Javier Milei e Sergio Massa, durante debate no domingo, dia 12 (Luis Robayo/AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 14 de novembro de 2023 às 06h02.
Última atualização em 14 de novembro de 2023 às 07h05.
Economistas do Bradesco avaliam que o peso argentino deve sofrer uma nova desvalorização em breve, e que este processo pode gerar uma nova aceleração da inflação. A poucos dias do segundo turno da eleição presidencial, a Argentina vive uma forte crise, com inflação anual acima de 140% e uma disputa acirrada entre dois candidatos, Sergio Massa e Javier Milei.
"O congelamento da taxa de câmbio oficial desde agosto em AR$350/US$ sugere probabilidade elevada de uma desvalorização, que pode ocorrer antes mesmo da posse em 10 de dezembro", diz uma análise assinada pelo economista Constantin Jancsó, de 8 de novembro.
O documento aponta que, até 11 de agosto, o banco central argentino efetuava minidesvalorizações diárias do câmbio, em média de 7% ao mês em junho e julho. No dia seguinte às primárias, em agosto, o governo fez uma desvalorização do câmbio oficial de 21,8%, e congelou a taxa desde então.
"Na prática, o governo antecipou as desvalorizações diárias planejadas até a eleição, com a expectativa de que, com isso, pudesse reduzir a pressão sobre o mercado cambial e acalmar os mercados até a eleição. No entanto, a desvalorização da cotação oficial do peso deflagrou uma corrida no mercado informal", prossegue o estudo.
O dólar blue, apelido da cotação paralela da moeda americana na Argentina, está atualmente na faixa de 900 pesos por dólar. Em agosto, estava em 600.
"Acreditamos que o piso para a taxa de câmbio oficial após uma desvalorização seja de pelo menos AR$500/US$ (alta do dólar ante o peso de mais de 40%)", prossegue a análise, com base na cotação que os exportadores na prática vem obtendo desde outubro, por meio de regras um tanto complexas, que envolvem liquidar cada parte das transações por cotações diferentes.
"O risco associado a uma desvalorização é de nova aceleração da inflação. Dependerá do comportamento do câmbio nos demais mercados, como o blue e mesmo o CCL, dada a importância destes mercados para a ancoragem de expectativas de preços. E isso depende também das expectativas mais amplas a respeito do futuro da política econômica", considera o estudo.
"Neste sentido, os riscos de aceleração inflacionária parecem maiores se uma eventual desvalorização for implementada isoladamente, sem outras medidas de ajuste econômico (como ocorreu com a desvalorização de agosto). Até a eleição, a incerteza permanecerá elevada, não só porque não sabemos quem vencerá a corrida eleitoral, mas também porque as eventuais escolhas de política econômica do candidato vitorioso são desconhecidas", prossegue o documento.
Atual ministro da Economia, o candidato Sergio Massa defende criar um governo de união nacional e ampliar exportações como forma de recuperar a economia. Já o deputado Javier Milei defende medidas mais radicais, como acabar com o peso, adotar o dólar como moeda oficial e fechar o Banco Central. A votação do segundo turno será realizada neste domingo, 19.
Os economistas do Bradesco apontam, ainda, que o país precisa lidar com a falta de reservas internacionais, que estariam negativas em quase 10 bilhões de dólares, segundo projeção do Bradesco. Eles avaliam que o novo presidente, independente de quem seja, precisará adotar mudanças na economia, porque o modelo atual está esgotado.
"Aumentaram as expectativas de que a Argentina buscará implementar um programa de estabilização tradicional, incluindo esforço fiscal (negociado com o FMI), medidas para normalizar o regime cambial e recompor as reservas internacionais, privatização etc. Essa parece ser a melhor explicação para a valorização do peso argentino no mercado paralelo desde a eleição", dizem os especialistas do banco.