Manifestações sobre mudanças climáticas na Alemanha: partido verde se tornou a segunda maior força política no país (NurPhoto / Contributor/Getty Images)
Gabriela Ruic
Publicado em 27 de maio de 2019 às 16h27.
Última atualização em 28 de maio de 2019 às 11h40.
São Paulo – As eleições europeias de 2019 foram tudo, menos tediosas. Se havia o temor de que um tsunami nacionalista e eurocético pudesse alavancar a participação no Parlamento Europeu, o mesmo foi diluído pelo fortalecimento dos partidos verdes neste novo desenho parlamentar da União Europeia. A onda verde chegou e deve proteger não só o meio ambiente, mas também a integração da região.
Na Alemanha, país que detém o maior número de cadeiras no Parlamento Europeu, 96, “Die Grünen” (“Os Verdes”, em português), se tornaram a segunda maior força partidária. Com 21% dos votos, e uma base eleitoral majoritariamente jovem, o partido agora está atrás dos conservadores do CDU, o partido de Angela Merkel, e à frente dos socialdemocratas do SPD.
O bom desempenho dos verdes, que são cerca de 30 partidos reunidos em nível europeu sob a bandeira de proteção climática e justiça social, reverberou por toda Europa. Na Finlândia e na França, também ficaram em segundo na preferência do eleitorado, enquanto em Portugal, o partido verde conquistou seu primeiro assento no Parlamento Europeu. Na Irlanda e Holanda, os resultados também foram positivos.
“Isso mostra que os jovens, sobretudo na Alemanha, querem uma nova política, novos partidos, mas não necessariamente os radicais”, analisou Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV. “Esses eleitores não enxergam o meio ambiente como política, e sim como um tema que precisa estar inserido em todos os debates”.
Mais do que uma discussão ambiental, contudo, a vitória dos verdes mostrou que a ideia de unidade europeia, ameaçada pelas forças nacionalistas e eurocéticas, continuará preservada, pelo menos nesta nova legislatura que segue até 2024. “Esses partidos tem uma visão mais consolidada da Europa, que era a principal questão em jogo nessas eleições”, explicou Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais da ESPM.
Consideradas a mais importantes em décadas, as eleições parlamentares de 2019 consolidaram a derrocada dos partidos centristas, à esquerda e à direita, embora estas siglas continuem como os maiores blocos no Parlamento Europeu, agora com menos assentos.
As últimas projeções mostram que esses partidos terminarão com 329 assentos, longe da maioria que asseguraram por décadas. Nesse sentido, o alinhamento com os verdes, cujo bloco Grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia deve terminar com 71 posições, poderá se mostrar fundamental para uma aliança pró-integração europeia nos 751 postos da instituição.
O apoio dos verdes, no entanto, não deve ser automático, tampouco virá gratuitamente. “Qualquer bloco terá o nosso apoio desde que se comprometa com nossos princípios: ação climática, liberdades civis e justiça social. Para nós, está claro: o que importa é o conteúdo”, disse a parlamentar alemã Ska Keller, uma das maiores lideranças verdes na União Europeia.
No horizonte dos verdes, certamente estará embates com os partidos nacionalistas e eurocéticos. “Temos que decidir se somos a Europa que defende a democracia ou apenas uma coleção de estados nacionais fortes”, disse o holandês Bas Eickhout, outro líder verde que também estará no Parlamento Europeu.
É bem verdade que o desempenho dos partidos verdes surpreendeu positivamente num momento no qual a integridade do bloco europeu foi posta à prova. Houve, no entanto, certo avanço dos partidos nacionalistas e eurocéticos, porém sem o vigor que suas lideranças anteciparam.
“Esses partidos devem controlar 23% do Parlamento Europeu. É significativo? Sim, mas não o suficiente para possibilitar que eles governem”, analisou Oliver Stuenkel, “e precisamos lembrar que essas forças têm mais dificuldade em construir consenso e, portanto, terão dificuldades em estruturar uma estratégia coesa de ação”, notou.
De acordo com Leonardo Trevisan, a avalanche nacionalista não se consolidou, embora alguns países-chave, como a França, tenham sinalizado problemas. “Macron, o atual presidente, perdeu em número de cadeiras para o partido de sua rival da extrema-direita, Marine Le Pen, e isso é um indicador que exige cautela e é preocupante", analisou. Preocupante e muito, já que mostra que o futuro da Europa e seu projeto de integração continuará tenso.