Castillo e Keiko: a ex-congressista começou liderando, mas Castillo virou com votos do Peru rural (Sebastian CASTANEDA / POOL/AFP)
Da Redação
Publicado em 6 de junho de 2021 às 21h42.
Última atualização em 9 de junho de 2021 às 12h36.
Esta reportagem foi atualizada pela última vez na segunda-feira, 7. Acompanhe ao vivo neste link os resultados mais recentes da apuração no Peru.
Os eleitores peruanos foram às urnas no Peru neste domingo, 6, para decidir a presidência do país na disputa do segundo turno entre a direitista Keiko Fujimori, do Fuerza Popular, e o esquerdista Pedro Castillo, do Perú Libre.
Na noite desta segunda-feira, 7, Fujimori divulgou comunicado afirmando, sem apresentar provas, que recebeu denúncias de fraude e questionando a apuração dos votos. O processo é feito pelo órgão oficial ONPE, sigla em espanhol para Escritório Nacional de Processos Eleitorais do Peru.
A Organização dos Estados Americanos (OEA), que enviou uma missão ao Peru para acompanhar a eleição, havia dito mais cedo que o processo eleitoral no país ocorrera de forma democrática e sem maiores problemas.
Apoiadores de Castillo, que lidera a apuração, se reúnem neste momento no centro de Lima com críticas às acusações de Fujimori e gritos de "não à fraude", segundo o jornal El País.
Fujimori começou a apuração liderando com os votos das regiões próximas a Lima, mas perdeu a dianteira no começo da tarde à medida em que chegavam mais votos das regiões rurais.
Ainda não há um resultado oficial do ONPE, e é comum que as eleições no Peru, pela distância dos distritos mais afastados, demorem a ter um vencedor declarado.
Dos votos que faltam serem apurados, há sobretudo as cédulas de peruanos no exterior, onda há liderança com folga de Fujimori, e de distritos mais rurais dentro do Peru, onde Castillo tem mostrado vantagem.
A pesquisa Ipsos Perú/América TV de boca de urna divulgada no domingo, mostrou um empate técnico entre os candidatos, com Fujimori registrando 50,3% dos votos e Castillo, 49,7%. Depois, uma contagem rápida de votos do mesmo instituto rendeu um resultado inverso, com 50,2% para o professor da escola rural e 49,8% para a filha do ex-presidente Alberto Fujimori.
A contagem rápida, que tem margem de erro de 1%, "nunca deu errado" nas eleições presidenciais peruanas, disse no Twitter Fernando Tuesta, ex-chefe do ONPE.
Devido à margem pequena entre os candidatos, havia entre as autoridades um temor sobre acusações de fraude e contestações do resultado. Em 2016, data da última eleição, que elegeu o banqueiro Pedro Pablo Kuczynski (o PPK), Fujimori, então sua rival, já havia contestado o resultado.
“Tem havido uma série de irregularidades que nos preocupam e acreditamos que é importante mostrar isso, e sobretudo chamar os cidadãos para nos ajudar a saber se existem outras irregularidades como as que foram reveladas ao longo destes dias”, disse Fujimori em comunicado à imprensa nesta segunda-feira.
O Peru vive uma profunda crise institucional. Todos os ex-presidentes recentes, além de outros políticos importantes, como a própria Keiko Fujimori, estão envolvidos em acusações de corrupção.
A crise política no Peru fez com que no primeiro turno o país tivesse nada menos que 18 candidatos na disputa, nenhum deles tendo mais de 20% dos votos nas pesquisas.
No primeiro turno, nenhum dos candidatos que chegou ao segundo turno teve o apoio da maioria do eleitorado: Castillo venceu o primeiro turno com 18,9% votos e Keiko teve 13,4%.
Representando o establishment político e a continuidade do projeto neoliberal de seu pai, Keiko chegou ao segundo turno apesar de ser acusada de lavagem de dinheiro e ver seu partido envolvido com o escândalo da Lava Jato peruana. É a terceira vez que a ex-deputada concorre.
Castillo foi a grande surpresa da eleição: nenhuma pesquisa ou analista falava em tê-lo na disputa do segundo turno. Nascido na região de Cajamarca, o professor primário e ativista liderou o primeiro turno representando a extrema esquerda e prometendo políticas marxistas e leninistas.
Com 51 anos, Castillo nega ser chavista, mas defende um papel econômico ativo do Estado na economia. O professor representa hoje uma ala que diz ser uma opção ao establishment político, mas sua posição é ainda uma incógnita. Ele historicamente se diz contra políticas identitárias, como direitos de LGBT e de mulheres, o que atraiu parte dos votos de peruanos mais conservadores fora dos grandes centros.
Na outra ponta, a tendência é que se alie a esses grupos da esquerda mais progressista para governar no caso de uma vitória. Nos últimos dias, Castillo recebeu apoio de nomes como o presidente argentino, Alberto Fernández, e o ex-presidente uruguaio, Pepe Mujica, que pediu nas redes sociais que Castillo se atenha à democracia.
(Com informações do Estadão Conteúdo)