Genebra - O surto do ebola é a "emergência de saúde mais severa e aguda visto nos tempos modernos" e o vírus apenas se transformou em uma ameaça mundial por conta da pobreza.
O alerta é da Organização Mundial da Saúde (OMS), que reconhece que o mundo "não está preparado" para lidar com emergências sanitárias internacionais e adverte que a proliferação de casos é resultado das desigualdades sociais no planeta.
Oficialmente, a doença já matou cerca de 4 mil pessoas no oeste da África. Mas a própria ONU admite que os números reais podem ser duas vezes maiores, já que muitos sequer se apresentam aos centros de saúde.
"O mundo não está preparado para responder à uma emergência sanitária pública que seja sustentável, ameaçadora e severa", indicou Margaret Chan, diretora da OMS.
"Em minha longa carreira, eu nunca vi uma epidemia que gerasse tanto terror. Nunca vi um evento sanitário que ameaçasse tanto a sobrevivência de sociedades e governos em países já pobres", declarou Chan, que aponta que o número de casos continua a aumentar de forma "exponencial".
"Eu nunca vi uma doença contribuir de forma tão forte para o fracasso potencial de um estado."
Para ela, porém, a proliferação da doença é resultado da desigualdade social. "Estamos fazendo esse alerta há décadas. Mas ninguém nos escuta", atacou.
"O surto mostra os perigos das desigualdades sociais e econômicas cada vez maiores no mundo. Os mais ricos têm o melhor atendimento. Os pobres são abandonados à morte", disse.
Chan deixou claro que essa desigualdade, hoje, é o que coloca o mundo sob ameaça do ebola. "Quando um vírus mortal atinge os destituídos e sai de controle, o mundo inteiro é colocado sob risco", afirmou.
Segundo ela, o resultado do abandono do setor de saúde é que uma doença pode "levar um país a ficar de joelhos".
"Em termos muito simples, o surto mostra como uma doença mortal no mundo pode explorar as fraquezas de uma infraestrutura de saúde, seja por causa da falta de médicos ou locais de isolamento pelos países da África", indicou Chan.
"Um sistema de saúde que não funciona significa que a resistência de uma população é zero", alertou. "Não há como construir um sistema durante a crise. Eles entram em colapso", insistiu.
A OMS ainda atacou a falta de financiamento do mundo rico para remédios que possam curar problemas do mundo pobre.
"O ebola surgiu há 40 anos. Mas por que os médicos ainda não têm nada para tratar dos pacientes?", questionou. "Isso acontece por que, historicamente, a doença tem se limitado às nações mais pobres da África", acusou.
"Os incentivos para pesquisa e desenvolvimento são virtualmente inexistentes", disse. "Uma indústria que só pensa em lucros não investe em produtos para mercados que não podem pagar por eles."
Colapso
A OMS pediu que governos não deixem de dar atenção às demais doenças, sob o risco de ver casos de vírus que haviam desaparecidos reflorescer diante da falta de investimentos.
Na África, a OMS já alertou que registrou uma alta no número de mortes por doenças como malária, tuberculose e aids desde a eclosão do surto do ebola. "Sabemos que já existe um maior número de mortos de outras doenças", admitiu Chan.
Em setembro, a ONU fez um apelo aos líderes dos países mais afetados que criassem centros especializados em ebola para atender os pacientes, justamente para não afetar o sistema de saúde já fragilizado.
Nesta segunda-feira, 13, os médicos e enfermeiras da Libéria entraram em greve, exigindo do governo maiores salários diante do risco que estão correndo ao tratar diariamente de dezenas de casos de ebola, sem proteção adequada.
Medo
Para Chan, porém, o impacto econômico pode ser reduzido se as populações forem informadas sobre o vírus, evitando "medidas irracionais".
Citando dados do Banco Mundial, Chan apontou que 90% do custo de qualquer epidemia "vem de esforços irracionais e desorganizados por parte da população para evitar a infecção".
"A OMS está ciente de que o medo do vírus tem se espalhado pelo mundo muito mais rápido que o próprio vírus", indicou. "Estamos vendo agora como esse vírus pode afetar economias e sociedades em todo o mundo."
Para Chan, educar as populações sobre os riscos e comportamentos é "uma estratégia de defesa muito boa" e ajudaria governos a evitar o colapsos de suas economias.
Outro esforço da ONU tem sido o de convencer empresas aéreas e de transporte marítimo a não isolar os países afetados, sob o risco de ver essas economias entrarem em colapso.
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1. O que é ebola?
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1/13 (Tommy Trenchard/Reuters)
São Paulo -
Ebola é uma
doença viral aguda que causa febre hemorrágica. É causada por três das cinco espécies dentro do gênero. Duas espécies são capazes de infectar seres humanos, mas não parecem causar a doença. Os outros três podem causar graus variáveis de doença. O vírus Ebola Zaire é a estirpe mais mortal, e tem sido identificada como a causa do surto atual. Em epidemias anteriores, esta estirpe teve uma taxa de mortalidade de 90%.
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2. A origem
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2/13 (Frederick Murphy/CDC/Handout via Reuters)
A origem do vírus é incerta. Mas alguns especialistas acreditam que os morcegos podem abrigar o vírus em seu trato intestinal. Os primeiros seres humanos infectados e que espalharam a doença provavelmente caçaram e comeram um animal infectado.
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3. A epidemia atual
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3/13 (Tommy Trenchard/Reuters)
Este já é considerado o maior surto desde que o vírus ebola foi descoberto há quase 40 anos. O surto foi declarado em março, na Guiné. Desde então, a doença se espalhou para a Libéria, Serra Leoa e Nigéria e matou 60% dos infectados. São 1323 pessoas infectadas e 887 mortes, segundo o último balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS). Cerca de 60 mortes foram de trabalhadores de saúde que procuravam controlar a doença.
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4. Os sintomas
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4/13 (AFP)
Após o contágio, o paciente pode demorar até 21 dias antes de manifestar a doença. Os sinais são semelhantes aos da gripe, incluindo dores abdominais, febre, vômitos e diarreia. O quadro se agrava com a desidratação, insuficiência do fígado e dos rins, e hemorragia.
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5. Transmissão
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5/13 (Ahmed Jallanzo/Agência Lusa/Agência Brasil)
O vírus é transmitido diretamente pelo contato direto com sangue ou fluidos corporais dos infectados, inclusive dos mortos. O contágio é maior quando os pacientes já estão em estágios terminais, com hemorragia interna e externa, vômitos e diarreia, que contêm altas concentrações do vírus.
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6. O tratamento
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6/13 (Cellou Binani/AFP)
Não há um remédio específico para a doença. Os sintomas costumam ser tratados separadamente. Por exemplo, o soro intravenoso pode evitar a desidratação, enquanto um antitérmico diminui a febre. Já os analgésicos podem diminuir as dores. Aqueles que têm a doença identificada e recebem tratamento mais cedo têm mais chances de sobreviver à infecção. Infelizmente, como os sintomas são genéricos e parecidos com de outras doenças, o diagnóstico pode demorar.
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7. Como se proteger
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7/13 (AFP)
A melhor forma de se proteger da doença é evitar os locais onde há surto de ebola. Entre as recomendações do ministro da Saúde, Arthur Chioro, para quem tiver de viajar para estes países estão, por exemplo, seguir recomendações que serão dadas pelas autoridades sanitárias locais. Chioro aconselha os viajantes a não entrar em contato com secreções, vômitos e sangue das pessoas que são vítimas das doenças, que devem estar em isolamento e tratamento médico.
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8. Epidemia global
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8/13 (Tommy Trenchard / Reuters)
O risco de o vírus ser disseminado da África para a Europa, Ásia ou para as Américas é extremamente baixo, de acordo com especialistas em doenças infecciosas. O professor belga Peter Piot, um dos descobridores do vírus ebola, descartou uma epidemia fora do continente africano, em entrevista à AFP. Mesmo que um portador do ebola viaje até Europa, Estados Unidos ou outra região da África, o cientista não acredita que isto possa causar uma epidemia importante, pois a infecção requer um contato muito próximo. Mas Piot pediu que as vacinas e os tratamentos, promissores nos animais, sejam testados em humanos.
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9. Vacina experimental
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9/13 (sxc.hu)
Pesquisadores americanos planejam testar, em breve, uma vacina experimental contra o ebola. Se bem sucedida, poderá imunizar até 2015 trabalhadores de saúde, que estão na linha de fogo da epidemia. No próximo mês, os Institutos Nacionais da Saúde dos Estados Unidos começarão os testes em humanos da vacina, que já é promissora nas experiências em macacos.
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10. Fronteiras fechadas
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10/13 (Gary Cameron/Reuters)
Guiné, Libéria e Serra Leoa anunciaram na sexta-feira (2) que vão colocar em quarentena a região fronteiriça comum, onde surgiu o último surto do vírus ebola. O anúncio foi feito durante uma reunião de emergência para discutir a epidemia e depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertar que o ebola pode provocar uma perda catastrófica de vidas e prejuízos econômicos, caso a epidemia não seja controlada.
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11. Não há mercado para a vacina
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11/13 (AFP)
Segundo a AFP, até agora não se conseguiu convencer as companhias farmacêuticas a investir em uma vacina contra o ebola. Andrea Marzi e Heinz Feldmann, do instituto de virologia NIAID, disseram em artigo publicado em abril que, com surtos esporádicos que costumam afetar um pequeno número de pessoas na África, não existe um mercado comercial para uma vacina contra a doença.
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12. Medicação
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12/13 (Samaritans Purse/Divulgação via Reuters)
Herve Raoul, especialista em patógenos e pesquisador do Instituto Médico Francês de Saúde, disse à AFP que o ideal é desenvolver um antiviral que ajude os doentes a superar a fase mais aguda da doença. No entanto, essa medicação não existe hoje. Atualmente, os especialistas só podem aconselhar medidas preventivas, como isolar os infectados, tomar precauções para evitar o contato com fluidos corporais e enterrar os mortos com rapidez.
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13. Agora veja 10 países onde respirar faz mal à saúde
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13/13 (Reuters)