Ataque em mesquita na Líbia: os atacantes explodiram dois carros em um intervalo de 30 minutos (Esam Omran Al-Fetori/Reuters)
AFP
Publicado em 24 de janeiro de 2018 às 22h12.
Pelo menos 37 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas em um duplo atentado com carro-bomba frente a uma mesquita de Benghazi, a segunda maior cidade líbia, frequentada por rebeldes extremistas, indicaram relatórios médicos nesta quarta-feira (24).
O ataque, que não foi reivindicado, ocorreu após a oração da tarde de terça-feira no centro desta cidade do leste do país, minada pela insegurança e rivalidades políticas desde a queda do regime de Muammar Khaddafi em 2011, após uma revolta popular apoiada pela Otan.
Benghazi vivia em relativa calma desde que o marechal Khalifa Haftar anunciou a "libertação" da cidade dos jihadistas em julho de 2017.
Os atacantes explodiram dois carros em um intervalo de 30 minutos em frente a uma mesquita no bairro de Al-Sleimani, de acordo com autoridades da segurança.
Alguns socorristas e policiais que foram ao local do incidente morreram na segunda explosão.
Ninguém reclamou a autoria do ataque, mas a mesquita é considerada uma base para grupos salafistas que combatem os extremistas ao lado das forças de Haftar.
Várias pessoas se reuniram em frente à mesquita nesta quarta-feira.
As forças de segurança divulgaram um balanço a partir de informes de hospitais dando conta de 37 mortos, inclusive cidadãos egípcios e sudaneses, e 90 feridos.
Um agente de segurança das forças de Haftar está entre os mortos, disse o porta-voz da armada, Milud al Zwei.
Depoimentos indicam que para se vingar dos ataques, o comandante Mahmud al Werfalli, das filas de Haftar e procurado pela Corte Penal Internacional, executou supostos extremistas detidos no local dos atentados.
Werfalli é acusado por internacionalmente de executar ou ordenar o assassinato de pelo menos 33 pessoas em 2016 e 2017.
Haftar, que apoia o governo estabelecido no leste do país, decretou três dias de luto após o ataque.
O Governo de Unidade Nacional (GNA), apoiado pela ONU e com sede na capital Trípoli, conseguiu impor sua autoridades apenas no oeste do país.
O GNA considerou o ataque um "ato terrorista e covarde".
A missão de apoio da ONU na Líbia, a UNSMIL, lamentou os atentados "horríveis" e advertiu que os "ataques diretos e indiscriminados contra civis [...] constituem crimes de guerra".
A União Europeia alertou que ataques como esse "ameaçam ainda mais, em um ambiente já frágil, o trabalhado realizado para restaurar a segurança, a estabilidade e o império da lei".
Os esforços da ONU para reconciliar os dois governos antagônicos não renderam resultados até o momento.
No final de dezembro, Haftar disse que apoiaria eleições em 2018 para retirar o país do caos, mas sugeriu que poderia agir se os esforços destinados a "uma transição pacífica de poder através de eleições livres e democráticas fossem esgotados".
Os oponentes de Haftar acusam-no de tentar tomar o poder e estabelecer uma ditadura militar, enquanto seus partidários pedem que governe por "mandato popular".
O enviado da ONU, Ghassan Salame, apresentou em setembro ao Conselho de Segurança um plano para eleições presidenciais e parlamentares este ano, mas os analistas estão céticos sobre a probabilidade de serem realizadas.
O persistente conflito no país tem prejudicado os esforços para restaurar a economia desse produtor de petróleo do norte da África e se tornou terreno fértil para extremistas e traficantes de seres humanos.
O grupo Estado Islâmico mantém uma presença significativa e controlou a cidade de Sirte desde o final de 2014 até o final de 2016, quando foi expulso pelas forças favoráveis ao GNA.