Ilustração postada por Milei para celebrar apoio de Patricia Bullrich (X/Reprodução)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 28 de outubro de 2023 às 08h48.
Uma ilustração colorida, que mostra um leão e uma pata se abraçando de modo carinhoso, foi uma das imagens da semana na disputa eleitoral da Argentina. O deputado Javier Milei, que chegou ao segundo turno prometendo acabar com o sistema político tradicional, usou esse desenho para celebrar o apoio recebido de Patricia Bullrich, política de longa data que foi a terceira colocada na votação do primeiro turno.
O anúncio de Bullrich veio na quarta, 25, três dias depois da votação, e foi feito de modo pessoal.
Ela e o candidato a vice, Luis Petri, disseram que apoiariam Milei sem representar uma decisão do partido. A aproximação dos dois já vinha desde domingo, 22, quando ambos fizeram discursos atacando o governo, após a divulgação do resultado das urnas. No primeiro turno, o ministro da Economia, Sergio Massa, liderou a votação, com 36% de preferência. Milei teve 30% e Patricia, 23%.
“A urgência do momento exige que não fiquemos neutros diante do perigo da continuidade do kirchnerismo. Há 20 anos que Cristina [Kirchner], [Alberto] Fernandéz e [Sergio] Massa e outros mais nos afundam na decadência. A Argentina não pode ter outro ciclo kirchnerista, isso traria uma nova etapa histórica liderada por um populismo corrupto que pode levar a Argentina a uma decadência final”, disse ela, ao explicar sua decisão.
Depois do anúncio, na quarta-feira, Milei e Bullrich foram a um programa de TV e posaram abraçados para fotos, com os dois sorrindo. "Quero destacar a grandeza da senhora Bullrich, que me deu apoio incondicional", disse Milei, em outro programa, na sexta.
Outro apoio que o ultraliberal ficou feliz em receber foi o do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019). “A proposta de mudança neste segundo turno é Javier Milei”, afirmou, em entrevista a uma rádio.
Milei, que fez discursos furiosos contra a classe política, que ele chama de "casta", agora aparece confortável ao lado de uma ex-ministra da segurança e de um ex-presidente que não conseguiu resolver a crise econômica argentina e não se reelegeu em 2019.
O deputado precisa conquistar os eleitores de Bullrich para chegar à Presidência. Na prática, ele não conseguiu conquistar novos eleitores entre as primárias, em agosto, e a votação do primeiro turno: ficou com cerca de 30% de preferência nos dois pleitos.
Embora a aproximação com a política tradicional possa afastar eleitores mais radicais, esse risco é pequeno, pois a outra opção seria votar em Massa, que faz parte do atual governo.
Milei também precisará do apoio do Juntos por el Cambio (JxC), partido de Bullrich e Macri, para governar, caso seja eleito. Seu partido, A Liberdade Avança, conquistou só 37 das 257 cadeiras, o que torna impossível aprovar medidas sem apoio de outras legendas. O JxC soma 93 assentos, e o Union por la Patria, governista, 108 deputados. No entanto, o JxC está rachado, e nomes importantes do partido, como o prefeito de Buenos Aires, Horacio Larreta, não o endossaram.
Outra cena que marcou a semana foi a de Milei dando respostas um tanto confusas em uma entrevista na TV. Ele parecia bastante cansado, reclamou de ruídos no estúdio que o impediam de pensar e comemorou que a postagem com o leão e a pata teve mais de 1 milhão de curtidas em uma rede social. "Enquanto há caras vendo a imagem em computadores, há senhoritas vendo essa imagem pela internet... Estou no meio de seus lençóis", disse.
As próximas semanas mostrarão se o Milei no modo "leão fofo" voltará a aparecer ou se teve a vida curta como a de um story do Instagram.