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Donetsk sofre com fome e escassez de recursos após conflito

Há um mês entrou em vigor o último cessar-fogo como parte de um roteiro para a regulação do conflito

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 7 de abril de 2015 às 11h37.

Donetsk - Um ano após se rebelar contra Kiev, Donetsk vive uma frágil trégua que interrompeu confrontos armados na cidade, mas seus habitantes enfrentam agora inimigos como a fome e a escassez de recursos.

No dia 7 de abril de 2014, os separatistas pró-Rússia que ocupavam vários edifícios do governo na região proclamaram a República Popular de Donetsk, que não era reconhecida pelas novas autoridades da Ucrânia.

Pouco depois, Kiev iniciou uma operação armada para retomar o controle das regiões rebeldes e, desde então, o conflito entre o exército e as milícias pró-russas - com a ajuda de Moscou, segundo denunciam Ucrânia e Ocidente - já causou mais de 6.000 mortes.

Há um mês, após a reunião entre Ucrânia e Rússia com a mediação de Alemanha e França na cúpula de Minsk, entrou em vigor o último cessar-fogo como parte de um roteiro para a regulação do conflito.

Na capital Donetsk, as pessoas, aliviadas pelo tempo ensolarado e pelo tão aguardado silêncio, voltaram às ruas e abriram novamente as lojas, cafeterias e bares que estavam de portas fechadas há muito tempo, tentando atrair clientes com promoções.

Um mês depois, a trégua continua de pé, pelo menos oficialmente, e apesar de as armas terem sido silenciadas, a situação é muito distinta.

"Houve uma explosão", disse à Agência Efe Igor, garçom de um bar do centro, mas sem se referir à guerra, e sim aos preços.

Durante a guerra, a situação em Donetsk sempre foi estranha: lojas vazias e filas para comprar pão nos subúrbios, em forte contraste com o centro, onde eram possível encontrar frutas, peixes e álcool de todos os tipos.

Agora, as estantes vazias ou cheias com um só produto, basicamente conservas russas, e a ausência de produtos importados - incluindo os ucranianos - é uma situação mais própria de guerra do que da paz.

Há água russa, sucos russos, e quase não há leite e carne. Os preços dessa pouca variedade de produtos rapidamente aumentaram até se aproximarem aos da Rússia. Em um mês, subiram pelo menos 150% e agora é possível pagar em rublos.

O câmbio local é de uma grivna, dois rublos, porque como explicou aos jornalistas o presidente do parlamento regional, Boris Litvinov, assim é mais fácil calcular, o que favorece claramente a moeda russa.

Agora será em rublos o pagamento das pensões e dos salários dos funcionários, mas ainda não se sabe como serão conciliadas as pensões ucranianas de 2.000 grivnas (4.000 rublos) com os preços russos dos produtos.

"Minha irmã, na Rússia, tem uma pensão de 8.500 rublos, então só sobrevive graças à sua pequena fazenda. Como vou viver com 2.000 grivnas de pensão com esses preços?", diz Valentina Ivanovna.

As autoridades da República Popular de Donetsk explicam o aumento de preços com o bloqueio por parte da Ucrânia. Sobre o motivo do aumento no custo de produtos locais, como o leite "Dobrinia", Litvinov revela um segredo: não sobraram vacas em Donetsk, e o leite em pó também é necessário onde há vacas.

Muitos motoristas, entre eles os taxistas, esperavam impacientes pela mudança da grivna ao rublo, mas agora a gasolina não é apenas cara - 25 grivnas (50 rublos) o litro, em comparação aos 37 rublos na Rússia -, está praticamente escassa.

No âmbito militar, os milicianos riem ironicamente quando se fala de cessar-fogo.

"Que trégua? Não há nada disso, principalmente pela manhã. Atiram todos os dias. Venha qualquer dia de manhã e você vai ver como está a trégua. A Páscoa será divertida", disse Alexander, cuja brigada se encontra na pequena cidade de Gorlovka, perto de Donetsk.

Os combatentes têm certeza que durante a Páscoa ortodoxa, que terminará no domingo, ocorrerá um aumento do conflito. Para os refugiados que vivem nos porões do bairro Petrovski, quase não haverá mudanças.

"Sabemos que há uma trégua. Mas em tréguas anteriores nos atiraram com tanta força que as paredes tremiam. Ficamos no porão", disse Liubov, uma cidadã que quase não sai de dia para fazer suas compras.

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