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Efeitos das tarifas antidumping de grafite chinês impactam Tesla e indústria de baterias

Medidas contra grafite chinês devem elevar custos para Tesla e dificultar produção de baterias nos EUA

China2Brazil
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Agência

Publicado em 23 de julho de 2025 às 15h26.

O Departamento de Comércio dos Estados Unidos anunciou, no último dia 17, tarifas antidumping preliminares de 93,5% a 102,72% sobre o grafite importado da China, usado como material de ânodo em baterias. Com a nova medida, o imposto total sobre o produto pode chegar a 160%. A decisão final deve sair até 5 de dezembro.

A medida responde a uma queixa apresentada em dezembro de 2023 pela Associação dos Produtores Americanos de Materiais de Ânodo (AAAMP).

A entidade acusou empresas chinesas de violar leis antidumping ao vender grafite abaixo do valor de mercado, com apoio de subsídios estatais. A investigação incluiu compostos, misturas e componentes importados.

Grafite é insumo estratégico na produção de baterias

O grafite é o principal material de ânodo em baterias de íons de lítio, utilizado para armazenar e liberar carga. Embora a China não tenha as maiores reservas globais, responde por mais de 70% da produção e do refino mundial. Em 2024, os EUA importaram 180 mil toneladas de grafite, dois terços vieram da China. Com base nos dados de 2023, a Bloomberg estima que a tarifa afete US$340 milhões em produtos.

Impacto direto sobre empresas como Tesla e Panasonic

Fabricantes de veículos elétricos alertaram sobre a falta de fornecedores nacionais capazes de atender aos requisitos de pureza e qualidade. A Tesla informou ao governo americano que depende de grafite artificial processado na China. Um carro híbrido usa cerca de 10 kg do material; um elétrico, até 99 kg. O Model 3, por exemplo, consome 90 kg.

Segundo a Tesla, a escassez de grafite de qualidade nos EUA deve elevar o custo por kWh em até US$7, o que pressiona margens de lucro e deve afetar fabricantes sul-coreanos por até dois trimestres.

Além da Tesla, a Panasonic também expressou preocupação. A empresa afirmou que a produção doméstica cobre apenas 10% da demanda. A fábrica da Panasonic no Kansas, prevista para operar em março, deve atrasar para o segundo semestre, segundo o jornal japonês Nikkei. A planta atende exclusivamente à Tesla.

Dependência da China segue elevada

Mesmo com investimentos em fábricas nos EUA por empresas como LG e Panasonic, a cadeia ainda depende do fornecimento chinês. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), o grafite é um dos materiais mais vulneráveis a interrupções na cadeia de suprimentos. A entidade projeta que, até 2040, a demanda global pelo insumo quadruplicará em relação a 2021, chegando a 16 milhões de toneladas.

Projetos fora da China enfrentam entraves. A mina de grafite em Nevada, por exemplo, segue em fase de licenciamento. Países como Canadá, Madagascar, Brasil, Turquia, Tanzânia e México têm reservas, mas não dominam o processo de refino em larga escala.

Tesla concentra dois terços do grafite chinês exportado aos EUA

A Tesla é a maior consumidora de grafite chinês nos Estados Unidos. Em 2024, adquiriu indiretamente cerca de 80 mil toneladas, 67% do total exportado da China para o mercado americano, por meio de fornecedores como Panasonic e CATL.

Outras montadoras, como Ford e General Motors, também dependem do grafite chinês, mas em menor escala. Seus fornecedores incluem LG Energy e SK On.

Mudanças políticas aumentam a pressão sobre Elon Musk

A nova política comercial integra um pacote de medidas adotadas pelo governo Trump que afeta diretamente a Tesla. A assinatura do One Big Beautiful Bill Act, no início de 2025, extinguiu o subsídio federal de US$7.500 para a compra de veículos elétricos. Analistas projetam uma perda anual de até US$1,2 bilhão para a empresa.

Além disso, o governo suspendeu o programa federal que financiava a instalação de carregadores elétricos, bloqueando bilhões de dólares em investimentos. A Tesla, que já havia recebido US$31 milhões do programa, enfrenta agora restrições para expandir sua infraestrutura de recarga.

Mercado em retração e incertezas operacionais

A Tesla enfrenta o cenário mais adverso desde sua fundação. No segundo trimestre de 2025, as vendas de veículos elétricos nos EUA caíram 6,3% em comparação com o mesmo período de 2024, totalizando 310 mil unidades. A participação da Tesla caiu de 75% para 62%.

A empresa deve divulgar em breve o relatório financeiro do segundo trimestre. Os resultados devem refletir os efeitos das tarifas, da retirada de incentivos fiscais e da pressão sobre sua cadeia de suprimentos.

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