As eleições deste domingo, 30, são consideradas as mais importantes nas últimas décadas na França e tiveram a maior participação do eleitorado desde o início dos anos 1980 (AFP/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 30 de junho de 2024 às 17h34.
Última atualização em 1 de julho de 2024 às 15h17.
O excelente desempenho da extrema direita e de seus aliados de direita no primeiro turno das eleições legislativas na
França neste domingo foi uma ótima notícia para Marine Le Pen, que há anos vem trabalhando para suavizar a imagem de sua legenda, o Reagrupamento Nacional (RN), e torná-la mais palatável para uma maior parte do eleitorado francês.
De acordo com estimativas iniciais divulgadas logo após o fechamento das urnas, às 20h (15h em Brasília), o RN e seus aliados abocanharam 34% dos votos, enquanto a Nova Frente Ampla (NFA), de esquerda, teve 28,1%, contra apenas 20,3% da coalizão de governo do presidente Emmanuel Macron. O tão cobiçado cargo de primeiro-ministro, no entanto, pode ainda fugir ao RN por conta do sistema político francês.
As eleições mais importantes nas últimas décadas na França também tiveram a maior participação do eleitorado desde o início dos anos 1980, segundo a imprensa local. A estimativa é de que chegue a mais de 60%, superando as eleições anteriores, de 2022, em 20 pontos percentuais.
O alto comparecimento às urnas tem um impacto potencial grande no sistema eleitoral francês, que escolhe os 577 deputados e deputadas por distritos eleitorais com um único representante eleito, após uma disputa em dois turnos.
A depender dos resultados do primeiro turno, cada distrito pode ter dois, três ou até mesmo mais candidatos — e uma participação mais alta, que fragmente a votação, pode tornar as disputas de segundo turno ainda mais imprevisíveis.
Com o resultado deste domingo, a estimativa é de que apenas de 65 a 85 cadeiras sejam definidas nesta jornada eleitoral, ficando todo o resto para o próximo domingo. Das cadeiras restantes, entre 150 e 170 devem ser alvo de duelos, com apenas dois candidatos se enfrentando.
Outras 285 a 315 devem ser disputadas por 3 (ou mais) candidatos, de diferentes campos. São estas as disputas que mais podem impactar a configuração final da Assembleia Nacional (AN) após o segundo turno, uma vez que dão margem para a união de dois ou três candidatos de esquerda e centro, ou mesmo da direita moderada — a tradicional "barreira sanitária" francesa — para barrar a ascensão ao poder da extrema direita, vista como um mal maior por muitos.
Como a maioria absoluta na AN é de 289 cadeiras, diante de uma união do centro e das esquerdas — pedida já neste domingo logo após o fechamento das urnas pelo presidente Macron e por líderes esquerdistas — no segundo turno, ficaria mais difícil para o RN conseguir chegar ao número mínimo de deputados para formar governo.
Segundo a previsão do instituto Ipsos Talan, o RN deve ficar com entre 230 e 280 cadeiras no fim do pleito. Já a Nova Frente Popular, de esquerda, pode ficar com 125 a 165 assentos na AN, contra 70 a 100 da coalizão de Macron, e entre 41 e 61 do Republicanos, de direita moderada. Mesmo com os melhores resultados, o RN ainda não conseguiria maioria absoluta.
No entanto, os veículos de imprensa franceses são cautelosos e lembram que a participação eleitoral no segundo turno também é crucial para os resultados. O jornal Le Monde lembra que, em 2022, com uma participação 20 pontos menor do que a deste domingo, as previsões após o primeiro turno eram de que o RN conseguiria entre 10 e 40 cadeiras, e o partido de Le Pen acabou conquistando 89 após o segundo turno.