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Eleições: Equador tem derrota do correísmo e Peru aguarda resultados

Em fim de semana de eleições na América do Sul, o Equador elegeu o ex-banqueiro Guillermo Lasso, em histórica derrota do correísmo no país

Guillermo Lasso: após ser derrotado em duas eleições, ex-banqueiro venceu candidato do correísmo no Equador (Maria Fernanda/Reuters)

Guillermo Lasso: após ser derrotado em duas eleições, ex-banqueiro venceu candidato do correísmo no Equador (Maria Fernanda/Reuters)

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Carolina Riveira

Publicado em 12 de abril de 2021 às 06h00.

Última atualização em 12 de abril de 2021 às 07h08.

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A semana começa com a repercussão do combo de eleições na América do Sul neste fim de semana. O principal destaque fica por conta do Equador, que realizou no domingo, 11, o segundo turno de suas eleições presidenciais elegendo pela primeira vez em 14 anos um candidato não ligado ao correísmo. Enquanto isso, no primeiro turno no Peru, em uma eleição embolada com 18 candidatos e muitos empatados, a apuração segue em andamento para o segundo turno, mas traz uma surpresa com o professor Pedro Castillo à frente.

No Equador, o ex-banqueiro conservador Guillermo Lasso, de 65 anos, se consagrou vencedor com quase 53% dos votos (até as primeiras horas desta segunda-feira, eram 97% das urnas apuradas, já sem chance de que o resultado mudasse). Lasso derrotou o economista de esquerda Andrés Arauz, apoiado pelo ex-presidente Rafael Correa (2007-2017), que ficou com pouco mais de 47% dos votos.

A vitória do candidato do "Movimiento CREO - Creando Oportunidades", partido conservador de Lasso e de visão econômica liberal, é marcante por ser a primeira de um candidato não alinhado ao chamado "correísmo" desde 2007, quando Rafael Correa se elegeu pela primeira vez.

Embora Correa hoje viva na Bélgica e esteja impedido de se candidatar no Equador, sua figura seguiu presente no pleito, fazendo da eleição uma espécie de referendo entre os opositores do correísmo e os defensores do ex-presidente, ainda que Arauz tenha tentado empregar uma "cara nova" à esquerda equatoriana.

Lasso tentava, há anos, vencer a disputa presidencial no Equador, tendo perdido em outras duas eleições, em 2013 e 2017. No pleito passado, em 2017, perdeu para o atual presidente, Lenín Moreno, então candidato do correísmo, mas que rompeu com Rafael Correa na metade do mandato e hoje adota políticas tida como excessivamente neoliberais pelo grupo de oposição, incluindo uma criticada dívida adquirida junto ao FMI.

A vitória com folga de Lasso é uma relativa surpresa no Equador, uma vez que as pesquisas não apontavam um vencedor claro e muitas traziam Arauz à frente. A apuração no Equador começou pouco depois das 17h, e Lasso se manteve na frente durante toda a contagem.

No primeiro turno, Lasso também havia ficado em segundo (19,74% dos votos), ante 32,72% de Arauz. O banqueiro quase não chegou ao segundo turno, ficando apenas 33.000 votos à frente do terceiro colocado, o líder indígena Yaku Pérez (19,38%), de pautas sobretudo ambientais.

Pérez chegou a alegar fraude na votação e pediu a seus apoiadores que votassem branco no segundo turno, por não apoiar nenhum dos dois candidatos. Houve 16% de votos nulos, um valor recorde, que mostra o descontentamento dos equatorianos com os dois nomes na urna.

Lasso foi parabenizado por vários líderes de direita da América do Sul, como o ex-presidente argentino Mauricio Macri e o ex-presidente da Colômbia, Álvaro Uribe. O ex-presidente da Bolívia (pré-Evo Morales), Jorge Quiroga, disse que o "11 de abril ficará selado como o dia em que o Equador se libertou do correísmo e que a América Latina se libertou do chavismo", contra o que chamou de "autocracias".

O presidente eleito terá de lidar sobretudo com a nova onda de casos da covid-19 que assola toda a América do Sul, afetada pela variante brasileira do coronavírus, a P1. No começo da pandemia, o Equador viu o sistema de saúde e funerário colapsar, chegando a ter corpos nas ruas. A economia está devastada, com desemprego em mais de 30% e queda de 8% do PIB em 2020. A vacinação chegou a menos de 2% da população.

O presidente eleito, que tomará posse em maio, diz que deseja abrir a economia, atrair investidores internacionais, reduzir impostos, investir no agronegócio oferecendo crédito barato e criar 2 milhões de empregos.

Lasso foi presidente do Banco Guayaquil do Equador por quase 20 anos, além de ter tido passagem pela Coca-Cola e rapidamente como ministro da Economia do governo de Jamil Muhuad (presidente do Equador entre 1998 e 2000).

Um dos principais temas será a dívida recém-adquirida pelo Equador de 6,5 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional (FMI). A dívida junto ao FMI feita por Lenín Moreno foi duramente criticado por Arauz e pelo grupo à esquerda, que dizia que, se eleito, renegociaria os valores junto ao fundo diante da crise gerada pela pandemia. Lasso, no entanto, prometeu manter os pagamentos.

Resultados no Peru

Enquanto isso, o Peru aguardava ainda a confirmação dos resultados oficiais até a madrugada desta segunda-feira, processo que na eleição de 2016 durou mais de um dia. A Justiça eleitoral no país já afirmou que os resultados oficiais podem demorar devido à dificuldade de chegada das urnas de regiões remotas.

O professor de esquerda Pedro Castillo e o economista de direita Hernando de Soto lideram a apuração do primeiro turno da eleição presidencial no Peru, de acordo com um relatório parcial do Escritório Nacional de Processos Eleitorais (ONPE), após a contagem de apenas 16% dos votos. Castillo tem 15,7% e De Soto 14,4%, o que confirma a necessidade de segundo turno, programado para 6 de junho.

Em terceiro lugar aparece o empresário ultraconservador Rafael López Aliaga com 13,1%, seguido por Keiko Fujimori (direita populista) com 12,1%, informou o ONPE.

"Hoje o povo peruano acaba de tirar a venda dos olhos", disse Castillo, um professor e sindicalista de 51 anos, em sua cidade natal Cajamarca (norte).

"É evidente que a margem é estreita", declarou De Soto, de 79 anos.

Pedro Castillo: candidato de esquerda liderava boca de urna no Peru na noite de domingo (Sebastián Castañeda/Reuters)

Na sequência vêm empatados o economista liberal e de direita Hernando de Soto (o candidato que mais cresceu ante as pesquisas com exceção de Castillo) e a candidata de direita Keiko Fujimori (política tradicional e filha do ex-ditador Alberto Fujimori), ambos com 11,9%, segundo levantamento Ipsos divulgado pelo canal América Televisión.

Se confirmado, esse cenário caracterizaria uma polarização entre candidatos fortemente alinhados à esquerda e à direita no segundo turno. Mas o pleito segue imprevisível, com cada novo voto contabilizado podendo mudar o resultado.

Pouco atrás estão ainda Yonhy Lescano, de centro-direita (com 11%, e que liderava por alguns pontos percentuais nas pesquisas), o empresário de ultradireita Rafael López (10,5%, que promete combater o que chama de "a nova ordem marxista") e a esquerdista Verónika Mendoza (8,8%).

A pesquisa de boca de urna tem 3% de margem de erro para mais ou para menos, de modo que só é possível garantir que um candidato está à frente se tiver 6% a mais do que o rival.

A eleição no Peru teve 18 candidatos, a maioria deles tentando se vender como outsiders políticos, em meio à ampla desconfiança que tomou conta do eleitorado após escândalos de corrupção envolvendo a Odebrecht. O país teve quatro presidentes nos últimos dois anos depois que o último eleito, o ex-banqueiro Pedro Pablo Kuczynski, deixou o cargo no meio do mandato em meio a acusações de corrupção e terminou sendo preso.

No Peru, todos os últimos ex-presidentes foram presos ou processados em meio a escândalos de corrupção. Nas pesquisas de opinião, nenhum candidato neste primeiro turno superava 15% dos votos, com os cinco primeiros empatados tecnicamente, e mais de um terço da população não sabia em quem votar.

Como no Equador, o Peru teve um começo desastroso na pandemia no ano passado. O país de 33 milhões de habitantes é até hoje o com mais mortos por milhão na América Latina e o 17º no mundo (o Brasil é o 18º, segundo o portal Worldometers). A segunda onda do coronavírus que já assola a América do Sul é ainda uma preocupação crescente, com o Peru tendo vacinado menos de 3% da população até agora.


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