Mundo

Duque é eleito presidente da Colômbia e quer "correção" do acordo de paz

Duque obteve 53,98% dos votos, derrotando com boa margem o ex-guerrilheiro Gustavo Petro, 41,81%. A abstenção foi de 48%, alinhada à média histórica de 50%

Duque: ex-senador quer que os líderes rebeldes culpados por crimes atrozes cumpram um mínimo de pena e fiquem impedidos de ocupar as dez cadeiras reservadas às Farc no Congresso (Andres Stapff/Reuters)

Duque: ex-senador quer que os líderes rebeldes culpados por crimes atrozes cumpram um mínimo de pena e fiquem impedidos de ocupar as dez cadeiras reservadas às Farc no Congresso (Andres Stapff/Reuters)

A

AFP

Publicado em 18 de junho de 2018 às 07h43.

Bogotá - O direitista Iván Duque foi eleito neste domingo presidente da Colômbia ao derrotar o ex-guerrilheiro Gustavo Petro, e já anunciou que fará revisões no histórico acordo de paz firmado com a guerrilha das Farc.

Em seu primeiro discurso como presidente eleito, Duque revelou que realizará "correções" no acordo de paz que desarmou e transformou em partido a guerrilha das Farc, promovido por seu antecessor, Juan Manuel Santos.

"Esta paz saudosa, que pede correções, terá correções para que as vítimas sejam o centro do processo para garantir verdade, justiça e reparação", declarou Duque.

"Não existe em minha mente ou em meu coração (o sentimento de) represália, trata-se de olhar para o futuro pelo bem de todos os colombianos", disse Duque, garantindo que realizará o "sonho" das bases guerrilheiras de desmobilização e reincorporação à sociedade civil.

"Esta eleição é a oportunidade que esperávamos para virar a página da polarização, a página das ofensas (...) e não reconheço inimigos na Colômbia, não vou governar com ódios".

Diante do anúncio de "correções" no processo de paz, as Farc declararam que "é necessário que se tenha sensatez". "O que o país demanda é uma paz integral, que nos conduza à esperada reconciliação".

"Burlar este propósito não pode ser um plano de governo (...) e apenas conseguirá levar a Nação a um novo ciclo de múltiplas violências", destacou a antiga guerrilha em um comunicado.

"Respeitamos suas opiniões, por isto solicitamos uma reunião para escutar o que ele quer dizer quando fala em correções", declarou o líder das Farc, Rodrigo Londoño ("Timochenko"), em entrevista coletiva em Bogotá.

Duque obteve 53,98% dos votos, derrotando com boa margem o ex-guerrilheiro Gustavo Petro, 41,81%. A abstenção foi de 48%, alinhada à média histórica de 50%.

Duque, 41 anos, que assumirá no dia 7 de agosto, será o presidente mais jovem da Colômbia desde 1872 e o mais votado da história do país, passando de dez milhões de votos.

Salvar o acordo

Petro, 58 anos, um ex-guerrilheiro do dissolvido grupo M-19, se apressou em defender o acordo com as Farc ao admitir sua derrota: "Duque, aceitamos sua vitória, você é o presidente da Colômbia. Hoje somos oposição a este governo (...) e nosso papel não será ficar impotente vendo como se destrói" o tratado de paz.

"Nosso papel será impedir que este movimento se desmobilize. Voltar ao Senado para representar o povo". "Os oito milhões de colombianos e colombianas (que votaram em Petro) não vão permitir que retrocedam a Colômbia para a guerra", declarou Petro.

O prolongado conflito com as guerrilhas havia adiado por décadas o tradicional duelo entre direita e esquerda na quarta economia da América Latina.

Apesar de ter evitado 3 mil mortes no ano passado, o acordo com as Farc dividiu profundamente uma sociedade anestesiada por mais de meio século de violência.

Herdeiro político do ex-presidente Álvaro Uribe, Duque prometeu durante a campanha modificar o acordo de paz de 2016 para impedir que os rebeldes que já entregaram as armas e estão envolvidos em crimes atrozes possam atuar na política sem antes cumprir um mínimo de tempo na prisão.

O ex-senador quer que os líderes rebeldes culpados por crimes atrozes cumpram um mínimo de pena e fiquem impedidos de ocupar as dez cadeiras reservadas às Farc no Congresso.

Quero "cimentar a cultura da legalidade, onde se diga ao criminoso que aqui se faz e aqui se paga", declarou Duque ao votar neste domingo.

Além de revisar o acordo, Duque pretende reduzir os impostos sobre as empresas e liderar a pressão internacional contra o governo de Nicolás Maduro na Venezuela.

Em sua manobra à direita Duque contará com a maioria no Congresso e com o apoio da elite política e empresarial.

Impacto regional

A questão da emigração em massa a partir da Venezuela foi um dos tópicos da campanha e poderá servir de prelúdio para Duque promover uma reorganização política na região.

A esquerda olhava atenta para a Colômbia após as derrotas na Argentina e no Chile, enquanto México e Brasil observavam o movimento de pêndulo político colombiano, visando às suas eleições em julho e outubro, respectivamente.

Duque tem experiência política de quatro anos e embora tenha se destacado no Senado, chegou ao Parlamento por uma lista fechada liderada por Uribe.

"Nada é dele, tudo foi alavancado pelo capital político que o ex-presidente Uribe tem", garantiu Fabián Acuña, cientista político da Universidade Javeriana.

Em um país de 49 milhões de habitantes, com 27% de pobreza e o maior produtor mundial de cocaína, Petro defendia uma série de reformas destinadas a "aprofundar a paz", que ele apoiava de modo irrestrito.

Suas propostas de tributação de latifúndios improdutivos, migração para uma economia menos dependente do petróleo e do carvão, empoderamento dos camponeses e críticas às políticas antidrogas atuais preocupavam as elites.

Acompanhe tudo sobre:ColômbiaEleiçõesFarc

Mais de Mundo

O que se sabe sobre o novo míssil balístico russo Oreshnik, usado em ataque na Ucrânia

Rússia notificou EUA sobre lançamento de novo míssil com 30 minutos de antecedência

Biden chama mandado de prisão para Netanyahu e Gallant de “ultrajante”

Trump escolhe ex-procuradora-geral da Flórida como secretária de Justiça