Mundo

Eleições 2018: o que pensa Álvaro Dias sobre política externa

EXAME questionou os candidatos à presidência sobre os desafios em política externa que o Brasil enfrenta. Veja a entrevista de Álvaro Dias

Álvaro Dias, candidato à presidência pelo Podemos (Adriano Machado/Reuters)

Álvaro Dias, candidato à presidência pelo Podemos (Adriano Machado/Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 6 de setembro de 2018 às 06h00.

Última atualização em 24 de setembro de 2018 às 09h05.

São Paulo - Crise na Venezuela, refugiados, integração latino-americana e Donald Trump são alguns dos desafios que o próximo presidente enfrentará em sua agenda de política externa, um tema que é frequentemente ignorado nos debates, mas extremamente relevante em um momento em que o cenário internacional se torna cada vez mais complexo.

Para entender como os candidatos à presidência se posicionam sobre esses assuntos, EXAME está entrevistando os principais nomes na disputa das eleições 2018. Abaixo, veja a entrevista realizada com o Álvaro Dias (Podemos).

EXAME - Como o seu governo pretende lidar com a imigração de venezuelanos para o Brasil e qual será a sua postura em relação ao governo de Nicolás Maduro, se eleito?

Álvaro Dias - É fato notório que a Venezuela vivencia a maior crise política, social e econômica de sua história.

Em relação à consequente crise humanitária, vale lembrar que o Direito Internacional dos Direitos Humanos estabelece que países e seus governantes devem obrigatoriamente promover e proteger os direitos humanos e as liberdades de grupos ou indivíduos. É com esse entendimento e convicção pessoal que defendo as medidas que visam a impulsionar o restabelecimento da ordem democrática na Venezuela, tanto no âmbito da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), quanto na Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas.

Sabemos que a crise na Venezuela é igualmente econômica – com desemprego galopante, astronômica taxa de inflação e ampliação do mapa da fome –, o que responde pelo alarmante fluxo migratório de venezuelanos não somente em direção ao Brasil, mas também à Colômbia e outros países latino-americanos.

Neste particular, e do ponto de vista do Direito Internacional e da Lei brasileira sobre o refúgio, não há o que se questionar em relação à obrigatoriedade do Estado brasileiro em acolher os imigrantes venezuelanos sob a condição de refugiados.

Para a crise dos refugiados venezuelanos, portanto, defendo que as respostas não sejam dadas com exclusividade pelo setor de segurança pública. Há demora do governo federal em assumir suas responsabilidades e em coordenar uma resposta conjunta e eficiente dos entes federados, notadamente com o governo de Roraima e a administração da cidade de Boa Vista.

EXAME - Atuar por uma maior integração com a América Latina será uma prioridade em seu governo?

Álvaro Dias - É bastante salutar reservar atenção ao processo de integração regional. Um relacionamento diplomático amistoso, realista e pragmático, sem qualquer ingrediente ideológico.

EXAME - O narcotráfico é hoje uma das maiores ameaças à segurança nacional e é uma questão que não está dissociada da política externa, uma vez que envolve países vizinhos. Qual é a sua proposta para combater o tráfico internacional?

Álvaro Dias - Defendo a criação de uma frente ampla de combate às drogas na América Latina. Um pacto entre os países latino-americanos, sob a supervisão da Organização dos Estados Americanos (OEA), com o envolvimento dos líderes políticos locais. É importante definir uma estratégia de prevenção e repressão para os próximos quatro anos.

EXAME - O Mercosul e a União Europeia estão em negociação há anos por um acordo de livre-comércio entre os blocos. Qual é a posição do senhor sobre este acordo?

Álvaro Dias - Sou favorável a celebração de um acordo entre o Mercado Comum do Sul e o bloco econômico europeu. A possibilidade de acordo entre Mercosul e a União Europeia ganhou recentemente um novo fôlego e devemos aproveitar o bom momento, fortalecendo as negociações.

EXAME - Qual é a importância que o grupo dos BRICS terá em seu governo?

Álvaro Dias - No tocante ao BRICS (bloco de concertação essencialmente político formada por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) considero saudável imprimir uma perspectiva mais econômico-comercial às relações intra-bloco, fortalecendo sua musculatura.

EXAME - A guerra comercial entre China e Estados Unidos afeta o Brasil diretamente em diferentes segmentos. Qual será a sua estratégia para lidar com a disputa comercial?

Álvaro Dias - As tensões advindas dessa disputa projetam uma desaceleração do crescimento global que prejudicam os mercados emergentes nas exportações e investimentos estrangeiros. É preciso adotar uma estratégia de acompanhamento permanente dessa disputa comercial, cautela e muito pragmatismo. É preciso antecipar ações para minimizar eventuais danos e efeitos colaterais da guerra comercial em curso.

EXAME - O multilateralismo vem sendo colocado em xeque pelos Estados Unidos. O senhor é favor do fortalecimento das organizações multilaterais, como a ONU e a OMC? Ou pretende focar nas negociações bilaterais?

Álvaro Dias - Navegar na complexidade de uma ordem internacional em plena transformação exige, sem dúvida, a formulação de estratégias concomitantes e não excludentes, tanto na esfera da diplomacia bilateral como multilateral.

Nesse contexto, defendo um entendimento político-diplomático que assegure um posicionamento mais assertivo junto aos organismos multilaterais, reforçando a presença e atuação do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU), bem como na Organização dos Estados Americanos (OEA), Organização Mundial do Comércio (OMC), entre outros.

Metodologia EXAME

As perguntas que compõem a entrevista deste especial foram compiladas com base em entrevistas realizadas por EXAME com especialistas em política externa de diferentes setores e organizações. Participaram embaixadores e empresários do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) e pesquisadores de instituições como o Instituto de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), da Puc-Rio, da ESPM e das Faculdades Integradas Rio Branco.

A partir desse levantamento, a reportagem produziu sete perguntas para os candidatos que registravam ao menos 1% de intenção de voto segundo pesquisa Datafolha publicada em 22/08/2018: Luiz Inácio Lula da Silva (PT), agora substituído por Fernando Haddad (PT), Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT), Álvaro Dias (Podemos), João Amoêdo (Novo), Henrique Meirelles (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), Cabo Daciolo (Patriota) e Vera Lúcia (PSTU).

Abaixo veja as entrevistas já publicadas:

Álvaro Dias (Podemos)

Guilherme Boulos (PSOL) 

Henrique Meirelles (MDB)

Geraldo Alckmin (PSDB)

João Amoêdo (NOVO)

Fernando Haddad (PT)

Vera Lúcia (PSTU) 

Marina Silva (REDE)

Estes são os candidatos que ainda não se manifestaram sobre as demandas da reportagem:

Cabo Daciolo (Patriota)

Ciro Gomes (PDT)

Jair Bolsonaro (PSL)

A entrevista é composta das mesmas perguntas para todos os candidatos, essas enviadas no mesmo dia e com igual prazo para resposta, 15 dias. A publicação está acontecendo de acordo com a ordem de recebimento.

Acompanhe tudo sobre:Álvaro DiasDonald TrumpEleiçõesEleições 2018Podemos (antigo PTN)Tráfico de drogasVenezuela

Mais de Mundo

Exportações da China devem bater recorde antes de guerra comercial com EUA

Yamandú Orsi, da coalizão de esquerda, vence eleições no Uruguai, segundo projeções

Mercosul precisa de "injeção de dinamismo", diz opositor Orsi após votar no Uruguai

Governista Álvaro Delgado diz querer unidade nacional no Uruguai: "Presidente de todos"