Mundo

Eleição de ex-general marca transição democrática na Nigéria

Buhari afirmou que o grupo islamita Boko Haram será atacado até a derrota, depois de seis anos de influência crescente da organização no nordeste do país

Muhammadu Buhari em Abuja: "nosso país se uniu à comunidade de nações que substituem o presidente por meio de uma eleição livre e honesta" (AFP/AFP)

Muhammadu Buhari em Abuja: "nosso país se uniu à comunidade de nações que substituem o presidente por meio de uma eleição livre e honesta" (AFP/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 1 de abril de 2015 às 12h34.

Abuja - O ex-general golpista Muhammadu Buhari venceu com grande margem a eleição presidencial da Nigéria, ao derrotar o atual presidente Goodluck Jonathan, na primeira alternância democrática na agitada história política do país desde sua independência.

"Nosso país se uniu à comunidade de nações que substituem o presidente por meio de uma eleição livre e honesta", declarou Buhari em seu primeiro discurso depois de ser eleito.

"Para mim isto é algo realmente histórico", completou o ex-general, que recebeu 53,95% dos votos.

Buhari afirmou nesta quarta-feira que o grupo islamita Boko Haram será atacado até a derrota, depois de seis anos de influência crescente da organização no nordeste do país.

"Eu asseguro que o Boko Haram em breve perceberá a força de nossa vontade coletiva e de nosso compromisso para livrar esta nação do terror e trazer de volta a paz".

"Não vamos poupar esforços até derrotar o terrorismo", disse.

Buhari, candidato da coalizão opositora APC (Congresso Progressista), derrotou o atual presidente Goodluck Jonathan, candidato do Partido Democrático Popular (PDP), que recebeu 44,96% dos votos, segundo a Comissão Eleitoral Independente.

O PDP estava no poder desde 1999, ano da restauração da democracia na Nigéria, após um longo período de ditaduras militares.

Desde a independência do país em 1960, a Nigéria registrou seis golpes miliares.

Buhari, 72 anos, um muçulmano do norte da Nigéria, que comandou uma junta militar entre 1983 e 1985, afirmou durante a campanha eleitoral que se converteu à democracia.

Esta foi a quarta candidatura presidencial de Buhari desde 2003.

Na terceira tentativa, em 2011, ele foi derrotado por Goodluck Jonathan, um cristão dos sul da Nigéria.

"Prometi eleições livres e justas. Cumpri com minha palavra", afirmou Jonathan.

"Nenhuma ambição pessoal justifica o derramamento de sangue dos nigerianos", completou, para evitar qualquer violência.

Em 2011, os incidentes posteriores à vitória de Jonathan deixaram quase mil mortos.

Buhari elogiou a fidalguia do atual presidente, que ligou para reconhecer a derrota.

"Deixem-me dizer claramente: o presidente Jonathan não tem nada a temer de mim. Ele é um grande nigeriano e ainda é nosso presidente".

"A democracia e o Estado de direito serão estabelecidos no país. Deixemos o passado para trás, especialmente o passado recente. Devemos esquecer nossas velhas batalhas e os conflitos para seguir adiante", completou.

Milhares de nigerianos celebraram nas ruas de Kano, a maior cidade do norte muçulmano, a vitória de Buhari, que recebeu mais de dois milhões de votos no estado, contra contra 200.000 do rival.

A comunidade internacional felicitou o vencedor.

O presidente da Comissão da União Africana, Nkosazana Dlamini-Zuma, disse que o resultado mostra a maturidade da democracia, não apenas na Nigéria, mas também no conjunto do continente africano.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, felicitou o presidente eleito e classificou sua vitória como "uma prova da maturidade da democracia na Nigéria".

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, também elogiou o vitorioso e o país africano por ter "respeitado os princípios democráticos".

O presidente Goodluck Jonathan "colocou os interesses de seu país em primeiro lugar ao reconhecer a derrota e felicitar o presidente eleito Buhari por sua vitória", destacou Obama em um comunicado da Casa Branca.

A eleição no país de maior população da África - 173 milhões de habitantes - é um importante símbolo para todo o continente, onde a questão da alternância pacífica e democrática aparece de forma recorrente, sobretudo nos países governados por presidentes vitalícios ou dinastias familiares.

Em Burkina Faso o presidente Blaise Compaoré, que estava há 27 anos no poder, foi derrubado por manifestações.

Em vários países como Burundi, Ruanda, Benin, Congo e República Democrática do Congo, os chefes de Estado são suspeitos de querer permanecer no poder, recorrendo em alguns casos a modificações da Constituição por interesse pessoal.

A Nigéria foi cenário há alguns anos de divisões políticas que estimularam as tensões étnicas e religiosas, o que provocou violentos protestos.

Desta vez, a eleição aconteceu com total tranquilidade e o grupo islamita Boko Haram não conseguiu prejudicar a votação como havia prometido.

Acompanhe tudo sobre:ÁfricaEleiçõesGovernoNigéria

Mais de Mundo

Votação antecipada para eleições presidenciais nos EUA começa em três estados do país

ONU repreende 'objetos inofensivos' sendo usados como explosivos após ataque no Líbano

EUA diz que guerra entre Israel e Hezbollah ainda pode ser evitada

Kamala Harris diz que tem arma de fogo e que quem invadir sua casa será baleado