O presidente voltou a se comunicar com os venezuelanos nesta segunda (©AFP/Arquivo / Leo Ramirez)
Da Redação
Publicado em 4 de maio de 2012 às 20h55.
Caracas - Faltando pouco mais de cinco meses para que os venezuelanos decidam quem comandará o rumo do país entre 2013 e 2019, a doença do atual presidente, Hugo Chávez, domina o panorama político da Venezuela, suscitando conjeturas e ofuscando o debate pré-eleitoral.
Chegará o presidente ao pleito como candidato do governo? As eleições serão mantidas na data prevista? São perguntas que se repetem em entrevistas coletivas e às quais o governo e o chavismo respondem várias vezes fechando fileiras ao redor de Chávez.
No entanto, a falta de informação sobre o andamento de um tratamento que está durando mais que as cinco semanas previstas pelo próprio presidente e as marés de rumores que periodicamente se formam ao redor de seu câncer mantêm a doença no centro de qualquer cenário.
''Na Venezuela o único tema é a doença de Chávez'', afirmou à Agência Efe o presidente do instituto de pesquisa Datanálisis, Luis Vicente León.
Em sua opinião, a pré-campanha - a campanha começará oficialmente no dia 1º de julho - ''não teve muito volume, porque está totalmente inundada pelas notícias sobre a situação da doença''.
''A doença ofusca o debate, não há lugar para argumentos de campanha, para programas políticos, para promessas nem para balanços de gestão. Todo o discurso está concentrado na figura do presidente tanto por parte de seus seguidores para defendê-lo como dos opositores para atacá-lo'', sustentou León.
''Isso evidentemente prejudica mais'' o candidato da oposição, Henrique Capriles, já que o atual presidente está sempre no centro das discussões.
De acordo com León, Capriles, que todas as pesquisas colocam atrás de Chávez com margens que variam entre cinco e 33 pontos, deve mudar sua estratégia, como já está fazendo, buscando agora o confronto com o presidente frente à decisão de recusar o enfrentamento para falar de ideias.
Fica a dúvida também da influência que terá a doença sobre a opinião dos venezuelanos, dado que um impacto positivo no curto prazo em termos de ''solidariedade'' poderia não valer nada se os venezuelanos pensarem que Chávez não tem condições de terminar o mandato.
Em qualquer caso, para León, no dia 7 de outubro o eleitor vai avaliar outros elementos que não têm nada a ver com a doença.
O professor da Universidade Central da Venezuela (UCV), Nícmer Evans, concorda que a doença de Chávez é ''um elemento absolutamente imponderável e, além disso, imprevisível, no sentido que, embora estejam sendo tomados todos os elementos preventivos e curativos, é uma doença traiçoeira''.
Evans destacou que o governo deve estar manejando vários ''cenários possíveis'' perante a possibilidade de Chávez chegar ou não às eleições como candidato, mas, em sua opinião, com o silêncio sobre esses possíveis cenários e sobre os detalhes da doença ''está sendo gerado algum tipo de inconveniente''.
Indicou que a doença como elemento dominador da campanha vai continuar ''se o candidato da oposição continuar na atual posição (...) de não poder debater nem incidir na agenda pública em relação a temas de interesse para o país''.
''A responsabilidade da incapacidade da Mesa da Unidade (plataforma da oposição) e de seu candidato de promover, de incentivar, de acender o pavio em relação a temas realmente transcendentes não pode ser atribuída à doença do presidente'', afirmou.
Para León é muito difícil inserir o debate político com a doença do presidente no ar.
''É como se estivéssemos em uma discoteca e o DJ aumentasse o volume a tal ponto que não fosse possível ouvir nada mais, somente a música que está tocando'', concluiu.