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Egípcias viram banqueiras para custear despesas domésticas

Cooperativas movimentam pequenas somas de dinheiro em distritos humildes da capital

Rio Nilo, no Cairo: ONG Plano Egito supervisiona mais de 460 associações de empréstimo (Sean Gallup/Getty Images)

Rio Nilo, no Cairo: ONG Plano Egito supervisiona mais de 460 associações de empréstimo (Sean Gallup/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 14 de dezembro de 2010 às 10h30.

Cairo - Sem recursos para pedir empréstimos bancários, as egípcias de bairros pobres decidiram unir as economias e criar associações de empréstimo para custear as despesas extras de suas famílias.

Longe dos formalismos e do capital dos bancos tradicionais, estas singulares cooperativas movimentam pequenas somas de dinheiro em lugares tão pouco frequentes como as ruas sem pavimentação de um humilde distrito do sul do Cairo.

No local, uma dúzia de mulheres de várias idades, descalças e transformadas em modestas banqueiras, conversam sentadas sobre tapetes, reunidas em torno de uma caixa metálica que guarda uma fortuna conseguida a base de suas humildes contribuições.

"Eu não posso obter um crédito do banco e menos ainda devolvê-lo no prazo, porque o emprego do meu marido não é diário", relata à Agência Efe Hosna Abdel Salam, uma das responsáveis da associação.

O restante das participantes, que usa véus islâmicos, concorda enquanto Hosna, mãe de quatro filhos, explica que o grupo começou a funcionar há um ano, quando descobriram que "além dos bancos, existem outras maneiras de conseguir empréstimos".

"Agora compartilhamos o dinheiro e o usamos para ajudar outras pessoas", acrescenta Hosna, que, como as integrantes da associação, dispõe de uma pequeno livro para anotar as transações aprovadas em cada sessão.

Segundo o responsável do projeto na ONG Plano Egito, Amel Abdelmeguid, o objetivo é que "as famílias de um mesmo bairro se relacionem mais e conheçam seus problemas".

"Antes dependiam de organizações como a nossa, que respondia a suas necessidades e as ajudava", acrescenta Abdelmeguid, além de destacar que, graças ao projeto, as mulheres administram seus grupos e, em caso de necessidade, oferecem ajuda econômica às outras participantes.


Atualmente, a Plano Egito supervisiona mais de 460 associações de empréstimo em seis cidades egípcias, nas quais 4.165 mulheres conseguiram economizar 38 mil libras (US% 6,5 mil) e solucionar os apuros econômicos de dezenas de famílias.

No grupo, as mulheres revisam sem descanso dois recipientes de plástico que reúnem as libras destinadas à poupança e as que serão emprestadas sem juros ao término da reunião.

A iniciativa, de acordo com o responsável da ONG, permitiu que as mulheres do bairro, reclusas até o ano passado em suas casas e dedicadas ao cuidado dos filhos, pudessem ter "um papel mais visível ao demonstrar que são capazes de tomar decisões sobre as finanças domésticas".

Hosna lembra que "antes de iniciar a associação não havia comunicação entre as mulheres, mas agora todas conhecem a situação exata na qual se encontram os demais e tentam fornecer fundos".

No entanto, guardar algumas libras de salários tão baixos é uma tarefa cada vez mais difícil em um país de 80 milhões de habitantes, onde a inflação disparou os preços dos alimentos básicos e mais de 20% da população vive sob a linha de pobreza, segundo dados oficiais.

"Quando nossos maridos nos entregam algumas libras para gastar com a casa, tentamos guardar parte desse dinheiro e compartilhá-lo com o grupo", indica Hosna.

Em bairros como o desta mulher, que ficam longe dos guichês dos bancos e onde solicitar empréstimo é um risco inalcançável, os pequenos créditos proporcionados pelo programa servem para enfrentar despesas de educação ou saúde.

"Eu consegui um empréstimo no ano em que um dos meus filhos foi pela primeira vez ao colégio e o gastei para comprar todo o material escolar necessário", ressalta Hosna.

Em outros casos, acrescenta, o empréstimo ajuda a enfrentar as várias despesas do casamento de um filho ou a operação de algum parente em famílias que acostumam ser bastante numerosas.

"Para acertar os créditos, convocamos uma reunião assim que alguém pede. Falamos e solucionamos o problema porque o essencial é aumentar a solidariedade entre nós", diz Hosna enquanto, terminado mais um dia de trabalho, o restante das mulheres opta por levantar, recolher os tapetes e iniciar o caminho para casa.

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