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Ecoeficiência apresenta bons resultados com suínos e café

Aplicação de método faz capital investido na cafeicultura e suinocultura ser recuperado em apenas 13 meses


	Criação de porcos: segundo o estudo, propriedade é capaz de fechar ciclos produtivos dentro da própria planta industrial
 (Fernando Moraes/VEJA SP)

Criação de porcos: segundo o estudo, propriedade é capaz de fechar ciclos produtivos dentro da própria planta industrial (Fernando Moraes/VEJA SP)

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Da Redação

Publicado em 26 de setembro de 2012 às 09h44.

São Paulo - Pesquisa realizada na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEARP) da USP comprovou a viabilidade da aplicação do conceito de ecoeficiência em uma propriedade rural de 250 hectares destinada à produção e processamento de suínos e à cafeicultura, localizada no município de Caconde (interior de São Paulo).

Desenvolvida pelos mestrandos em Administração de Organizações Alexandre Leoneti e Glauco Caldo, e pelos professores Marcio Mattos Borges de Oliveira e Sonia Valle Walter Borges de Oliveira, a pesquisa estudou a implementação de sistemas que reutilizam resíduos da cria e do processamento de porcos na geração de energia e na produção de biofertilizantes para lavouras de milho e café.

“O estudo mostrou a capacidade da propriedade em fechar ciclos produtivos dentro da própria planta industrial. O que era resíduo volta em forma de alimento, energia, combustível e adubo”, afirma Sonia Oliveira, que coordenou a pesquisa. Os autores do artigo, que já receberam convites para apresentar o estudo no Canadá, China, África do Sul e países da Europa, identificaram, na época da realização da pesquisa, que o custo do biodiesel produzido na propriedade, com gordura resultante do processamento dos suínos da propriedade, gordura de bovinos e óleo de cozinha usado é 46% menor que o preço de mercado.

O artigo mostra também que com o sistema de biodigestores e a miniusina de biodiesel, o produtor economiza, por mês, R$ 8 mil cortando 100% dos custos com diesel e GLP, 40% dos custos com fertilizantes e 50% do consumo de energia elétrica de toda a propriedade. Ainda de acordo com o estudo, se todo o investimento inicial, estimado em R$ 100 mil, tivesse sido feito todo com capital próprio, a empresa teria obtido uma taxa de retorno de 7,38% ao mês ao longo de três anos.

A partir do 13º mês, os investimentos estariam pagos e os ganhos com o sistema já poderiam ser considerados lucros. Calculados o desembolso do fluxo de caixa, correção monetária e o valor economizado mensalmente no período, os R$ 100 mil iniciais proporcionariam ganhos de R$ 243 mil.


Mesmo no caso de financiamento total do sistema a juros de 2% ao mês, o projeto de ecoeficiência daria um retorno mensal de 2,24% ao longo de três anos, mostrando a total viabilidade econômica do projeto. Neste caso, o retorno do capital investido seria obtido em 25 meses. “É importante destacar que essa filosofia da ecoeficiência é perfeitamente aplicável em outros negócios”, completa Sonia Oliveira.

Flexibilização

Em 2012, mudanças no mercado mostraram mais uma vantagem do sistema de ecoeficiência implantando na propriedade: a flexibilidade. Com o aumento no preço do milho e da soja, base da alimentação animal, e o alto preço do etanol, matéria-prima para o biodiesel, a empresa paralisou temporariamente a produção de biodiesel.

Como o custo do etanol tornou o biodiesel mais caro que o diesel, a agroindústria passou a comprar combustível no posto e ampliou o uso da gordura para a alimentação animal, reduzindo custos com a compra de soja e milho. O excedente de gordura, que também está valorizada no mercado, passou a ser vendido e segue sendo utilizado também para produção de sabão para consumo interno.

O empreendimento que serviu de base para a pesquisa é a Pork-Terra, uma agroindústria familiar que começou com a produção de café em 1920, de porcos em 1980 e, no final dos anos 1980, passou a realizar o processamento da carne. Na época em que o estudo foi realizado, a empresa processava 80 porcos por semana. Nos 250 hectares da propriedade, a quase centenária produção de café ocupa 75 hectares enquanto o milho, produzido exclusivamente para a alimentação dos suínos, ocupa 90 hectares.

Os resíduos da criação e do processamento dos porcos são levados para três biodigestores que geram biogás — rico em metano — e biofertilizante. Embora uma análise do biofertilizante tenha mostrado que ele não é suficientemente rico para suprir as necessidades da produção de café, o produto contribui com 40% nas necessidades da propriedade, principalmente na lavoura de milho. Os outros 60% são complementados com fertilizantes industriais.


Já o biogás, que possui em média 70% de metano e 30% de gás carbônico, alimenta um gerador de energia de 32 kW/h que abastece 50% das necessidades da propriedade, incluindo 17 casas e o refeitório dos funcionários, parte da câmara fria da indústria, processamento de suínos, secagem de café e o aquecimento do berçário para leitões. Também faz parte da matriz energética da propriedade o biodiesel produzido com gordura animal e 20% de etanol.

Certificado pela ANP, o combustível que abastece todos os veículos da propriedade é produzido em sua maior parte com gordura gerada no próprio empreendimento mas que também recebe gordura de bovinos e incentiva escolas da região a recolherem óleo de cozinha usado junto a seus alunos. O estudo apurou que cada litro de gordura fundida gera um litro de biodiesel e 150 gramas (g) de glicerina.

Com a glicerina, principal subproduto da produção de biodiesel, é produzido sabão, sabonete e detergente, também utilizados na limpeza e na higiene pessoal dentro da propriedade. Outra inovação observada na Pork-Terra é a utilização da glicerina em parte da alimentação da criação.

O estudo, entretanto, não se limita a mapear e quantificar as vantagens da aplicação dos conceitos de ecoeficiência na propriedade, mas também propõe melhorias como o tratamento do esgoto doméstico por meio da utilização de um sistema anaeróbio de tratamento de resíduos Upflow Anaerobic Sludge Blanket (UASB), também conhecido como Reator Anaeróbio de Manta de Lodo. Outra proposta do estudo é a utilização de 6% da glicerina no biodigestor para aumentar a geração de biogás e biofertilizante.

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