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Eleição deve reforçar projeto Macri

Presidente argentino deve ter seu mandato reforçado nas eleições parlamentares do domingo e, assim, levar adiante seu plano de reformas 

MACRI EM EVENTO DE CAMPANHA PARA ELEIÇÕES DE DOMINGO: ele enviou uma carta a Temer cobrando mais aproximação entre os dois países  / Marcos Brindicci/ Reuters

MACRI EM EVENTO DE CAMPANHA PARA ELEIÇÕES DE DOMINGO: ele enviou uma carta a Temer cobrando mais aproximação entre os dois países / Marcos Brindicci/ Reuters

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Da Redação

Publicado em 21 de outubro de 2017 às 08h53.

Última atualização em 21 de outubro de 2017 às 09h45.

O presidente Mauricio Macri deve ter seu mandato reforçado nas eleições parlamentares deste domingo, para levar adiante — ainda que de forma gradual — seu programa de cortes nos gastos públicos e reformas, segundo analistas ouvidos por EXAME. A autoconfiança de Macri, e sua crença no livre comércio, explicam a carta que ele enviou ao presidente Michel Temer, cobrando medidas para acelerar a integração do Mercosul e possibilitar acordos com o resto do mundo.

As eleições renovarão metade da Câmara e um terço do Senado, e não poderão conferir maioria absoluta ao governo Macri, mas sua representação deve aumentar um pouco, segundo as pesquisas, de 33% para 40% dos deputados. Com a oposição dividida entre peronistas a favor e contra a ex-presidente Cristina Kirchner (candidata a senadora), ficará mais fácil costurar alianças pontuais.

No topo da agenda, está a redução do déficit público, por meio do corte de gastos, já que, enquanto não houver um crescimento mais robusto, não serão possíveis aumentos nos impostos, explicou a EXAME Carlos Rivas, presidente da agência de classificação de risco Evaluadora Latinoamericana, de Buenos Aires.

“Na melhor das hipóteses, ainda haverá cinco ou seis anos de déficit, que o governo espera ir reduzindo lentamente”, prevê o economista. A diferença entre o que o governo gasta e arrecada está ao redor de 6,5% do PIB este ano. Mas, mesmo considerando que a economia deve crescer nos próximos anos, o déficit acumulado entre 2017 e 2021 deve atingir de 20% a 25%, estima Rivas.

Como o mercado financeiro argentino é muito pequeno, o governo se financia no mercado externo, provocando uma injeção de dólares de 4% do PIB, que mantém o peso sobrevalorizado, dificultando as exportações. Entretanto, há um otimismo com as eleições: “Todo mundo (no mercado) pensa que a ampliação da bancada do governo no Congresso será suficiente, e está se comportando com base nessa convicção”.

Passadas as eleições de domingo, espera-se que o presidente anuncie novos cortes nos subsídios para o gás, a eletricidade e o transporte público. Essas medidas já foram tomadas depois que Macri assumiu, em dezembro de 2015, provocando aumentos de cerca de 300% e a fúria de muitos argentinos. Mesmo assim, o atraso gerado pelo congelamento das tarifas nos governos de Néstor e Cristina Kirchner (de 2003 a 2015) está longe de recuperado. “Nesse período, o dólar subiu de 1 para 17 pesos, e as tarifas, que estavam basicamente dolarizadas, não subiram”, recorda Rivas. “Ainda falta muito.”

Kirchner tem insistido na campanha: “Vem aí um tarifaço”, enquanto Macri e os candidatos de sua frente, Cambiemos (Mudemos), não tocam no tema ajustes econômicos, preferindo salientar a queda da inflação, de 40% no ano passado para uma projeção de 22% este ano. De maneira que não se pode falar de “concessões” de Macri, mas sim de adiamento do debate, dizem os analistas.

“O mercado espera que as eleições corroborem o resultado das primárias de agosto”, descreve Dante Sica, diretor da consultoria Abeceb, de Buenos Aires. Nas primárias, o governo empatou com o grupo de Kirchner na província de Buenos Aires, e foi a força dominante na maior parte do restante do país.

“Os setores econômicos estão muito mais confiantes de que o programa do governo se consolidará com o tempo, e de que essas eleições revalidarão seu mandato social, mesmo sem maioria no Congresso, dando densidade às reformas”, afirma Sica.

Além da contenção dos gastos das províncias e do governo nacional, o economista diz que na pauta estão as seguintes reformas: tributária; do mercado de capitais, para desburocratizar transações externas e dar mais eficiência; e cortes nos custos extra-salariais.

“Não haverá uma reforma trabalhista ao estilo do Brasil, mas mudanças setor por setor. Há muito problema de absenteísmo na indústria argentina, nos julgamentos da Justiça do Trabalho e nos esquemas de financiamento patronal”, enumera Sica.

Tudo isso tende a aumentar a competitividade dos setores produtivos argentinos, e seu apoio à abertura comercial pretendida por Macri. O presidente se queixa de que o Mercosul tem acordos de livre comércio com apenas 9% do PIB mundial, e mesmo assim parte deles está inativa. “Ele busca mais integração, comércio, investimentos e qualidade dos produtos argentinos”, descreve o consultor.

Essa é também a expectativa das empresas brasileiras com negócios na Argentina. “Entendo que todo o apoio que o governo obtenha nesta eleição favorece as relações com o Mercosul e, por consequência, com o Brasil, já que este governo tem uma posição amplamente mais favorável aos negócios internacionais que o anterior”, analisa Claudio Borsa, presidente do Grupo Brasil, em Buenos Aires, que reúne 51 empresas, 90% delas brasileiras, dos mais diversos setores (siderúrgico, têxtil, bancário, construção, embalagens, auto-peças, automotivo, tecnologia e metal-mecânico).

“Há muitas possibilidades de aumento dos investimentos brasileiros na Argentina, além das áreas em que hoje já existem”, comemora Borsa. Ele cita investimentos em infraestrutura, principalmente energia, tecnologia e meios de pagamento. “Também considero que um bom resultado eleitoral do governo favorece o Mercosul na busca de alianças comerciais com outros blocos, como a União Europeia e a Aliança do Pacífico”. Essa última está renegociando sua constituição, com a saída dos Estados Unidos.

Foi nesse contexto que Macri assinou no dia 28 uma carta para o presidente Michel Temer, entregue ao Itamaraty no dia 4 pelo embaixador argentino em Brasília, Carlos Magariños. O teor da carta, obtida pela Folha de S. Paulo, foi confirmado por fontes do governo argentino ouvidas pelo jornal Clarín. Nela, o presidente argentino cobra do colega brasileiro o cumprimento de uma decisão que ambos tomaram em fevereiro durante sua visita a Brasília, de fazer uma convergência das regulações técnicas, sanitárias e fito-sanitárias. Para isso, pediriam assistência técnica ao Banco Interamericano de Desenvolvimento. A medida é uma condição para que o Mercosul possa explorar acordos com novos parceiros.

Macri se queixa de que sete meses se passaram e ainda não se chegou à discussão “substantiva” das regras. Segundo as fontes ouvidas pelo Clarín, de um total de 79 regras alfandegárias e técnicas, não se chegou a um consenso sobre 20, justamente as que “mais afetam a Argentina”.

O país amarga um déficit comercial com o Brasil, que neste ano deve chegar a 7 bilhões de dólares. O governo Macri compreende que a diferença entre as exportações e importações brasileiras se deve à recessão vivida no Brasil, mas não quer que a situação se prolongue eternamente.

Mas, o que aconteceu com as resistências dos setores produtivos argentinos, que, como os brasileiros, exigiam proteção contra a competição externa?

“É verdade que num dado momento houve resistência de setores industriais a uma maior integração, em especial uma desconfiança dos dois países em relação à China, não tanto com a Europa”, reconhece Sica. “Mas ela foi se afrouxando. Setores da indústria brasileira, como a têxtil e de calçados, se internacionalizaram. Hoje tanto o setor privado quanto o público dos dois países estão muito mais alinhados em favor da integração”, continua o consultor. “Até porque nos últimos 25 anos a experiência mostrou que fechar o mercado não gerou vantagem competitiva para nenhum setor.”

Então, o que estamos esperando? Bom, digamos que Temer tem estado mais preocupado com sua permanência no Palácio do Planalto.

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