Hillary e Donald Trump: o mundo conhecerá em breve quem será o novo presidente dos EUA (Getty Images)
Gabriela Ruic
Publicado em 4 de novembro de 2016 às 06h00.
Última atualização em 7 de novembro de 2016 às 18h23.
São Paulo – Esta terça-feira, 8 de novembro, será decisiva para os Estados Unidos: é o dia em que os eleitores vão definir quem desejam ver como o novo presidente da maior potência do planeta pelos próximos quatro anos.
Até o momento, a escolha da presidência vem sendo tudo menos tediosa. Iniciada com mais de vinte candidatos, a corrida foi surpreendente, com a ascensão do senador de Vermont, Bernie Sanders, como rival direto da democrata Hillary Clinton, e dramática, com o racha entre os republicanos pela consolidação de Donald Trump como candidato oficial.
Nos próximos dias, no entanto, a expectativa é de mais tensão, uma vez que o resultado que as urnas vão trazer no dia 8 de novembro é ainda imprevisível. Com isso em mente, EXAME.com preparou um guia para explicar alguns pontos importantes do processo eleitoral americano, sem dúvidas um dos mais complexos do mundo, e mostra o panorama atual das eleições.
Entre os dois principais partidos, Partido Democrata e Partido Republicano, os candidatos são a ex-secretária de Estado de Obama, Hillary Clinton, e o magnata Donald Trump, respectivamente.
Há, no entanto, dois outros nomes disputando a presidência, porém com chances mínimas de alcançarem o posto. São eles Jill Stein, uma médica e ambientalista de Chicago que concorre pelo Partido Verde dos EUA, e Gary Johnson, ex-governador do estado do Novo México e candidato pelo Partido Libertário.
Inconclusivas. Ao longo de toda a corrida eleitoral, o cenário entre Hillary e Trump foi acirrado, embora a ex-secretária de Estado tivesse figurado na liderança na maioria delas.
Até o final desta semana, a pesquisa conduzida pela rede de notícias CNN, e que é feita com base em todas as maiores pesquisas de intenção de voto, mostrava Hillary com 46% da preferência dos eleitores, contra 42% para Trump. Stein figurava com 3% e Johnson com 4%.
Esse resultado é condizente com o obtido pela pesquisa feita nos mesmos moldes pelo jornal The New York Times. Nesse caso, a democrata reunia 45,7% das intenções de voto contra 42,6% do republicano.
No que diz respeito às pesquisas com os eleitores do Colégio Eleitoral, que na prática elegem o presidente, até o final desta semana, Hillary contava com 272 votos e Trump 179, em pesquisa da CNN. Já em projeções conduzidas pelo site Fifty Thirty Eight, do consagrado estatístico Nate Silver, Hillary tem quase 292 votos contra 245 de Trump.
São necessários ao menos 270 votos para que um candidato seja eleito oficialmente o presidente.
O último debate entre Hillary e Trump aconteceu no dia 19 de outubro e foi permeado por ataques pessoais por todos os lados.
Para a maioria dos analistas ouvidos por veículos como a rede CNN e os jornais The New York Times e The Washington Post e, ambos tiveram seus momentos, para o bem e para o mal, em outro sinal de que o resultado desta terça-feira, 8 de novembro, ainda é imprevisível.
À CNN, Brett Talley, que fez parte da campanha do republicano Mitt Romney nas eleições presidenciais de 2012, classificou ambos candidatos como “horrivelmente falhos”.
Já James Astill, da renomada The Economist, elogiou a democrata ao NYT, dizendo que “vez após vez, ela destruiu o Trump”. Para Chris Cillizza, do The Washington Post, aquela foi a melhor performance de Hillary em todos os debates.
Nos Estados Unidos, a participação eleitoral não é obrigatória e, na maioria dos estados, os eleitores não são registrados automaticamente. É preciso reafirmar essa condição de eleição em eleição.
De acordo com estatísticas do governo do país, há atualmente 219 milhões de pessoas aptas a votar, mas menos de 147 milhões de pessoas se registraram para este pleito. Esse número está acima do que foi observado em 2012, quando pouco mais de 126 milhões de americanos participaram das eleições presidenciais.
Só será possível saber quem, afinal, sucederá a Obama na Casa Branca no ano que vem, depois da reunião do chamado Colégio Eleitoral. Embora o resultado do voto popular seja divulgado assim que a contagem dos votos terminar (possivelmente nas primeiras horas da manhã do dia 9 de novembro no Brasil), sem a manifestação do Colégio Eleitoral o nome do novo presidente não é oficializado, é apenas apontado quem é o virtual vencedor.
O processo é complexo no Colégio Eleitoral, uma vez que cada estado tem a prerrogativa de definir suas regras em relação aos eleitores que participam ou não dessa fase de escolha. Em linhas gerais, é formado por um grupo de 538 eleitores, geralmente apontados pelos próprios partidos, e o candidato vencedor é aquele que conseguir 270 desses votos.
Na prática, os americanos votam nos eleitores que irão representar os seus estados no Colégio Eleitoral e não nos candidatos de sua preferência. O total de eleitores por estado depende diretamente do número de representantes que ele tem no Congresso.
Depois da eleição na qual os cidadãos comuns votam, como a que acontecerá no dia 8 de novembro, os governadores preparam então um termo com os nomes do candidato vencedor e dos eleitores escolhidos para representar esse estado na escolha do presidente.
Esses eleitores, no entanto, não estão vinculados a manter seus votos no candidato vencedor. Mas, explicou Márcio Coimbra, coordenador do MBA de Relações Institucionais do Ibmec e diretor do Comitê de Política Acadêmica do Institute of World Politics (EUA), é mínima a chance de que um deles mude de ideia.
Historicamente falando, a instituição do Colégio Eleitoral remonta a fundação dos Estados Unidos e é parte da Constituição do país. A ideia então era a de encontrar um meio termo entre a escolha do presidente via votos do Congresso e via o voto popular, isto é, via eleitores preparados especificamente para essa tarefa.
A votação pelo Colégio Eleitoral deve acontecer entre os dias 13 e 19 de dezembro. Em 28 de dezembro, os votos são enviados ao Presidente do Senado. Já em 2017, dia 6 de janeiro, o Congresso se reunirá para contar esses votos e o vencedor é finalmente anunciado. A posse acontece no dia 20 com o chamado “Dia da Inauguração”.
Na ocasião de nem Hillary e nem Trump conseguirem os 270 votos no Colégio Eleitoral, a decisão sobre quem será o presidente e o vice recai sobre o Congresso. Na Câmara dos Representantes é escolhido o presidente, entre os três primeiros colocados, enquanto o vice é votado pelo Senado, considerando os dois primeiros colocados. No entanto, esse problema aconteceu apenas uma vez em toda a história dos Estados Unidos. Em 1824, mais especificamente, na eleição de John Quincy Adams.
Sim, uma vez que é possível que um candidato seja o vencedor em uma combinação de estados, mas não conquiste a marca de 270 votos no Colégio Eleitoral. E isso já aconteceu quatro vezes na história dos EUA. A mais recente delas foi em em 2000, durante a disputa entre o democrata Al Gore, que venceu no voto popular, e o republicano George W. Bush, que teve um desempenho melhor no colégio eleitoral.
Novamente, é necessário trazer à tona a história dos Estados Unidos, que nos idos do século XIX era um país majoritariamente agrário como tantos outros. Segundo a Federal Election Commission, no mês de novembro, a maioria dos agricultores teriam finalizado as colheitas do outono, estando livres para viajar e votar. Além disso, o clima estaria amigável o suficiente para que as estradas de terra estivessem em boas condições.
Ainda de acordo com o órgão, as eleições acontecem sempre às terças, pois os domingos eram reservados para os serviços religiosos. E isso permitia ainda que as pessoas que moravam longe dos locais de votação pudessem iniciar suas viagens às segundas, chegando em tempo para votar na terça. A ideia também visava afastar o pleito do dia 1 de novembro, já que esse é um feriado sagrado para os católicos e era o dia em que a maioria dos comerciantes fazia a contabilidade do mês anterior.