É líder da APNU (coalizão Aliança para uma Nova Unidade) e garante que os dias do PPP/C no poder estão contados.
Nasceu em 6 de julho de 1957 em Christianburg, ao sul de Georgetown, e pertence à comunidade afro-guianense. Membro das Juventudes Socialistas, com formação em Cuba e no Reino Unido, sempre manteve um discurso muito enraizado na esquerda.
Figura destacada do Congresso Nacional do Povo (PNC), é líder da oposição desde 2022. Afirma querer reduzir o desperdício e o desvio de recursos para destiná-los ao aumento de salários, pensões e auxílios sociais, especialmente na educação. Também propõe subsidiar a eletricidade e a água.
"Prometemos a vocês que utilizaremos os recursos do petróleo e do gás para tirar o povo da Guiana da pobreza", afirmou.
Azruddin Mohamed, "o novo"
Azruddin Mohamed "é a novidade'", afirma Neville Bissember, professor de direito da Universidade da Guiana, ao destacar que esse candidato desafia o sistema bipartidário tradicional do país. Para se candidatar, criou este ano seu próprio partido, o WIN (We Invest in Nation / Investimos na Nação).
É filho de um rico empresário. Nasceu em 1º de março de 1987 em Georgetown e, segundo a imprensa guianense, levou uma vida de "playboy" em sua juventude.
Afirma ter se tornado multimilionário graças à exploração de ouro e foi sancionado pelos Estados Unidos, que o acusa de uma milionária evasão fiscal.
Mohamed promete acabar com a corrupção e romper com as elites políticas. Destaca seu sucesso financeiro, promete gerir melhor o país e assegura que, se for eleito presidente, não aceitará seu salário.
"Ele representa uma quantidade de votos desconhecida, mas claramente incomoda os dois grandes partidos, dos quais tirará sufrágios. Será suficiente para ser eleito? É impossível dizer", observa Bissember.
Com AFP e EFE.