Na quarta-feira, dezenas de combatentes filiados ao EI lançaram uma série de ataques coordenados contra várias posições do exército no norte desta península (Mohamed el-Shamed/AFP)
Da Redação
Publicado em 2 de julho de 2015 às 11h19.
Cairo - O exército egípcio declarou-se determinado a erradicar os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) na Península do Sinai, após a onda sem precedentes de ataques desta quarta-feira, que deixou dezenas de mortos, incluindo muitos militares.
Mas as operações do exército, lançadas há mais de dois anos no Sinai, foram até o momento incapazes de deter os ataques contra as forças de ordem, que se multiplicaram após a destituição pelos do presidente islamita Mohamed Mursi, em julho de 2013.
Na quarta-feira, dezenas de combatentes filiados ao EI lançaram uma série de ataques coordenados contra várias posições do exército no norte desta península.
Soldados e jihadistas se enfrentaram em duros combates na cidade de Sheikh Zuweid, enquanto caças F-16 do regime bombardeavam posições dos EI.
Dezessete soldados e 100 jihadistas morreram nos confrontos, apesar de uma autoridade do exército ter anunciado a morte de 70 soldados e civis.
"Temos a vontade e a determinação para arrancar as raízes do terrorismo e não vamos parar antes de purificar o Sinai de redutos terroristas", afirmou o exército em um comunicado.
Seu porta-voz publicou dezenas de fotografias em sua página no Facebook exibindo os corpos ensanguentados dos "terroristas".
A imprensa egípcia reproduziu as imagens, mostrando o seu apoio aos militares: "Vingança", era a manchete do jornal estatal Al Akhbar. "A vitória ou o martírio", dizia outro jornal do governo, Al Gomhureya.
Em um comunicado, a Casa Branca condenou os atentados de quarta-feira, assegurando que os Estados Unidos "continuam apoiando o Egito frente as ameaças de segurança".
Jihadismo cresce no Sinai
Os jihadistas afirmam agir em retaliação à sangrenta repressão contra partidários do ex-presidente Mursi, dos quais pelo menos 1.400 foram mortos pelas forças egípcias, milhares foram presos e centenas foram condenados à morte.
Os mais recentes ataques, reivindicados pelo grupo "Província do Sinai", ocorrem na véspera do segundo aniversário da derrubada de Mursi por ordem do então chefe do exército e atual presidente Abdel Fatah al-Sissi.
O grupo se autodenominava Ansar Beit al-Maqdess, mas mudou seu nome para marcar sua lealdade ao "califado" proclamado pelo EI nos territórios conquistados na Síria e no Iraque.
"A organização tem se desenvolvido rapidamente. No ano passado eram mil combatentes, enquanto hoje são 2.500, a maioria egípcios", indica o professor de geopolítica árabe da Universidade de Toulouse, Mathieu Guidère.
"Está claro que há combatentes egípcios que retornaram da frente síria e iraquiana, o que permite o grupo se beneficiar de sua experiência em combate", acrescenta.
Os confrontos e ataques de quarta-feira são "inéditos e únicos", tanto pela sua intensidade, quanto por seu número, qualidade e força", considera.
No Sinai, o exército egípcio foi superado e não está tão bem preparado para enfrentar uma muito organizada e bem treinada guerrilha islâmica.
Os ataques de quarta-feira ocorreram dois dias após a morte, em um ataque com bomba no Cairo, do procurador-geral do Egito, o mais alto representante do Estado assassinado por jihadistas desde o início da onda de ataques em 2013.
Em uma parte do Sinai, perto da fronteira com a Faixa de Gaza, o exército impôs estado de emergência e toque de recolher, e está construindo uma zona tampão ao longo da fronteira com Israel, o que levou à expulsão de milhares de famílias.
Os jihadistas desta área são, na verdade, membros de tribos do Sinai que se sentem marginalizados e discriminados por Cairo.
"A alienação política do Sinai é um fator-chave que permitiu a insurgência crescer", diz Michael Wahid Hanna, da fundação americana The Century.