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Educação: o tema esquecido nas eleições

Daniel Barros “Você é professora?”, perguntou a candidata democrata à presidência dos Estados Unidos, Hillary Clinton, para uma eleitora indecisa que fez a primeira pergunta do segundo debate presidencial da campanha deste ano, que aconteceu na noite do último domingo. “Eu tenho notado a preocupação de vários professores e pais com o que vem sendo […]

ESCOLA PRIMÁRIA NOS ESTADOS UNIDOS: educação americana está estagnada em relação a outros países desenvolvidos  / William Thomas Cain/ Getty Images

ESCOLA PRIMÁRIA NOS ESTADOS UNIDOS: educação americana está estagnada em relação a outros países desenvolvidos / William Thomas Cain/ Getty Images

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2016 às 20h39.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h15.

Daniel Barros

“Você é professora?”, perguntou a candidata democrata à presidência dos Estados Unidos, Hillary Clinton, para uma eleitora indecisa que fez a primeira pergunta do segundo debate presidencial da campanha deste ano, que aconteceu na noite do último domingo. “Eu tenho notado a preocupação de vários professores e pais com o que vem sendo tratado nessa campanha.” Parecia que Hillary ia falar de suas propostas para educação. Mas não. A eleitora havia perguntado a ela e a Donald Trump, o candidato republicano, se eles se consideravam um modelo para as crianças americanas, que assistem os debates presidenciais como tarefa de casa em várias escolas americanas. Hillary prometeu que vai trabalhar para que os Estados Unidos tenham “a melhor educação do mundo”, da pré-escola à universidade. Também disse que queria mostrar às novas gerações que unidos os americanos podem ir mais longe. O usual blá blá blá de candidatos. Trump sequer mencionou as crianças a quem a eleitora se referiu. Ou o ensino. Preferiu falar sobre porque decidiu se afastar dos seus negócios e ser candidato a presidente – segundo ele, porque via “muitas coisas erradas acontecendo”. Essas passagens são o mais próximo que os candidatos presidenciais têm chegado de um tema tão importante e controverso nos Estados Unidos: educação. Embora esteja presente na vida cotidiana dos americanos, o assunto é claramente secundário na campanha presidencial.

Nos Estados Unidos, apenas 9% do gasto público com educação é feito pelo governo federal (para se ter uma ideia, no Brasil é 26%). A esmagadora maioria do dinheiro vem dos estados. “Disputas para governador são principalmente sobre como melhorar as escolas”, diz Henry Levin, professor de economia da educação na Universidade Columbia, em Nova York. “Mas nas presidenciais geralmente há um vácuo sobre educação”. Mesmo gastando menos, o governo federal nos Estados Unidos tem um forte poder de influência. Isso ficou especialmente claro nos mandatos dos dois últimos presidentes do país, Barack Obama e George W. Bush, cujas políticas domésticas foram marcadas por reformas educacionais.

Obama patrocinou a ideia de fazer um currículo nacional para os Estados Unidos – o Common Core, que foi adotado por 42 dos 50 estados. Sua gestão também focou em aumentar os gastos com o programa Head Start, que paga por pré-escolas e creches. Ele também estimulou reformas locais que aumentassem o número de escolas Charter, que são públicas, mas administradas por empresas privadas. Estados ou cidades que aumentassem o número de escolas desse tipo concorriam a fundos do governo federal. Nova York foi uma das mais beneficiadas. Antes de Obama, Bush apoiou a lei No Child Left Behind (Nenhuma Criança Deixada para Trás), que obrigou estados a submeterem estudantes a testes regulares para medir sua proficiência em inglês e matemática. A lei também aumentou o papel do governo federal em educação – um papel essencialmente de regulação dos estados. Ou seja, Hillary e Trump deviam estar discutindo alguns desses temas publicamente. Mas pouco se sabe sobre o que pensam a respeito das políticas dos antecessores na área ou menos ainda o que pretendem fazer se forem eleitos.

Há hoje uma onda de críticos ao excesso de testes nos Estados Unidos – inclusive de testes sobre a qualidade dos professores. O sindicato nacional de professores é um dos entusiastas dessa crítica às políticas de Bush e Obama. Hillary disse que educadores não deveriam ensinar só para testes, numa tentativa de se aproximar dos sindicatos. Mas ela não diz se, como presidente, reduziria a pressão sobre estados por provas obrigatórias. Trump nunca se manifestou sobre o tema.

Em mais uma tentativa de se aproximar da esquerda, Hillary passou a criticar as escolas Charter, dizendo que elas são complementares às escolas públicas, mas não substitutas. Trump promete 20 bilhões de dólares para que cidades e estados americanos transformem mais escolas públicas em Charter – mas o problema é que ele tem prometido cortes de até 20 pontos percentuais em imposto de renda, o que coloca em xeque promessas como essa, que aumentam substancialmente o gasto do governo com educação. Independentemente da viabilidade da proposta, essa é praticamente a única bandeira de Trump em educação. Além, é claro, de banir o Common Core, como ele promete fazer com praticamente todos os programas criados por Barack Obama, a começar pelo Obama Care. Até mesmo o incrível montante de dívidas estudantis nos Estados Unidos, que ultrapassa 1 trilhão de dólares e é maior do que a soma das dívidas de cartão de crédito, é ignorado por Trump. Hillary, por sua vez, promete refinanciamento a juros mais baixos para 25 milhões de estudantes americanos, mas não dá detalhes de como.

A ausência de propostas substanciais têm sido uma marca dos debates presidenciais americanos. Mas talvez nenhuma área sofra tanto com o esquecimento dos candidatos quanto educação. Isso é especialmente preocupante porque, nos Estados Unidos, o número de jovens que entram no ensino superior vem caindo desde 2008 (saiu de 69% para 66% entre 2008 e 2013, de acordo com o Censo). Além disso, o país ocupa a 36ª posição no ranking de quanto os alunos de 15 anos sabem de matemática feito a cada três anos pela Organização pela Cooperação em Desenvolvimento Econômico (OCDE). Na prova aplicada pela OCDE, estudantes russos, espanhóis, italianos, vietnamitas, portugueses, eslovacos e irlandeses em média se saem melhor que os americanos. A prova é aplicada desde 2000 e a nota dos Estados Unidos praticamente não muda – em um sinal de que a qualidade da sua educação básica está estagnada bem abaixo do nível dos outros países desenvolvidos. Se depender de atenção nas eleições presidenciais para melhorar, o quadro continuará igual.

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