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Ebola, um novo desafio para a imprensa

Para jornalistas, cobrir a epidemia apresenta desafios, pois se trata de um inimigo invisível e apresenta riscos potenciais na volta para casa

Jornaleiros vendem exemplares nas ruas de Monróvia, Libéria, um dos mais afetados pelo ebola (Dominique Faget/AFP)

Jornaleiros vendem exemplares nas ruas de Monróvia, Libéria, um dos mais afetados pelo ebola (Dominique Faget/AFP)

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Da Redação

Publicado em 17 de outubro de 2014 às 17h19.

Paris - Para jornalistas, cobrir a epidemia de ebola apresenta desafios distintos dos de uma guerra, pois se trata de um inimigo invisível e apresenta riscos potenciais na hora de voltar para casa.

Todos têm em mente o caso do cinegrafista da NBC, Ashoka Mukpo, infectado na Libéria e tratado nos Estados Unidos.

"Temos menos dificuldade para encontrar repórteres para cobrir conflitos no Iraque ou na República Centro-Africana do que para este tipo de situação", disse Claire Hédon, que voltou da Guiné, onde trabalhou para Rádio França Internacional (RFI).

"Alguns jornalistas acostumados a conflitos evitam por razões familiares", explica Sofia Bouderbala, editora-chefe adjunta da AFP para Europa-África. "É uma ameaça invisível, enquanto nas zonas de guerra você pode ver as bombas explodindo".

"São temas muito estressantes para cobrir porque o inimigo é invisível", comenta John Daniszewski, chefe da redação internacional da agência americana Associated Press.

Depois que chegam ao local, os jornalistas tomam as precauções necessárias: luvas, máscaras, lavagem constante das mãos com cloro e entrevistas somente a distâncias prudentes.

"A regra básica: não tocar em ninguém. Mas duas semanas sem contato humano é estranho", relata Marc Bastian, repórter da AFP que acaba de voltar de Monróvia, capital liberiana.

"Chegamos com litros de desinfetante. Limpamos nossos calçados e lavamos as mãos 40 ou 50 vezes por dia. Os fotógrafos utilizam teleobjetivas - lentes de grande distância focal - para fotografar as pessoas infectadas e mantêm oito metros de distância nas entrevistas, realizadas aos gritos", relata.

"É possível trabalhar nessas regiões para cobrir esses temas. É difícil, mas é possível fazê-lo sem perigo", afirmou.

"Para a gravação de tomadas de áudio, utilizamos um microfone com cabo longo para evitar contato", explica Yves Rocle, diretor adjunto para o continente africano da Radio França Internacional.

"Entrevistei doentes a dois metros de distância, o necessário para que projeções de saliva não me alcançassem", explica Claire Hédon, da RFI. Mas, em alguns casos, os jornalistas relaxavam: "Honestamente, às vezes baixávamos a guarda. Sim, é verdade que no final dávamos apertos de mãos".

Uma volta difícil para casa

O retorno do repórter pode ser complicado, pois alguns amigos temem se aproximar daqueles que estiveram em áreas infectadas pelo vírus. Mencionar no Facebook que você está de volta de uma reportagem na África pode afugentar as pessoas no retorno real.

"Ao voltar, você deve checar sua temperatura durante 21 dias - período de incubação - e se preocupar diante do menor alerta. A vida social se reduz ao mínimo: tem gente que se nega a acompanhar uma pessoa, mesmo que ela não apresente sintomas. A ignorância sobre o vírus é tão grande na Europa quanto na África", diz Guillaume Lhotellier, que esteve em Guiné pela produtora Elephant.

"Dizem que na África há um medo irracional, mas nós somos iguais", afirma Elise Menand, da France Télévisions, de volta da Libéria.

Na BBC, existem maquiadores que têm medo de atender convidados que estiveram na Guiné, relata a apresentadora Fiona Bruce, segundo o jornal britânico The Telegraph.

"Mas temos uma responsabilidade. Nós, que estivemos em território infectado, podemos trazer a doença para nossas casas". Por isso, temos que proteger a nós mesmos e aos outros. É preciso respeitar os temores de parentes", comenta Florian Plaucheur, da AFPTV, de volta de Serra Leoa.

Os grandes veículos de comunicação estão divididos diante da ideia de submeter os repórteres que voltam da África a uma quarentena sistemática de 21 dias, mesmo que não apresentem sintomas.

A AFP e a BBC se negam a seguir esse procedimento. "Demos orientações de proteção rígidas a nossos enviados especiais. Eles as aplicaram. Não representam um risco na volta para casa. As pessoas na redação ficaram muito preocupadas, mas autorizamos a volta dos jornalistas ao escritório depois do período de descanso. Não há motivo para impormos uma quarentena quando, na realidade, não representam perigo algum", declarou Michèle Léridon, diretora de informação da AFP.

Na BBC, "não há quarentena e as pessoas que não apresentam sintomas podem transitar por nossas salas", explicou um porta-voz da empresa.

Já a AP exige que seus enviados permaneçam três semanas em casa, explica John Daniszewski. "Sim, é preciso que sejam isolados. Alguém que não apresenta sintomas não é contagioso, mas queremos evitar qualquer risco".

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