A comissária europeia para Mudança Climática, Connie Hedegaard, afirmou que o documento não é aceitável pela União Europeia, e se mostrou satisfeita porque houve uma 'reação generalizada' (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 9 de dezembro de 2011 às 17h56.
Durban - As negociações sobre mudança climática em Durban (África do Sul) entraram nesta sexta-feira em uma fase crítica, com uma fraca minuta de acordo sobre a mesa que só satisfaz os EUA e provocou reações iradas da maioria dos países.
A minuta prevê para 'depois' de 2020 a entrada em vigor de um 'marco legal' aplicável a todos dentro da Convenção da ONU sobre Mudança Climática, uma data que tanto os cientistas como as nações mais vulneráveis consideram tardia demais para evitar um aquecimento global irremediável para o final do século.
A comissária europeia para Mudança Climática, Connie Hedegaard, afirmou que o documento apresentado pela Presidência da 17ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-17), na África do Sul, não é aceitável pela União Europeia (UE), e se mostrou satisfeita porque houve uma 'reação generalizada'.
A UE, apoiada por 120 países africanos, os Estados insulanos mais ameaçados do Pacífico e do Caribe e os países menos desenvolvidos, exige um acordo global juridicamente 'vinculativo' de corte de emissões que entre em vigor daqui a 2020, em troca de se somar em Durban a um segundo período de compromisso do Protocolo de Kioto, que expira em 2012.
'Vamos trabalhar por um documento melhor, e deveremos nos reunir de novo esta mesma noite', disse à agência Efe Connie, ao término da reunião de ministros que estudou o primeiro minuta de decisão entregue pela Presidência.
A ONG Oxfam qualificou de 'carente de ambição' o texto e advertiu que põe em perigo as conversas que há duas semanas são realizados em Durban.
Oxfam ressaltou a preocupação que a proposta sobre a mesa 'leve a um aquecimento de quatro graus e a um impacto catastrófico sobre o clima'.
Segundo membros da delegação europeia presentes na reunião, só EUA, Canadá e Austrália destacaram os aspectos positivos do texto, que inclusive foi criticado pela Índia como pouco ambicioso.
Os cientistas deixaram claro que, se não for reduzida estas emissões de dióxido de carbono e outros gases do efeito estufa à atmosfera em 50% daqui a 2050, a Terra se aquecerá acima dos 2 graus centígrados considerados críticos para a humanidade.
Embora as reduções prometidas sob o Protocolo de Kioto só representem 15% do total mundial, o acordo se extinguiria no final do próximo ano sem a adesão da UE a um segundo período de compromisso.
Rússia, Canadá e Japão anunciaram que não assinarão um segundo Kioto, o único tratado vigente sobre corte de emissões, ratificado por 37 nações industrializadas, mas não pelos EUA, e que expira em 2012.
'É um texto enormemente descompensado, mas a Presidência sul-africana da cúpula disse que é o esforço máximo que podem oferecer EUA, China e Índia', disse sobre a proposta sul-africana a secretária de Estado espanhola de Mudança Climática interina, Teresa Ribera.
'A UE quer um acordo em Durban, mas não a qualquer preço', declarou por sua vez o enviado do Parlamento Europeu à cúpula, o alemão Jo Leinen, que considerou que 'o sucesso ou o fracasso (da cúpula) está agora nas mãos dos EUA, China e Índia'.
China e EUA, os dois principais emissores de gases do efeito estufa, evitaram nestas duas semanas de negociações em Durban apoiar qualquer acordo vinculativo sobre redução da poluição, uma postura compartilhada pela Índia, que reivindica seu direito a desenvolver sua economia.
À tensão na sala de reuniões se uniu a existente nos corredores, onde cerca de uma centena de barulhentos membros de organizações ambientalistas se manifestaram em frente ao salão plenário, rodeados de policiais.
Tudo aponta para que as negociações se prolonguem durante a madrugada até sábado, enquanto a Presidência da COP17 elabora uma nova minuta e os ministros ganham tempo para finalizar suas posturas e voltar à mesa de negociação.