A economia egípcia anda muito prejudicada, principalmente pela queda do turismo e por altos índices de insegurança e criminalidade (©AFP / Mahmud Hams)
Da Redação
Publicado em 24 de maio de 2012 às 20h02.
Cairo - Pelo segundo dia consecutivo, os eleitores foram em massa às urnas no Egito para a realização do primeiro turno do pleito presidencial, que transcorreu novamente sem grandes incidentes, num processo condicionado pelo desejo de retorno à estabilidade política e de rápida recuperação econômica.
Desde a revolução que derrubou Hosni Mubarak em fevereiro de 2011, as prioridades dos egípcios ofuscaram os sonhos de liberdade e deram lugar ao realismo da luta diária para suprir suas necessidades básicas. Estas eleições, cujo primeiro turno iniciou nesta quarta-feira e terminou nesta quinta, simbolizam a ânsia por mudanças.
A economia egípcia anda muito prejudicada, principalmente pela queda do turismo e por índices de insegurança e criminalidade nunca vistos em um país onde antes a onipresente polícia era temida. São alguns dos problemas que guiam o voto dos egípcios.
''Precisamos de um presidente que restaure a segurança nacional e acabe com o caos surgido neste último ano'', afirmou à Agência Efe o engenheiro Mohammed Mustafa, de 27 anos.
Enquanto esperava pela vez para votar em uma escola de ensino médio no bairro popular de Sayida Zainab, Mustafa destacou a necessidade de um líder com experiência e, por isso, disse que votará em Ahmed Shafiq, último primeiro-ministro de Mubarak, que viu sua popularidade aumentar nas últimas horas.
A sensação de que o Egito não pode permitir riscos nesta primeira fase condicionou muitos nessas históricas eleições, as primeiras democráticas do país, e fica patente que dois dos favoritos sejam membros do antigo regime.
Outro nome bem cotado é o do ex-secretário-geral da Liga Árabe e ex-ministro das Relações Exteriores Amr Moussa, que, embora tenha buscado se livrar do rótulo de ''fulul'' (remanescente do regime de Mubarak), ainda é assim caracterizado tanto por seus seguidores como por seus detratores.
Frente aos que apoiam estes candidatos laicos, uma grande proporção dos eleitores se mostrou favorável a Mohammed Mursi, o candidato da Irmandade Muçulmana, cujo programa de ''renascimento'' calou entre amplos setores.
Alguns egípcios temem que este grupo conservador, que já controla metade das cadeiras do Parlamento, obtenha também a Presidência e conduza o país a uma espécie de nova ditadura. Mas, para outros, uma boa sintonia entre o Legislativo e a chefia de Estado ajudará o Egito a prosperar.
O Partido Liberdade e Justiça (PLJ), braço político da Irmandade Muçulmana, está muito seguro do triunfo de seu candidato e de sua presença no segundo turno do pleito, tal como seus membros anunciaram em entrevista coletiva na sede do grupo, no Cairo.
''Mohammed Mursi está em primeiro lugar, a uma considerável distância dos outros candidatos, de acordo com nossas pesquisas boca de urna'', justificou o diretor de sua campanha eleitoral, Osama Yassin.
A confiança contrasta com a insegurança de outros postulantes, que parecem querer adotar medidas desesperadas para não perder votos com seus rivais ideológicos.
É o caso de Moussa, que considera que Shafiq deveria se retirar das eleições presidenciais porque acha que o rival não tem chances de ganhar e só lhe tira votos, disse à Agência Efe um de seus porta-vozes de campanha, Ahmed Kamel, que indicou ainda uma redução da distância entre o ex-chanceler e Mursi.
Segundo os números da campanha de Moussa, na votação desta quarta-feira, Mursi foi o que mais obteve votos (31%), seguido de Moussa (27%), do islamita moderado Abde Moneim Abul Futuh (15%), do nasserista Hamdeen Sabahi (15%) e de Shafiq (10%).
Enquanto os comitês de campanha trabalham com pesquisas e especulações, os cidadãos egípcios foram aos centros de votação nesta segunda e última jornada do primeiro turno, que transcorreu novamente com grande presença de eleitores nas urnas e sem incidentes significativos.
Em declarações à Efe, o chefe da missão de observadores eleitorais da Liga Árabe, Mohammed el-Khamlichi, minimizou a importância das irregularidades ocorridas e ressaltou que, em geral, foram incidentes motivados pela ''ignorância e falta de experiência''.
Essa ignorância é para muitos outro dos principais desafios enfrentados pelo Egito, onde a taxa de analfabetismo ronda os 40%.
''A segurança é a prioridade, mas o país necessita também melhorar o mais rápido possível seu sistema educacional e de saúde'', afirmou à Efe a dona de casa Gadaa, de 35 anos.
Para esta eleitora, todos esses avanços dependem da saída da atual crise econômica: ''O futuro presidente deve dar importância à economia, que ficou péssima após a revolução''.
Embora a lista de reivindicações seja longa, a maioria dos egípcios está ciente de que o próximo ''rais'' (presidente) não poderá resolver todos os problemas da noite para o dia.
No entanto, a população mantém a esperança de que as promessas dos candidatos se transformem em fatos e a reconstrução do país não derive em uma obra faraônica de final duvidoso.