Eleições África do Sul: O presidente sul-africano Cyril Ramaphosa (à esquerda), John Steenhuisen da Aliança Democrática (centro) e o líder dos Combatentes pela Liberdade Econômica Julius Malema (à direita) (AFP/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 3 de junho de 2024 às 07h23.
O ANC conquistou apenas 159 das 400 cadeiras nas eleições de quarta-feira, segundo os resultados oficiais.
Este é o pior resultado para o partido que chegou ao poder em 1994 com o líder emblemático da luta contra a segregação racial do apartheid, Nelson Mandela, e que governa com maioria absoluta desde então.
Em uma declaração emitida depois de conhecer os resultados, Ramaphosa urgiu todos os partidos a respeitarem o resultado e a trabalharem juntos.
"Nosso povo se pronunciou, gostemos ou não", disse o mandatário que aspira permanecer no cargo.
"Como líderes dos partidos políticos [...] devemos respeitar seus desejos", acrescentou Ramaphosa, em uma mensagem aparentemente direcionada ao ex-presidente Jacob Zuma, que disputou as legislativas com um novo partido.
Zuma, ex-dirigente do ANC, assinalou que tem a intenção de contestar os resultados.
O novo Parlamento deverá se reunir em duas semanas com a tarefa de eleger um presidente para formar um governo.
"O ANC está empenhado em formar um governo que reflita a vontade do povo, que seja estável e capaz de governar eficazmente", disse o secretário-geral do partido, Fikile Mbalula, em coletiva de imprensa.
O partido deve negociar um governo de coalizão ou pelo menos convencer outros partidos a apoiarem a reeleição de Ramaphosa no Parlamento para lhe permitir formar um governo em minoria.
Mbalula indicou que as discussões seriam realizadas internamente e com outros grupos "nos próximos dias".
Helen Zille, membro do comitê diretor da DA, afirmou que todas as opções estavam sobre a mesa, incluindo permitir que o ANC governasse sozinho, em minoria.
Em seguida, com 49 deputados, ficou o partido Umkhonto We Sizwe (MK), criado há apenas seis meses por Zuma.
Em quarto lugar ficaram os Lutadores pela Liberdade Econômica (EFF), de esquerda radical, de Julius Malema, ex-militante do ANC.
Alguns observadores sugeriram que, como ex-membros do ANC, Malema e Zuma seriam parceiros naturais da coalizão governante.
No entanto, outros analistas consideram que as suas exigências seriam difíceis de satisfazer e não veem como fácil uma reaproximação entre Ramaphosa e Zuma, que teve que renunciar à Presidência em 2018 devido a acusações de corrupção.
O MK afirmou que não negociará com o ANC enquanto Ramaphosa for seu líder.
Questionado sobre a razão pela qual Zuma não esteve presente no anúncio dos resultados deste domingo, o porta-voz do MK, Nhlamulo Ndhlela, disse que comparecer seria o equivalente a "endossar uma declaração ilegal".
Apesar das dificuldades, os Estados Unidos louvaram o processo. O porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, parabenizou nas redes sociais os sul-africanos por "servirem como um estandarte da democracia na África e no mundo".
O ANC mantém a lealdade de muitos eleitores pelo seu papel na queda do apartheid.
No entanto, alguns altos funcionários do partido se envolveram em escândalos de corrupção, à medida que a economia mais industrializada do continente definhava e os números da criminalidade e do desemprego atingiam máximos históricos.