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Drogas, sequestro e barbárie: o inferno no coração de Bogotá

No centro da cidade, policiais tiveram que agir como em uma região de conflito no Iraque


	Bogotá, na Colômbia: no centro da cidade, policiais tiveram que agir como em uma região de conflito no Iraque
 (David Garzon/Stock.Xchng)

Bogotá, na Colômbia: no centro da cidade, policiais tiveram que agir como em uma região de conflito no Iraque (David Garzon/Stock.Xchng)

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Da Redação

Publicado em 4 de junho de 2016 às 08h25.

São Paulo - A apenas algumas quadras da presidência da Colômbia se estendia até o sábado passado um território sem lei onde imperava a barbárie imposta por temíveis quadrilhas dedicadas à venda de drogas e que cometiam desde sequestros até esquartejamentos, entre outros crimes.

Conforme as investigações avançam e se conhecem as histórias do que ocorria há anos no "El Bronx", como ficaram conhecidas duas ruas em forma de "L" localizadas no centro de Bogotá, muito próximas também da sede da Polícia Metropolitana, os colombianos temem o "inferno" que o local tinha se transformado.

Nessas duas ruas, repletas de bandeiras penduradas de lado a lado da via como uma cidade em festa, o governo colombiano não existia. As quadrilhas tinham imposto sua própria lei e implantaram o terror.

Para poder entrar nesse espaço de 500 metros quadrados, 2.500 soldados e policiais tiveram que realizar uma operação como se estivessem em uma região de conflito no Iraque.

Protegidos por escudos e em formação de combate, eles entraram no "El Bronx", onde foram recebidos a tiros, apesar da chegada surpresa das forças de segurança.

"Isso não é uma operação contra os moradores de rua, mas contra as organizações criminosas. Não vamos permitir que as organizações criminosas ergam uma ilha, uma república independente na metade da cidade", disse o prefeito de Bogotá, Enrique Peñalosa.

A missão não foi fácil. As autoridades tiveram que trazer policiais de outras cidades diante dos indícios de que os agentes de Bogotá estavam recebendo propina das quadrilhas do "El Bronx" e poderiam informar os criminosos sobre a operação.

Assim que o controle da região foi recuperado, o caos se instalou. Lá, os chamados "sayayines", assassinos de aluguel das quadrilhas, atuavam como milicianos com a maior crueldade. Se alguém praticava um furto ou brigava, em um local onde o consumo de álcool e drogas é frequente, tinha que se entender com eles.

Sem nenhum temor, os milicianos levavam os infratores a casas da região e iniciavam uma sessão de horror, com surras e torturas. Para finalizar, os delinquentes eram esquartejados ou entregues vivos a cachorros ferozes que os devoravam.

Os detalhes das atrocidades foram dados pelas autoridades, que assistiram horas de gravações nas quais se vê a atuação dos milicianos. Em alguns momentos, é possível ver também a prática de rituais satânicos e de magia negra.

Em um dos vídeos divulgados, um jovem é levado à força por ter roubado um pouco de pão. A polícia reconhece que não sabe o paradeiro da vítima e que também não encontrou seus restos mortais.

Desse modo, os criminosos mantinham uma autoridade incontestável sobre centenas de indigentes viciados da região.

O sequestro era outra das marcas de uma região da qual foram retiradas toneladas de lixo, ratos e outros animais.

Quando os agentes invadiram o gueto, encontraram um homem preso, escondido atrás de uma falsa parede, porque ele foi confundido como um "sapo" (delator) ao tentar comprar droga.

Outras histórias impactantes foram surgindo ao longo das investigações sobre "El Bronx", como o caso de um cidadão holandês que, após ficar sem dinheiro para pagar as substâncias que consumiu, acabou sendo detido da mesma maneira que o "sapo".

Ele conseguiu escapar por um telhado, onde foi resgatado pelos agentes, enquanto era perseguido por dois "sayayines" armados.

As quadrilhas também escravizavam crianças, formando redes de prostituição e submetendo os menores de idade a abusos contínuos, pelos quais eles recebiam uma pequena gratificação, que era convertida em bebidas e drogas.

Dessa forma, eles entravam um ciclo vicioso do qual poucos conseguiram sair. Quem conseguiu abandonar a região contou com a obstinação de parentes que se arriscavam pelas ruas do "El Bronx".

Após a operação policial, cerca de cem menores foram resgatados e devolvidos às suas famílias.

Agora Bogotá enfrenta outro desafio. Mais de 500 indigentes saíram de "El Bronx", a maior parte deles viciados, que agora perambulam pelas ruas da cidade em busca de um local para viver, enquanto sofrem com a abstinência. 

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