Bolivianos recorrem a miniaturas na Feira Alasita para simbolizar desejos em meio à crise econômica e política (Designed by/Freepik)
Agência de notícias
Publicado em 28 de janeiro de 2025 às 10h33.
Na cidade de La Paz, os gritos de "Dólar, dólar, dólar!" ecoam pela famosa Feira Alasita, um mercado anual de miniaturas em homenagem a El Ekeko, a divindade aimará da abundância. Este ano, mais do que casas, carros ou diplomas, as miniaturas mais procuradas representam dólares, um reflexo direto da crise econômica que a Bolívia enfrenta desde 2023.
Vilma Mariaca, dona de casa de 50 anos, segurava maços de dólares em miniatura com esperança de pagar suas dívidas:
"Na Bolívia, o dólar está desaparecendo. Comprei na esperança de que tenhamos um pouco mais", afirmou. Assim como ela, milhares de bolivianos se reúnem na feira, que vai até meados de fevereiro, para comprar e abençoar miniaturas que simbolizam seus desejos para 2025.
A Bolívia encerrou 2024 com uma inflação acumulada de 9,9%, a maior em 16 anos, enquanto a moeda local, o boliviano, sofreu uma desvalorização de 40% em relação ao dólar. A escassez de dólares agravou a crise, dificultando a importação de combustíveis e outros bens essenciais.
Com a queda nas exportações de gás, principal fonte de receita do país, o governo esgotou quase todas as reservas internacionais de dólares, usadas para importar combustíveis subsidiados. A situação é agravada pela incerteza política diante das eleições presidenciais de agosto.
O presidente Luis Arce, da esquerda no poder, enfrenta divisões internas com o ex-presidente Evo Morales, que insiste em ser candidato, apesar de enfrentar um impedimento judicial.
CEO do Goldman Sachs elogia bitcoin, mas não vê ameaça para o dólar: "Ativo interessante"Para muitos, a Alasita, que significa "compre-me" em aimará, simboliza a fé e a esperança em tempos difíceis. Rosa Vito, uma artesã de 75 anos, acredita que o mercado pode trazer alívio às pessoas:
"Estamos muito tristes por causa das inclemências da vida (...). Não há dinheiro, não há trabalho. Esperamos que as pessoas tenham fé e venham, para que seus sonhos se tornem realidade", declarou, sentada em sua cadeira de rodas.
A feira está repleta de miniaturas que vão desde sacos de arroz e garrafas de óleo até pequenos barris de diesel — itens que se tornaram escassos no último ano. As miniaturas são abençoadas com incenso e orações por curandeiros locais, enquanto a população deposita sua confiança em El Ekeko para mudar a situação.
Apesar da fé e das tradições, as previsões econômicas para 2025 são preocupantes. O economista Napoleón Pacheco, professor da Universidad Mayor de San Andrés, alerta que o ano será marcado por incertezas econômicas:
"Acho que os preços continuarão aumentando, apesar da manutenção dos subsídios", explicou.
Pacheco também destacou que a Bolívia enfrenta um déficit fiscal há 12 anos consecutivos, uma tendência que será difícil de reverter.
Enquanto isso, os bolivianos seguem resistindo com esperança, fé e a tradição da Alasita, buscando forças para enfrentar os desafios de um futuro incerto.