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Duque assume presidência com desafio de manter paz na Colômbia

Acordo assinado com as Farc para encerrar meio século de conflito armado interno é o principal feito de Santos, antecessor do novo presidente da Colômbia

Iván Duque: novo líder terá que decidir se continua com as negociações com o ELN (Nacho Doce/Reuters)

Iván Duque: novo líder terá que decidir se continua com as negociações com o ELN (Nacho Doce/Reuters)

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EFE

Publicado em 3 de agosto de 2018 às 20h35.

Última atualização em 3 de agosto de 2018 às 20h39.

Bogotá - Manter flutuando em mar dificuldades o "barco da paz", termo usado por Juan Manuel Santos para definir seu principal legado de governo, é o principal desafio de Iván Duque, presidente eleito da Colômbia, quando assumir o poder.

O acordo assinado em novembro de 2016 com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) para encerrar meio século de conflito armado interno é o principal feito de Santos, mas a aplicação do pacto tem sido muito complexa.

O crescente número de dissidentes, o assassinato de ex-guerrilheiros e as diferenças internas dentro das Farc, que se tornaram um partido político, formam um cenário pouco encorajador.

O Centro Democrático, partido de Duque, liderou a campanha para rejeitar o primeiro acordo com as Farc em um plebiscito. O novo presidente já antecipou sua intenção de fazer "correções" no pacto firmado posteriormente, uma medida que é vista com receio por uma parte do país e pela comunidade internacional.

"Não se trata de fazer emendas ao acordo, mas de corrigir as coisas que estão indo mal, como o crescimento exponencial dos cultivos ilícitos", ressaltou o presidente eleito.

No último dia 20 de julho, no Congresso, Santos enviou uma mensagem aos parlamentares e ao sucessor sobre o acordo.

"Cuidem da paz que está nascendo! Defendam-na! Lutem por ela! Porque é o bem mais valioso que qualquer nação pode ter", afirmou.

A ONU, que teve um papel fundamental na implementação do acordo, também pediu a Duque para preservar a paz em uma sessão do Conselho de Segurança no último dia 26.

O enviado da ONU para a Colômbia, Jean Arnault, alertou que, independentemente das modificações que Duque possa fazer no acordo, é "essencial" cumprir as garantias dadas aos guerrilheiros.

Uma das principais críticas recebida por Santos por parte das Farc é o descumprimento do pacto. Para alguns especialistas, isso motivou o ressurgimento de pelo menos 29 grupos dissidentes no país.

O líder das Farc, Rodrigo Londoño, chegou a afirmar que os combatentes que se desmobilizaram foram "abandonados" pelo governo.

Para ele, é preocupante que falte aos mais de 7 mil ex-guerrilheiros garantias de segurança, que não haja clareza sobre os processos judiciais que eles enfrentam e que a reincorporação dos integrantes das Farc à vida civil seja tortuosa e demorada.

O assassinato de mais de 50 ex-guerrilheiros também aumenta o risco de que muitos que deixaram as armas voltem a empulhá-lhas para algumas das frentes dissidentes, que já têm cerca de 1.500 membros, ou entrem para o Exército de Liberdade Nacional (ELN).

Não menos grave é a decisão do vice-líder das Farc, Iván Márquez, de não assumir a cadeira no Senado para o qual foi eleito e de se unir a outros ex-guerrilheiros na zona rural de Miravalle, no departamento de Caquetá, no sul do país, alegando falta de garantias de segurança, o que pode levar uma divisão na cúpula da guerrilha.

Um problema maiúsculo que herdará Duque é a extradição aos Estados Unidos de Jesús Santrich, outro líder das Farc, preso no último dia 9 de abril em Bogotá após ser acusado de narcotráfico. A prisão o impediu de assumir sua vaga na Câmara de Representantes.

Santos se empenhou também em conseguir um acordo de paz com o ELN, a segunda maior guerrilha do país, e em tentar levar à Justiça várias das quadrilhas colombianas, dedicadas principalmente ao narcotráfico, a extorsão e a mineração ilegal. No entanto, nenhum dos dois processos avançou.

Duque terá que decidir se continua com as negociações e ainda terá que encarar o problema dos assassinatos de ativistas, uma questão para a qual a ONU pediu a ele uma "atenção especial".

Dados da Defensoria do Povo indicam que, entre 1º de janeiro de 2016 e o último dia 30 de junho, 311 líderes ou defensores de direitos humanos foram assassinados no país.

Diante da pressão internacional e mal-estar gerado dentro do próprio país, Duque afirmou que todos os crimes contra os compatriotas são dolorosas.

A partir do próximo dia 7 de agosto, Duque terá que lidar com todas as essas situações e decidir se mantém ou não o "barco da paz" de Santos flutuando.

 

 

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