Pôster em apoio a Edward Snowden, exposto no distrito financeiro de Hong Kong: "a verdade está sendo revelada e nada poderá detê-la", disse ao The Guardian (REUTERS/Bobby Yip)
Da Redação
Publicado em 28 de junho de 2013 às 14h54.
Washintgon - Ele é acusado por Washington de vazar para a imprensa segredos sobre a espionagem americana, mas Edward Snowden acha que agiu com patriotismo ao decidir se converter em uma versão moderna do "Garganta Profunda", fonte que revelou o escândalo Watergate nos anos 70.
Nascido em 21 de junho de 1983 no leste dos Estados Unidos, o autodidata Edward Snowden é um especialista habilidoso em informática, que deixou a escola aos 15 anos.
De acordo com depoimentos concedidos à imprensa americana, seus antigos colegas de turma se lembram dele apenas como um loiro discreto que vivia com o nariz colado ao computador.
Na internet, Snowden tinha um furor inesgotável. Usando o avatar TheTrueHOOA, o rapaz surgiu em 2003 em fóruns de jogos e de hackers, principalmente o site Ars Technica, onde deixou centenas de comentários, rapidamente recuperados depois de sua decisão de revelar que é o delator dos programas de vigilância das comunicações telefônicas e da web promovidos pelo governo americano.
Além disso, o Ars Technica recuperou, graças a seus usuários, conversas não arquivadas de suas "salas de bate-papo" entre 2007 e 2009.
Surgia ali um Snowden provocador e seguro de si, que escrevia sobre todos os assuntos: estrangeiros, garotas, religião, armas...
Em 2006, o jovem foi recrutado como especialista em informática pela Agência Central de Inteligência (CIA), primeiro nos Estados Unidos e depois na Suíça. O garoto do subúrbio americano descobria o mundo e desfrutava de um alto estilo de vida, sob cobertura diplomática e com um salário elevado.
Naqueles bate-papos, Snowden revelava suas opiniões políticas. Exaltava o sistema monetário do padrão-ouro, uma causa defendida pelo republicano libertário Ron Paul, candidato nas primárias presidenciais de 2008 e 2012, a quem doou 250 dólares duas vezes, em 2012.
Além disso, proferiu insultos ao passar pelo presidente da Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano), Ben Bernanke, defendendo que "a sociedade conseguiu avançar com grande êxito durante centenas de anos sem previdência social".
Em 2009, Snowden deixou a CIA e se uniu à Agência Nacional de Segurança (NSA) no Japão, como terceirizado. Na internet, poucas vezes mencionava seu trabalho.
Em janeiro de 2009, o rapaz criticou fontes anônimas que deram detalhes de operações secretas no Irã ao jornal The New York Times: "tem que atirar nas suas 'bolas'", disse na época.
Porém, em 2010, escrevendo no site Ars Technica, o jovem mudou o tom e revelou seus medos sobre "a obediência cega das pessoas aos espiões".
Quando Snowden decidiu sair das sombras e responder às perguntas do jornal britânico The Guardian, se mostrou um homem eloquente e determinado diante da câmera. Ele contou como foi sua lenta transformação em alguém incluído em um estatuto de proteção da lei americana, que respondia ao governo, mas que passou em seguida à condição de traidor que precisa fugir do governo.
"Não houve um fato isolado que tenha causa isso, mas sim ter que assistir à contínua ladainha de mentiras dos responsáveis pela administração diante do Congresso e dos cidadãos americanos", explicou em um chat no site do Guardian.
Barack Obama o decepcionou, enfatizou, ao permitir o desenvolvimento dos programas de vigilância da NSA.
Seria ele um traidor, como dizem as autoridades, muitos membros do Poder Legislativo e o ex-vice-presidente do país, Dick Cheney?
"Ser tido como um traidor por Dick Cheney é a maior honra que se pode conceder a um americano", respondeu Snowden, culpando Cheney pela morte de 4.400 americanos e 100 mil iraquianos na guerra do Iraque.
Snowden insiste em dizer que se sacrificou em nome de uma causa superior. O rapaz alega que tomou esta decisão sem contar nada à sua noiva, sabendo que sua vida mudaria para sempre.
De acordo com Albert Ho, um dos advogados que o ajudaram em Hong Kong, Snowden "não tinha um plano muito preciso" ao decidir fugir para o território autônomo chinês, deixando o Havaí em 20 de maio.
"É só um garoto", disse o advogado ao jornal The Washington Post.
Mas o "garoto" reivindica seu papel histórico e parece ter amadurecido bastante a sua decisão.
Ele disse ao diário South China Morning Post que teria sido contratado em março pela empresa Booz Allen Hamilton, que trabalha para a NSA, onde ocupava o cargo de "analista de infraestruturas" com um salário de 10 mil dólares por mês, com o único objetivo de recuperar documentos sobre a espionagem das comunicações promovida por esta agência de inteligência.
"A verdade está sendo revelada e nada poderá detê-la", disse ao The Guardian.
"Infelizmente, os meios de comunicação parecem agora muito mais interessados na minha noiva ou no que eu disse quando tinha 17 anos do que com o maior programa de espionagem da história da humanidade", concluiu.