Um dos pedidos principais do grupo é que a transição para uma economia de baixo carbono seja liderada pelo Brasil e não se perca em "uma agenda excessivamente abrangente" (Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)
Da Redação
Publicado em 18 de abril de 2012 às 19h21.
São Paulo - Um documento preparado e divulgado nesta quarta-feira em São Paulo por diretores do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes) e pelo embaixador e ex-ministro Rubens Ricupero cobra protagonismo do Brasil nos debates da Rio+20 e a inclusão do meio ambiente na pauta da conferência.
Os organizadores da iniciativa, chamada "Rio mais ou menos 20?", criticaram a postura passiva do país até o momento e o rascunho zero do que deve ser o documento final da conferência, que acontece em junho no Rio de Janeiro. Um dos pedidos principais do grupo é que a transição para uma economia de baixo carbono seja liderada pelo Brasil e não se perca em "uma agenda excessivamente abrangente".
"O mantra do Itamaraty é dizer que o encontro é sobre desenvolvimento, e não sobre meio ambiente. Isso não quer dizer nada porque, se é sobre desenvolvimento, é sobre meio ambiente também", disse o sociólogo e diretor do Cindes, Pedro da Motta Veiga. A ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva também defendeu a relação entre os dois conceitos. "Não há como discutir a crise econômica sem discutir a crise ambiental", afirmou.
Ainda estão previstas duas reuniões preparativas - uma em Nova York e outra no Brasil - antes da Rio +20, e a expectativa é a de que o Brasil mude de postura, assumindo destaque internacional. "Ainda dá para negociar e mudar", disse Ricupero. Ele explicou que uma primeira versão do documento foi entregue ao vice-presidente da República, Michel Temer. Atualmente, os ex-ministros do Meio Ambiente estão sendo consultados sobre a proposta, que deverá ser encaminhada à presidente Dilma Rousseff.
Rubens Ricupero afirmou que a diplomacia brasileira "só tem reiterado a posição do G-77". "O anfitrião tem de ser o facilitador de consensos, não pode repetir apenas a posição de um grupo", disse. O embaixador disse ainda que o G-77 tem posições muito diluídas, porque é heterogêneo e grande demais.
O ex-deputado federal e ex-secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo Fábio Feldmann também criticou a timidez do governo brasileiro. "O país não quer desagradar ninguém, mas vai acabar desagradando todo mundo", disse. Feldmann afirmou que o Brasil deve reiterar internacionalmente a importância do evento. "Se acharem que a reunião não será importante, os chefes de Estado não virão e a sociedade civil também não virá. Eu fico surpreso que a presidente Dilma tenha estado com Barack Obama (presidente dos Estados Unidos) recentemente e nós ainda não sabemos se ele virá", disse Feldman, afirmando que pode acontecer uma reação em cadeia de ausência de chefes de Estado caso o presidente norte-americano não venha.
"Em 1992, a Presidência da República estava engajada em tornar o evento um sucesso. A aflição comum é que agora há uma batalha entre o atraso e a modernidade", disse o ex- ministro da Educação e ex-secretário do Meio Ambiente e de Ciência e Tecnologia José Goldemberg, em referência à Eco-92, que aconteceu também na capital fluminense. "Há a ideia, dentro da administração, de que uma economia de baixo carbono é muito cara e inatingível", afirmou Goldemberg. "O governo não é empresa. Se não for prestada atenção ao componente ambiental, os outros dois social e econômico não existem".
O foco dos debates no desenvolvimento econômico, e não no equilíbrio ambiental, foi criticado pela também diretora do Cindes, Sandra Rios. "Não se pode mais pensar em desenvolvimento econômico sem levar em consideração implicações ambientais", afirmou a economista. Segundo ela, a agenda de transição para uma economia de baixo carbono é vista nacionalmente como uma ameaça para a competitividade, e não como uma oportunidade.
O ex-ministro do Meio Ambiente José Carlos de Carvalho também reafirmou a importância da relação entre equilíbrio econômico e ambiental. "O uso predatório dos recursos naturais subtrai, em um processo futuro, insumos fundamentais para o desenvolvimento, sobretudo em um país que vive da exploração de recursos naturais", disse. Carvalho falou também sobre a necessidade de definição de planos de ação com metas mensuráveis para a transição para uma economia verde. "É muito difícil se engajar em um processo quando a gente fica exclusivamente no debate teórico", disse.
Pedro Veiga, do Cindes, criticou, no evento de divulgação do documento, a falta de integração entre políticas domésticas e a agenda de transição para um modelo de economia sustentável. "A agenda de política comercial não é articulada com a agenda de políticas ambientais. E não é por falta de medidas na área de políticas industriais", disse. O grupo pretende montar um site com o documento, coletar assinaturas e manter diálogo com o governo. "Esse documento não é partidário e pretende ser o mais aberto possível", disse Rubens Ricupero. O evento ocorreu na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP).